Solução para controlar pragas é o manejo integrado da paisagem agrícola

Fazendas vizinhas devem ser tratadas como uma única propriedade
quando se trata de controle de pragas

“Solução para controle de pragas não é o manejo integrado da cultura e sim o manejo da paisagem agrícola associado ao manejo do sistema de produção”. Essa é uma afirmação do pesquisador Sérgio Abud, da Embrapa Cerrados, também coordenador nacional da Caravana Embrapa.

Abud fez a palestra que abriu o evento Caravana Embrapa 2015, em Dourados, na quinta-feira, 3 de dezembro, que teve a participação 65 profissionais do setor produtivo. A capacitação foi direcionada a técnicos da assistência técnica pública e privada, de cooperativas, de associações,  técnicos consultores, agentes públicos de defesa sanitária e profissionais da área de educação ligados às ciências agrárias. O curso aconteceu durante todo o dia, em Chapadão do Sul, em 1º de dezembro; e em Dourados, no dia 3 de dezembro. Os assuntos foram divididos em palestra sobre Manejo Integrado de pragas com foco no agroecossistema, práticas de monitoramento de insetos (no campo), identificação de insetos nos laboratórios e campo, e debate e exercício sobre a tomada de decisão no MIP.

O pesquisador Guilherme Asmus, chefe geral da Embrapa Agropecuária Oeste, conta que a Caravana Embrapa, Fase II, de Mato Grosso do Sul foi elaborada de acordo com as demandas do setor produtivo. “Nesta fase, estamos avançando para tratar não somente uma praga em particular, mas diversas em sistemas de produção diversificados e diferentes realidades. Aqui no estado, Chapadão do Sul representa o centro-norte de Mato Grosso do Sul, e Dourados representa a realidade do centro-sul”, explica Asmus.

O pesquisador da Cerrados, Sergio Abud, em sua palestra, deixou claro que é necessário concentrar esforços para enfrentar as principais ameaças fitossanitárias e rever as práticas de manejo integrado de pragas (MIP). O manejo é em conjunto, de toda a área onde existem fazendas vizinhas, como se fossem uma única propriedade – o que é chamado de paisagem agrícola. “É preciso agregar todas as técnicas e as práticas disponíveis para enfrentarmos as pragas que já existem no sistema e não voltarmos  a estaca zero daqui a três, cinco anos”, alertou Abud, que também lembrou que os países vizinhos fazem parte da paisagem agrícola. “Por isso Dourados, Mato Grosso do Sul são estratégicos para segurança nacional, pela fronteira seca com Paraguai e Bolívia”, disse o pesquisador.

Segundo a Sociedade Brasileira de Defesa Agropecuária (SBDA), existem cerca de 150 pragas exóticas que podem chegar ao Brasil por meio das fronteiras secas. “A broca-da-haste, por exemplo, tem mais de 400 espécies diferentes que ainda não chegaram aqui no Brasil. É o modelo de gestão, levando em consideração conhecimentos como inimigos naturais, fatores climáticos, porte da planta, tamanho da área, disponibilidade de equipamentos e estádio da lavoura no entorno, é que vai contribui para que o processo de chegadas dessas pragas e das já existentes em território nacional, seja mais lento”, diz o pesquisador Abud.

Ele também fez um alerta, mais uma vez, sobre o uso indiscriminado de agroquímicos. Os produtos que existem atualmente serão os mesmos no mercado por, no mínimo, cinco anos, porque os processos químicos dos produtos são caros para a indústria renovar com frequência. “Por isso é preciso preservar a paisagem agrícola até surgir novas soluções técnicas de inseticidas.”

Segundo o pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste Crébio Ávila, um dos orientadores da capacitação, o conceito de paisagem agrícola é incipiente e precisa ser absorvido pelo setor produtivo. “É uma visão ainda nova para o produtor rural. Mas a expectativa é que esse conhecimento aumente gradativamente, principalmente com o treinamento dos agentes multiplicadores”, afirma Ávila.

O papel dos técnicos como multiplicadores também é ressaltado pelo pesquisador Auro Otsubo, chefe de transferência de tecnologia da Embrapa Agropecuária Oeste. “O público presente nesta capacitação são os que estão na ponta do processo, são multiplicadores estratégicos que farão o conhecimento e a prática chegarem ao produtor efetivamente. Para se ter uma ideia, os profissionais que passaram pelo treinamento na Caravana Embrapa em Mato Grosso do Sul, têm um alcance a mais de 1 milhão de hectares no estado”, afirma.

Realização

A organização do evento em Mato Grosso do Sul foi responsabilidade da transferência de tecnologia da Embrapa Agropecuária Oeste, com coordenação do pesquisador Márcio Ito. A organização dos temas do evento foi do pesquisador Crébio Ávila, da Unidade, e do pesquisador Sergio Abud – Abud é o coordenador da Caravana Embrapa no Brasil.