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Osmar Nickel
Thor V. M. Fajardo
Pesquisadores da Embrapa Uva e Vinho
Um grande número de agentes patogênicos transmissÃveis pela enxertia, como vírus, viroides e fitoplasmas afetam a produção e a qualidade da pera. Os danos causados por vírus vão de muito sutis e imperceptÃveis ao olho humano até a destruição total de viveiros e pomares, por declÃnio e morte das plantas.
Principais vírus da pereira
Na região Sul do Brasil, onde se concentram os plantios de pera, destacam-se os chamados vírus latentes da pereira: o vírus das caneluras do tronco (ASPV); o vírus do acanalamento do tronco (ASGV) e o vírus da mancha foliar clorótica da macieira (ACLSV). O vírus do mosaico da macieira (ApMV) também ocorre, embora com menor frequência.
Sintomas em peras
O ASPV está associado às principais doenças, ou sÃndromes, em pereiras e marmeleiros, espécie muita usada como porta-enxerto de pereiras. Sintomas comuns são: em folhas, o amarelamento das nervuras e mosqueado vermelho; em frutos, o empedramento da polpa da pera, com regiões de polpa endurecida que resistem à pressão do corte, especialmente em cultivares europeias sensÃveis, como Beurré Bosc; a mancha ferruginosa da folha e deformações do fruto do marmeleiro.
A pereira pode ser indexada na cv. ornamental Radiant crab, na qual o ASPV causa em folhas epinastia foliar, suberização (tecido é parecido com cortiça) e necrose das nervuras e manchas vermelhas no limbo foliar.
A doença da “mancha negra necrótica da folha da pereira“, embora muito semelhante a uma doença fúngica, está associada a uma estirpe de ASGV. ACLSV está associado à doença que produz manchas anelares e mosaico verde-amarelado em folhas, e manchas anelares irregulares marrons em frutos da pereira.
Importância
ASGV, ASPV, ACLSV e ApMV são responsáveis, adicionalmente, por doenças importantes em um grande número de fruteiras, como macieiras, ameixeiras, pessegueiros, marmeleiros, cerejeiras, damasqueiros, morangueiros, quivizeiros e citros.
Na Europa e América do Norte ocorrem em pereiras o declÃnio da pereira e a “proliferação da macieira“. Ao contrário das viroses, ambas doenças são causadas por microrganismos chamados fitoplasmas, cuja presença ainda não foi confirmada no Brasil.
A transmissão de fitoplasmas ocorre pela enxertia de material infectado e por vetores. Portanto, deve haver muito cuidado na introdução de material vegetativo oriundo destas regiões. Ainda não foram relatados viroides em pereiras no Brasil.
O declÃnio
DeclÃnio é uma perda de vigor e morte gradativa que ocorrem, geralmente, em decorrência do uso de material virosado na formação de mudas em combinações suscetÃveis de copas e porta-enxertos sensÃveis a vírus ou em decorrência do uso de combinações incompatÃveis de copa e porta-enxerto de pereiras.
No declÃnio causado por vírus o desenvolvimento da doença é geralmente lento, e o vigor da planta é reduzido gradualmente. Este estado pode durar anos, enquanto que infecções bacterianas e fúngicas transcorrem, em geral, rapidamente.
O pegamento da enxertia é baixo, as plantas têm pouco vigor e poucas raízes no viveiro, a folhagem é esparsa, as folhas têm menor tamanho; as plantas produzem frutos de menor calibre e há uma visÃvel redução das brotações anuais.
Compatibilidade
A maior parte das cultivares de peras europeias e asiáticas é mais ou menos incompatÃvel com a maioria dos marmeleiros. A expressão desta incompatibilidade pode ser protelada ou tardia, e os sintomas podem aparecer após uma década ou mais tempo.
Os marmeleiros BA29, EM A e Adams requerem o uso de um filtro entre a copa da pereira e o porta-enxerto do marmeleiro. Plantas de combinações incompatÃveis apresentam perda prematura da cor das folhas, declÃnio ou perda de vigor e, eventualmente, a morte lenta da planta, sintoma que pode ser confundido com uma infecção viral.
Na união de enxertia observa-se uma necrose que impede a soldadura dos tecidos da copa e do porta-enxerto, levando, às vezes, Ã quebra do tronco na união da enxertia sob efeito de pressão lateral ou ventos.