Tiyoko Nair Hojo Rebouças
Presidente da ABH e professora da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia ““ UESB
Abel Rebouças São José
Professor da UESB
Jecilene Silva de Jesus
Graduanda em Agronomia – UESB
Vários são os organismos existentes no solo, no ar e na água que podem afetar positiva ou negativamente os vegetais cultivados. Muitos desses organismos são patogênicos e podem causar danos variáveis às plantas cultivadas.
O controle destes patógenos é realizado, na maioria das vezes, utilizando-se de moléculas químicas, denominadas de defensivos agrícolas ou agroquímicos, ou ainda agrotóxicos.
Os consumidores do mundo inteiro têm demonstrado crescente preocupação pelo uso desses produtos químicos na agricultura, em função dos riscos que eles representam para o meio ambiente, para a saúde dos trabalhadores e, principalmente, da ocorrência de resíduos químicos nos produtos resultantes.
Pragas
Os nematoides ou fitonematoides são alguns desses organismos que causam danos significativos a diversas plantas cultivadas, podendo se destacar a goiabeira, bananeira, meloeiro e muitas outras.
Os nematoides excretam substâncias que promovem o crescimento das células radiculares, as quais, por sua vez, a depender da quantidade, formam as chamadas “galhas“, onde ocorrem os pontos de alimentação, desenvolvimento e reprodução dos nematoides.
As galhas dificultam, ou mesmo bloqueiam a translocação dos fotoassimilados, afetando a absorção de água e dos nutrientes essenciais às plantas. Os danos causados vão variados, podendo inviabilizar o cultivo de determinada planta em algumas regiões, onde os níveis de infestação estejam elevados.
Nenhum método isolado tem demonstrado eficácia no controle dos fitonematoides. Busca-se conviver com os mesmos usando medidas integradas ou combinadas, de forma a manter suas populações em níveis de convivência econômica.
Manejo biológico
O manejo biológico tem como premissa básica manter a densidade populacional dos nematoides e outros organismos associados em níveis economicamente e ecologicamente aceitáveis.
Os fungos antagonistas ou benéficos pertencentes ao gênero Trichoderma têm sido relatados como eficientes para o controle de patógenos de solo, como: Rhizoctonia solani; Sclerotium rolfsii; Sclerotinia sclerotiorum; Fusarium spp. e Pythium spp.
O mesmo resultado tem sido atribuÃdo ao controle de nematoides em diversas culturas. O Trichoderma atua sob diversas formas contra os microrganismos do solo, incluindo-se os nematoides, merecendo destaque: a produção de metabólitos tóxicos (antibióticos, etc.); produção de enzimas extracelulares (quitinase, dentre outras); competição por nutrientes e nichos de colonização; e indução de resistência na planta hospedeira.
No melão
Em relação ao meloeiro, é sabido que os nematoides causam danos diretos e indiretos, conforme tem sido observado em diversas áreas cultivadas. As principais espécies encontradas em plantas de melão são: Meloidogyne incognita, M. arenaria, M. javanica e M. hapla.
Informações de consultores especializados e empresários da cultura do melão, nos Estados do Ceará e do Rio Grande do Norte, relatam excelentes resultados no controle biológico de nematoides com aplicação de Trichoderma longibrachiatum.
Relatam, ainda, que este antagonista tem apresentado excelentes resultados no controle dos fungos patogênicos: Pythium, Rhizoctonia, Fusarium e Sclerotium rolfsii, agentes causadores de doenças de elevada importância na cultura do meloeiro.
O nível de mortalidade de plantas de melão é quase inexistente (menos que 2%) quando se aplica o Trichoderma via irrigação na cultura do melão. Há relatos de que áreas cultivadas com meloeiro que apresentaram elevada população de nematoides e, consequentemente, significativos danos econômicos, não poderiam ser utilizadas novamente para essa cultura.
Entretanto, tem sido observado um controle eficaz de nematoides com aplicações semanais via irrigação, em alta concentração de esporos de Trichoderma longibrachiatum. Tais áreas voltaram a ser plantadas com essa frutÃfera.
Na prática
O renomado consultor fitopatologista na cultura do melão, Rosemberg Senhor diz que para os produtores de melão do Rio Grande do Norte e Ceará o controle biológico com Trichoderma longibrachiatum não representa somente uma ferramenta no controle de patógenos veiculados pelo solo, mas sim uma estratégia promissora como componente do manejo integrado de doenças causadas por fungos e nematoides.
Isso porque o solo não representa apenas um substrato, mas um complexo de organismos vivos. Foi uma mudança na filosofia de produção, que exigiu melhorar as práticas de manejo de solo, fertirrigação e eliminar o uso fungicida no solo para promover maior equilíbrio do ambiente e aumentar a eficiência do controle biológico, proporcionando maiores produtividades.