José Carlos Cavichioli
Pesquisador da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, Polo Regional da Alta Paulista, Adamantina (SP)
A produção de mudas de maracujá, feita com o uso de sementes pela maioria dos produtores, pode ser obtida por via vegetativa, mediante o enraizamento de estacas. Duas novas tecnologias são apresentadas, que trazem benefícios à produção de mudas de maracujá. Uma delas, o tratamento térmico por imersão em água, evita o problema de dormência de sementes inerente ao gênero Passiflora, em outra, enfoca o enraizamento de miniestacas por meio de hidroponia em espuma fenólica e ainda há a técnica de obtenção de mudas altas, conhecida por mudão, adotada como forma de diminuir a incidência do vírus do endurecimento dos frutos.
A propagação do maracujazeiro em escala comercial é feita quase exclusivamente por sementes, mas pode ser realizada também por enxertia e estaquia.A propagação de mudas por sementes é mais simples e rápida, além de mais econômica, mas não garante as características da planta mãe, tendo uma grande variabilidade.
Na propagação vegetativa (enxertia e estaquia) são garantidas as mesmas características da planta matriz, mas exige mais tempo, trabalho, tem menor aproveitamento e custo maior.
Por sementes
Atualmente, as mudas de maracujá advindas de sementes são formadas por dois processos: o tradicional, em sacolas plásticas, e em tubetes. É importante utilizar sementes novas, com até seis meses de colhidas. Recomenda-se utilizar substrato industrializado, Ã base de casca de madeiras e vermiculita para reduzir os problemas com doenças de solo e nematoides, e complementar com fontes de cálcio e fósforo via fertirrigação.
São necessárias adubações de cobertura periódicas com solução de 0,05% de sulfato de amônia, 0,05% de cloreto de potássio e 0,01% de superfosfato simples. Aplica-se esta solução à base de 2 a 3 L/m2 em intervalos semanais ou quinzenais, conforme o desenvolvimento desejado das mudas.
Considerando que a ocorrência do vírus do endurecimento dos frutos no maracujazeiro amarelo acarreta sérios prejuízos à cultura e que esse vírus é transmitido por pulgões, é importante que a muda seja formada em boas condições de sanidade, para não haver contaminação nessa fase, o que comprometeria a lavoura.
Assim, recomenda-se que as mudas de maracujazeiro sejam adquiridas de viveiros que utilizem a produção em estufas fechadas com tela antiafÃdeo e, de preferência, de viveiristas registrados no MAPA.
Enraizamento de estacas
As estacas, para propagação do maracujazeiro, devem ser retiradas de plantas-matrizes com características altamente desejáveis. Retirar estacas de várias plantas, todas produtivas, uniformes e com qualidade de fruto. Em regiões onde há problemas com o vírus do endurecimento-dos-frutos não se deve retirar estacas de plantas no campo, com o risco de estar levando material doente para o viveiro.
Na estaquia, utiliza-se a parte intermediária dos ramos, seccionando-se estacas com três a quatro gemas e uma folha na parte superior, no início da brotação primaveril. Metade da área foliar deve ser removida para evitar excesso de perda de água por transpiração. As estacas são enterradas 2/3 do seu comprimento em areia grossa lavada.
Depois do enraizamento das estacas, por volta do 20° ao 30° dia após o seu enterrio no substrato, elas devem ser transferidas para recipientes contendo substrato convencional para a formação das mudas.
A enxertia mais utilizada no maracujazeiro é a de garfagem fenda cheia. Podemos utilizar dois tipos: a hipocotiledonar e a convencional. A diferença básica entre estes dois tipos de enxertia está na idade da planta em que a prática é realizada.
A enxertia
A enxertia hipocotiledonar é realizada em plantas com aproximadamente 25 dias de germinadas. Decepam-se os porta-enxertos (cavalos) abaixo dos cotilédones, abrindo-se uma fenda longitudinal com cerca de 1,0 cm. Procede-se, então, Ã retirada dos garfos, decepando-se as plântulas doadoras abaixo dos cotilédones, fazendo-se uma cunha em bisel duplo de forma a expor os tecidos do câmbio, utilizando-se, para isso, de uma lâmina de platina bem afiada do tipo lâmina de barbear.
Na sequência, juntam-se enxertos e porta-enxertos, com cuidado, para coincidirem os tecidos cambiais, e utiliza-se de fita adesiva (crepe) para envolver a região da enxertia, protegendo-os, evitando-se o seu ressecamento, assim como o excesso de umidade e funcionando também como tutor das mudas.
A enxertia convencional é realizada em plantas com aproximadamente 60 dias de idade, e que apresentam haste com diâmetro em torno de 3 mm. Na execução da enxertia, as mudas dos porta-enxertos são decepadas a 12 – 15 cm, a partir do colo, altura em que é feita uma fenda longitudinal de 1 a 2 cm, na qual se introduz um garfo com dois entrenós e com a base despontada em cunha.
Os garfos utilizados também devem ser retirados de mudas com 60 dias de idade, produzidas em telado, com dimensões em torno de 3 mm de diâmetro. A haste, na região da enxertia, deve ser envolvida com fita plástica para manter o enxerto e o porta-enxerto em contato firme, bem como para proteção. Depois de enxertadas, as mudas são tutoradas por uma estaca de madeira.