André Guarçoni M.
D.Sc. Solos e Nutrição de Plantas e pesquisador do Incaper
A cultura do morangueiro tem grande importância econômica e social para determinadas regiões do País, sendo a produtividade e a qualidade do fruto na pós-colheita influenciadas por diversos fatores de produção. Nesse sentido, a correção do solo e a adubação são práticas fundamentais para que se alcance o sucesso no plantio dessa rosácea.
Um programa de adubação deve visar à obtenção de altas produtividades de morangos de boa qualidade, mas com um custo de produção viável e com baixo risco de contaminação do ambiente.
Atualmente, o modo de aplicação de fertilizantes mais utilizado para o morangueiro é a fertirrigação por gotejamento, sobretudo quando se utiliza cobertura do solo com mulching plástico, prática altamente recomendável. Fertirrigação, nesse contexto, nada mais é do que aplicar fertilizante solúvel juntamente com a água de irrigação, via gotejo.
Apesar dos benefícios que esse tipo de fertirrigação pode trazer, especialmente em relação ao aproveitamento de água e fertilizantes e à redução na necessidade de mão de obra, pode ocorrer, por outro lado, contaminação de lençol freático e/ou salinização dos solos. Daà a necessidade de utilizar esta prática de forma criteriosa.
Dentro da técnica de fertirrigação por gotejamento, diversos manejos e produtos são utilizados de acordo com a concepção do responsável pelo programa de adubação. É muito provável que todos sejam capazes de aumentar a produtividade, mas mantê-la elevada por longo período de tempo, com produção de frutos de boa qualidade, e sem contaminação do meio, é o que mais interessa.
Muitos entendidos em fertirrigação preferem trabalhar com concentrações variáveis de diversos nutrientes na solução a ser aplicada via gotejamento. Não é errado e pode realmente apresentar bons resultados. Acontece que há, nesse caso, necessidade de extremo monitoramento, via análise de solução do solo e foliar. Se ocorrer qualquer deslize, as consequências podem ser desastrosas.
O programa de adubação mais eficiente e econômico, a meu ver, é resultado de um bom trabalho de base, fazendo correção do solo com calcário dolomÃtico e matéria orgânica, com posterior aplicação de adubo fosfatado e adubo fonte de micronutrientes, quando forem levantados os canteiros. Via fertirrigação, apenas nitrogênio (N) e potássio (K), com dose fixa por ciclo produtivo (kg/ha/ciclo de N ou de K).
Exigências nutricionais
O estado nutricional das plantas tem influência sobre o crescimento, a produtividade, a qualidade de frutos e a tolerância ao ataque de pragas e doenças. O equilíbrio entre nutrientes para o morangueiro é fundamental, uma vez que difere bastante do equilíbrio necessário para outras culturas.
Enquanto para a maioria das culturas o nitrogênio (N) é o nutriente mais absorvido, para o morangueiro isso se inverte, seguindo a ordem decrescente de absorção de macronutrientes: K > N > Ca > P > Mg > S.
O potássio (K) é o nutriente mais importante para o morangueiro, não só pela maior quantidade absorvida, mas notadamente por sua relação com o N e com o magnésio (Mg).
Tanto o K quanto o N influenciam positivamente o desenvolvimento vegetativo e a produtividade do morangueiro, sendo a resposta mais acentuada para este último nutriente. Todavia, em relação à qualidade de frutos, apenas o K apresenta efeito positivo, ao passo que o N apresenta efeito negativo, notadamente sobre o teor de sólidos solúveis totais na polpa.
Portanto, K e N devem estar adequadamente balanceados quando se faz a fertirrigação do morangueiro. Caso a concentração de N na planta seja maior do que a de K, em determinados momentos específicos do desenvolvimento haverá aumento no vigor e crescimento das plantas, menor efetividade do processo de indução floral e redução da qualidade organoléptica dos frutos.
Qualidade
Quando Malavolta dizia que o K é o “elemento da qualidade“ em nutrição de plantas, poderia estar pensando no morangueiro, dada a influência que a concentração de K tem sobre a qualidade de seus frutos.
O excesso de K, entretanto, pode reduzir a absorção de Mg, sendo a deficiência deste nutriente frequentemente observada em campo. Muitas vezes, credita-se a ocorrência da deficiência de Mg a uma elevada “exigência“ desse nutriente para a cultura, o que não deixa de ser verdade, mas este é o quinto nutriente mais absorvido pela mesma.
Dessa forma, o balanço K:Mg revela-se como de extrema importância para a cultura do morangueiro, sendo diversas vezes relegado a segundo plano. Assim, a dose de Mg é relativa à dose de K. Quanto mais K for aplicado, mais Mg deve ser também fornecido.
Para a nutrição com micronutrientes, há alguma divergência entre autores, certamente acarretada pelos distintos requerimentos entre as cultivares de morango e pela condução dos trabalhos em campo ou em solução nutritiva.
De qualquer forma, em geral pode-se apresentar a seguinte ordem decrescente de absorção como a mais adequada para o campo: Fe > Mn > B > Zn > Cu; sendo que esta apresenta boa correlação com os níveis crÃticos de micronutrientes nas folhas do morangueiro.