Em se tratando de cenoura de inverno, a incidência de chuvas deve trazer grandes problemas com relação às bactérias, pois os materiais desta época têm uma tolerância menor a este mal e às doenças foliares, principalmente à alternária, segundo o engenheiro agrônomo Luciano Brito. Ele explica que essas chuvas podem fazer com que as plantas percam as folhas mais rapidamente, terminando o ciclo precocemente.
Isso quer dizer que o material de inverno tem que ter tolerância à bactéria e às doenças foliares. Em termos de nutrição, ele pontua que são materiais que têm que responder bem, devido à população superior de plantas que é cultivada por hectare. “Por isso tem que ter uma adubação adequada visando à diminuição de cenouras rachadas. São detalhes que precisam ser levados em consideração“, recomenda.
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Casos específicos
Na região de Cristalina (GO), os plantios de híbridos de inverno se iniciam na segunda quinzena de março e se estendem até a primeira quinzena de agosto. “Isso porque em nossa região mudou o comportamento das chuvas. Como se trata de um material que tem ciclo de 120 dias, ele ainda tolera as chuvas que começam a cair no mês de novembro“, explica Luciano.
Ele conta que nessa safra não enfrentou problemas porque o ano é atípico em virtude do El niño. “Tivemos apenas 75% do volume de chuva previsto. Ou seja, nossa região está seca, com poucas chuvas, favorecendo a produção. Mas é um ano atípico. Em condições normais, aqui chove em março e abril. Como o plantio começa a ser feito na segunda quinzena de março, teria 30 dias de ciclo dessa cenoura de inverno com chuvas,o que não seria muito problema ainda, porque o risco é quando chove do meio do ciclo para frente, quando a planta possui um número de folhas mais velhas maior e o microclima gerado fica mais favorável para o desenvolvimento da doença“, alerta.
O que fazer?
Para evitar os problemas do cultivo desta época, é fundamental um bom planejamento, especialmente quanto aos híbridos, escolhendo os materiais adequados para o inverno e tomar bastante cuidado com relação à escolha das áreas, dando preferência aos solos mais drenados.
“É importante, ainda, ficar mais atento a respeito da população e nutrição da cenoura“, pondera Luciano. “Como se trata de um cultivo no inverno, logicamente é preciso ter cuidado com a qualidade da água da irrigação, pois nosso inverno é seco e nossas áreas são irrigadas. A água tem que ser de qualidade e os equipamentos precisam ter acima de 90% de eficiência. A irrigação também é um fator determinante na nossa região“, considera.
A genética
O agrônomo percebeu que a cada ano as empresas de melhoramento genético têm trabalhado na busca pela maior tolerância, pois se houver um material que seja mais resistente a esse tipo de problema, como doenças foliares, ele propicia a extensão da janela de plantio ao longo o ano, refletindo em alta produtividade, pois os materiais de inverno têm uma uniformidade maior do que os de verão. “Obviamente, é preciso obedecer o número de plantas recomendado por hectare’, esclarece.
Há, ainda, uma busca pela melhora da nutrição, que também é muito importante para o bom desempenho do híbrido. Esses materiais podem proteger a cenoura principalmente da alternária, que é a doença foliar que mais causa problemas à atividade, sendo de alto impacto.
Manejo
Luciano recomenda que o produtor tenha cuidado com relação ao espaçamento adequado, ao preparo de solo, que tem que ser muito bem feito para não causar impedimento físico ao desenvolvimento das raízes, manejo de plantas daninhas, irrigação e nutrição, que podem garantir o sucesso da produção.
Além dos cuidados com relação a pragas e doenças, o manejo dos nematoides, buscar práticas não só químicas, mas culturais junto com produtos biológicos, utilizando plantas de coberturas, pode melhorar o sistema de produção. “Todos esses aspectos devem ser levados em conta para se conseguir uma boa produção“, enfatiza o especialista.
Custo
Devido à atual condição do Real perante o dólar, os materiais híbridos de cenoura tiveram aumento de 10 a 15%. “O valor é alto porque semente de qualidade é cara, e há um custo para adquiri-la. Entretanto, o investimento com certeza compensa. Como sempre digo, não adianta ter uma semeadora de última geração, um preparo de solo bom, equipamentos de irrigação de boa qualidade, e na hora de escolher o material não priorizar um que seja de boa qualidade.O bom material garante a produção. Além da qualidade, tem ainda a confiabilidade que o material traz“, enumera Luciano.
Na ponta do lápis, o produtor que optar por híbridos de boa qualidade desembolsará em torno de 20% a mais do que em uma cultivar convencional. No custo total de produção da cenoura, a semente tem um peso de 15%, mas ao investir em uma semente melhor, ele automaticamente tem redução de custo com defensivos, e no final das contas, a produção fica mais barata.