Rotulado pelo excesso de agrotóxicos, muitos produtores de morango têm partido para sistemas alternativos que reduzem a necessidade de utilizar químicos. Uma das soluções é o sistema semi-hidropônico
O sistema semi-hidropônico consiste no cultivo de morangos na ausência de solo, que é substituÃdo por substratos onde as plantas recebem os nutrientes pela fertirrigação com solução nutritiva.
Segundo Pedro Roberto Furlani, diretor da Conplant Consultoria, Treinamento, Pesquisa e Desenvolvimento Agrícola Ltda, o cultivo de morangos em substratos pode ser feito em vasos, sacolas, travesseiros (denominados de slabs), e canaletas de PVC ou de isopor.
“Esses recipientes são acomodados a uma distância do solo (em média 1,0 a 1,20m de altura). Essa altura de colocação dos recipientes facilita o manejo das plantas, com menor esforço físico dos trabalhadores, incluindo todas as atividades exigidas pela cultura: plantio, desbrota, limpeza de folhas, colheita, inspeção de pragas e doenças e outras“, pontua.
Vantagens
A semi-hidroponia apresenta maior produtividade por planta, com melhor qualidade e maior tempo de cultivo, por estar em ambiente semi-protegido. Entretanto, ainda enfrenta erros como plantios em época não apropriada para a região, pouco conhecimento do manejo de substratos com relação à irrigação e nutrição, controle de pragas e doenças mediante uso de métodos alternativos com produtos e inimigos naturais.
“Para evitar esses erros, o produtor deve buscar informações nas universidades, instituições de pesquisa e consultores de reconhecido conhecimento nesse sistema de cultivo“, pontua Pedro Furlani.
Colocando em prática
Gilberto de Almeida Santos e Fabio de Almeida Santos são produtores no SÃtio Olhos D’água, localizado no Fagundes/zona rural da cidade de Antônio Carlos (MG). Eles contam que falar em produtividade envolve muitos fatores. “Temos variações dentro do sistema de cultivo hidropônico em substrato, como citado pelo professor Furlani, o que obviamente nos dá resultados muitas vezes discrepantes. Na cidade de Antônio Carlos temos 28 mil plantas, todas no sistema suspenso que desenvolvemos em calhas de isopor, e percebemos que o sistema proporciona ótimos resultados na produtividade, com um custo de manutenção inferior ao sistema tradicional“, avaliam.
“No plantio 2013/14 tivemos excelente resultado, atingindo produtividade de 2,3 quilos por planta em 15 meses.Já no plantio 2014/15 o resultado foi inferior, mas ainda assim chegamos a 1,6 kg por planta“, revelam. Eles atribuem a queda na produtividade do último ano à baixa qualidade das mudas importadas que adquiriram.
Do início ao fim
A produção de Gilberto e Fabio começou há cinco anos, com uma estufa de slabs (travesseiros).“Essa estufa serviu de escola, nos trouxe conhecimento não só no comportamento da planta, como também nos apontou onde poderÃamos fazer melhorias e investimentos dentro da realidade brasileira.Acredito que o avanço no sistema que utilizamos se deu por conta de ter sido desenvolvido para uso próprio e visando resolver problemas dentro de nossas estufas. Os resultados foram tão positivos que a partir daà tivemos grande procura de produtores e lojistas.Hoje o sistema já é utilizado em praticamente todas as regiões produtoras“, orgulham-se os produtores.
A procura pelo sistema se justifica pelos benefícios que ele apresenta em relação à redução no uso de defensivos (agrotóxicos). “Para se ter uma ideia, com um sistema bem montado e com acompanhamento qualificado é possível tratar as plantas apenas com produtos biológicos. A ergometria do trabalhador proporciona ganho de mão de obra em torno de 200%. Estes são pontos pertinentes a todos os sistemas suspensos: calhas de isopor, madeira, pvc e slabs“, afirmam.
Nas calhas de isopor as plantas são favorecidas por terem as raízes em ambiente favorável à absorção dos nutrientes, o que confere maior sanidade e produtividade.O que já está comprovado, na prática, é que sistemas em pirâmide têm a produção prejudicada por conta do sombreamento.
Cochos e calhas favorecem o perfilhamento da planta e a emissão de raízes novas, que são necessárias para que se atinja alta produtividade e longevidade da planta do morangueiro. Ainda dentro do sistema suspenso há os slabs (travesseiros), que em algumas regiões têm o custo muito atrativo, porém, prejudicam a emissão de raízes, demandam maior mão de obra e cuidados para evitar o entupimento dos gotejadores.
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Investimento
Atualmente, com o aumento do dólar e a instabilidade econômica, é possível montar estufas com investimento inicial de R$6,00 por planta, claro que aproveitando materiais disponíveis na propriedade e na região.
As estruturas, em geral, têm durabilidade de 10 anos, e os cálculos de depreciação e retorno do investimento são feitos em cima deste período. “Lembrando que na troca do plantio temos a estrutura já pronta e o custo de renovação fica praticamente reduzido à compra das mudas. Desde que o substrato seja de qualidade, a composição e procedência deste material implicam diretamente na produtividade.Em 2012 tivemos baixa produção por conta de substrato com excesso de turfa, alta retenção de água e ervas daninhas“, justifica Gilberto.