Beatriz Aguiar Jordão Paranhos
Engenheira agrônoma, doutora em Entomologia e Pesquisadora da Embrapa Semiárido – Controle Biológico de Pragas
As espécies de moscas-das-frutas mais importantes no Brasil são:
Ø Ceratitis capitata – mosca do mediterrâneo ou moscamed, espécie introduzida no Brasil predominante no Vale do São Francisco, causando prejuízos em pomares de uva, manga, goiaba, acerola e outras, nesta região que representa o maior polo de fruteiras irrigadas do país.
Ø Anastrepha fraterculus – mosca sul-americana presente nos pomares do Sul e Sudeste do Brasil, causando prejuízos em uva, maçã, pera, pêssego, ameixa e outras.
Ø Anastrepha grandis – mosca do melão, espécie que ataca melões e melancias. Regiões produtoras devem ser livres desta espécie, como Rio Grande do Norte e Ceará.
Ø Bactrocera carambolae – mosca da carambola, espécie introduzida no Brasil, está presente nos Estados do Amapá e Roraima. Sob controle pelo MAPA, para não migrarem para Estados produtores de fruteiras no Brasil.
Danos
O impacto direto das moscas-das-frutas são os danos causados às polpas dos frutos, com perdas de até 100% da produção, se não forem tomadas medidas de controle. Entretanto, o dano indireto é ainda maior, porque são pragas quarentenárias, e a maioria dos países que compra frutas frescas do Brasil impõe barreiras quarentenárias.
Esses países podem não comprar os frutos se houver a praga, ou restringir a compra de locais com populações baixas de moscas, verificadas por monitoramento obrigatório no campo e, neste caso, ainda é imposto tratamento quarentenário (hidrotérmico para manga e a frio para uvas, por exemplo) que oneram tremendamente o custo de produção.
No Vale do São Francisco, algumas fazendas produtoras de uva dizem que ocorre 25% de perda na colheita com o ataque de moscas-das-frutas, o que representa um total de perdas de receitas de R$ 43.125,00 (para uva itália) a R$ 62.500 (uva Crinsom)/ha/ano.
Condições propÃcias para o ataque
Essas pragas atacam as frutas quando elas começam a amadurecer até quando estão muito maduras. A disponibilidade de frutas hospedeiras para as fêmeas é propÃcia para elas colocarem seus ovos, assim como o clima quente.
Por isso o problema com o ataque desta praga no Vale do São Francisco é agravado, pois há várias fruteiras em pomares vizinhos, muito próximos uns dos outros, além de podas escalonadas em uvas ou indução de florescimento escalonado em mangas, para colher a cada semana, que amadurecem consecutivamente.
Então, a cada 27 dias uma nova geração carregada com mais de 700 ovos passa de pomar para pomar, durante o ano inteiro.
E agora, o que fazer?
A medida mais eficiente para prevenir o ataque desta praga é o controle cultural, com cerca de 70-80% do controle e, se não for feito, todos os outros métodos ficam comprometidos.
Apenas para entender o ciclo, as fêmeas colocam os ovos dentro da casca, as larvas eclodidas se alimentam da polpa dos frutos e no final da fase de larva, após três instares, elas saem dos frutos e empupam no solo.
Então, para interromper o ciclo da mosca os frutos não comercializados, que permanecem na planta ou caÃdos no solo, devem ser descartados em valas profundas, cobertos com uma camada mÃnima de 20 cm de solo bem compactado. Pode-se também triturá-los, para o uso em alimentação animal, ou queimá-los.
Deve-se recolher os frutos não comercializados diariamente, não deixando-os acumular, para evitar que as larvas saiam dos frutos, se transformem em pupas no solo e depois se tornem adultos, ou seja, completem o ciclo dentro do pomar.
O ensacamento de frutos no início da frutificação também pode ser feito, mas é uma prática de custo elevado e deve ser aplicada apenas quando outras alternativas não forem viáveis, ou em casos de populações muito altas da praga.
Monitoramento e armadilhas
O controle cultural deve ser realizado sempre, independente se a população da praga está alta ou não, pois é uma forma de evitar que a praga se alastre. O monitoramento é realizado distribuindo-se armadilhas nos pomares com a finalidade de definir o Ãndice de infestação, bem como a necessidade e o momento de aplicação de medidas de controle.
Ø Armadilha Jackson – é do tipo delta, confeccionada em papel parafinado de cor branca, com a base plana contendo cola adesiva na parte interna e inferior da armadilha, para a captura das moscas. É específica para machos de C. capitata, com o uso do paraferomônio Trimedlure, que deve ser substituÃdo a cada quatro ou cinco semanas.
As inspeções devem ser realizadas a cada uma ou duas semanas, quando os cartões adesivos são substituÃdos. Se o número de moscas for abaixo de 20, estas podem ser contadas no campo mesmo, retiradas do cartão e estes poderão ser reutilizados, mas acima disto devem ser levados ao laboratório para contagem mais precisa.