Miguel Michereff Filho
Mirtes Ferreira Lima
Pesquisadores da Embrapa Hortaliças
Os surtos populacionais de tripes nos últimos três anos e a crescente ineficiência dos inseticidas químicos para seu controle têm preocupado as cadeias produtivas de tomate e de pepino em todos os seus segmentos (tutorado em campo aberto, tutorado em cultivo protegido, rasteiro para mercado fresco e para processamento industrial).
Além disso, esses insetos são transmissores de vírus que podem causar doenças severas e prejuízos nessas duas culturas. O controle desse complexo de pragas é difícil e exige conhecimento técnico na definição das medidas a serem empregadas.
Tripes
Os tripes são insetos muito pequenos, de corpo estreito e alongado, com coloração entre amarelo-claro e preto, cabeça quadrangular e aparelho bucal do tipo perfurador-sugador. Os adultos têm dois pares de asas estreitas e franjadas, enquanto as larvas são ápteras. Estes insetos pertencem à ordem Thysanoptera.
No Brasil, cinco espécies fitófagas destacam-se como pragas em hortaliças, Frankliniella schultzei (Trybom), F. occidentalis (Pergande), F. zucchini Nakahara & Monteiro, Thrips tabaci Lindeman e T. palmi Karny, todas da família Thripidae e subfamília Thripinae.
Nesse grupo, tanto adultos como as larvas perfuram os tecidos vegetais e sugam o conteúdo das células. São pragas com inúmeras plantas hospedeiras, incluindo culturas agrícolas, plantas daninhas e silvestres. Com exceção de F. zucchini, que ocorre principalmente em cucurbitáceas (abóboras, maxixe, melão, pepino, etc.), as demais espécies de tripes anteriormente citadas podem ocorrer tanto em tomate como em pepino.
Ciclo e infestação
O ciclo de vida desses tripes compreende as fases de ovo, larva, pupa e adulto. O período de ovo a adulto dura de 12 a 15 dias, Ã temperatura de 25°C e a fase larval de cinco a 10 dias.
Os adultos vivem de 15 a 30 dias, dependendo da temperatura ambiente e, nesse período, a fêmea pode colocar de 100 a 200 ovos. Esses insetos apresentam reprodução sexuada e por partenogênese (geram descendentes sem necessidade de acasalamento), sendo os ovos colocados na epiderme das folhas, flores e frutos pequenos.
Tanto no tomate como no pepino, os tripes são encontrados na face inferior das folhas, no interior das flores, nos botões florais, hastes e brotos, ficando abrigados entre dobras e reentrâncias das plantas, muitas vezes em grupos.
A infestação de tripes é favorecida por períodos quentes e secos, pela ocorrência de veranicos prolongados na estação chuvosa ou em condições de baixa temperatura associada à estiagem. A chuva pode reduzir substancialmente a infestação dessa praga.
Injúrias causadas pelos tripes
Os tripes podem ocasionar injúrias diretas e indiretas. As injúrias diretas são resultantes principalmente do processo de alimentação de adultos e larvas. Os sintomas de ataque dos tripes no tomate e no pepino incluem: pontuações ou estrias prateadas e zonas necróticas, especialmente ao longo das nervuras das folhas e nas flores; presença de gotas fecais e manchas escuras nas folhas; bronzeamento e alteração na consistência das folhas que ficam quebradiças; ponteiros e folhas deformados; queda de flores e frutos recém-formados e produção de frutos deformados.
Altas infestações de tripes no início do cultivo de pepino promovem queda acentuada de folhas, perda de vigor e até morte das plantas. Por outro lado, nas plantas em produção, os tripes podem causar manchas e cicatrizes nos frutos em desenvolvimento.
Em plantas severamente atacadas, o fruto amadurece mais rápido e o seu tamanho é reduzido. Particularmente no tomate, em razão da postura de ovos em pequenos frutos, também são observadas pequenas pontuações pretas circundadas por halo claro.
As injúrias indiretas estão relacionadas à transmissão de vírus do gênero Tospovirus (família Bunyaviridae). No tomate, os tospovírus causam a doença popularmente conhecida como “vira-cabeça“.
Em todas as regiões produtoras de tomate, essa virose assume grande importância econômica, tanto para o segmento de produção para processamento industrial como para o mercado fresco, em razão da severidade dos sintomas em cultivares suscetÃveis e prejuízos resultantes da redução da produção e qualidade dos frutos, assim como pelo aumento do custo de produção devido às medidas de controle adotadas. Para o tomateiro, os tripes destacam-se como vetores de tospovírus.
No pepino, a doença conhecida como “clorose letal da abobrinha de moita“ é causada por apenas uma espécie de tospovírus. Embora seja muito severa em abóbora e melancia, essa doença ainda tem ocorrido em baixa incidência nos cultivos de pepino, sendo relatada no Distrito Federal e nos estados de Mato Grosso do Sul e São Paulo.
Portanto, no caso do pepino, os tripes assumem maior importância por causar dano direto, como sugadores de conteúdo celular.