André Luís Teixeira Fernandes
Engenheiro agrônomo, doutor em Engenharia de Água e Solo, pró-reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Extensão da Uniube
O uso de algas marinhas na agricultura não é uma novidade. Ao contrário, é relatado desde a antiguidade clássica – quando os romanos coletavam algas e as depositavam no solo ou junto às raízes de verduras.
O emprego de algas evoluiu junto à agricultura, iniciando com formas de levar as algas para plantios mais distantes das praias (como a secagem e compactação), estudo dos componentes (principalmente polissacarÃdeos, como alginas) até a obtenção dos extratos de algas atuais.
Esse interesse tão antigo no uso de algas na agricultura é devido aos benefícios atribuÃdos a estas aplicações nas plantas, como o melhor desenvolvimento vegetativo, principalmente de raízes (com destaque as laterais e pelos absorventes), e a maior tolerância a estresses abióticos (como seca e salinidade) e bióticos, reduzindo as perdas nestas situações.
As vantagens para o cafeeiro
Recentemente, foi demonstrado também um efeito positivo do uso de extratos de Ascophyllumnodosum na interação com microrganismos benéficos do solo, como as micorrizas (ALAM et al., 2012; KHAN et al, 2012). Este maior vigor de plantas associado à tolerância a estresses e a relação com microrganismosvem ampliando o manejo sustentável dos cultivos e elevando a produtividade, com melhor uso de recursos.
Como em outras espécies, em cafeeiro também foram relatados benefícios do uso de extratos de algas no desenvolvimento vegetativo, tolerância a estresses e, claro, quanto à produção e qualidade desta. Alguns destes benefícios foramavaliados ao longo dos anos em diferentes formas de aplicação e manejo, em experimentos cientÃficos conduzidos no campo experimental IzidoroBronzi, da Associação dos Cafeicultores de Araguari (ACA), em Araguari (MG).
Como exemplo, podem ser citados ensaios em campo, onde foram avaliados cafeeiros de acordo com o manejo hídrico – grupos de plantas tratadas com o extrato de algas ou que não foram irrigados normalmente, não irrigados ou irrigados com apenas a metade (50%) do volume de água necessário (ETc).
Detalhes do experimento
Os cafeeiros receberam uma primeira aplicação de extrato de A. nodosum via fertirrigação (2 L/ha) e quatro aplicações foliares de 1,2 L/ha. Nesta área foi feita poda drástica (esqueletamento).Como esperado, as plantas irrigadas apresentaram produção muito superior às não irrigadas.
Quando avaliadas a cinco anos de ensaio,as plantas não irrigadas que receberam o extrato de algas apresentaram melhor produção que a média do controle (não irrigado), com superioridade de 6,2 sacas/ha, o que dá uma diferença nos preços atuais de café de quase R$ 3.000,00/ha.
Assim, estas plantas foram capazes de produzir em condição de limitação de água. Quando comparadas as médias do controle irrigado e os cafeeiros tratados e irrigados normalmente ou com a metade da lâmina, também houve um aumento na produção.
O tratamento
As plantas irrigadas com a metade da lâmina que receberam o extrato de algastiveram um incremento de produção semelhante à quelas com a irrigação completa, sem diferença estatÃstica em cinco anos de condução do experimento (47,2 para 50,2 sacas beneficiadas/ha). Isto é um indÃcio de que a aplicação do extrato de alga leva a melhor eficiência do uso da água pelas plantas. Os resultados deste experimento podem ser melhor visualizados na Figura 1.
Figura 1 ““ Produtividade do cafeeiro submetido a diferentes tratamentos de aplicação de extratos de algas
Em experimento semelhante, no mesmo local (Araguari), porém em lavoura não podada, os resultados foram similares. A testemunha sem irrigação produziu 50% menos que a testemunha irrigada, na média de cinco safras. Porém, quando se aplicou extrato de algas, mesmo com a ausência de irrigação, foi possível o acréscimo de 4 sacas/ha, o que representa nos preços de hoje R$ 2.000,00/ha/anopara o cafeicultor.
O tratamento com 1,2 L/ha do extrato de algas na folha + 2,0 L/ha no solo promoveu as melhores produtividades, com acréscimo de 20% comparando-se com a testemunha irrigada, ou 8,1 sc/ha/ano (ganho por ano ao cafeicultor de R$ 4.000,00/ha).