Enilson Nogueira
Analista de Mercados Celeres® Consultoria
O mercado internacional de soja e milho nos últimos anos foi caracterizado por uma forte expansão produtiva, o que acumulou estoques em níveis elevados no mundo e, consequentemente, numa queda dos preços internacionais. Esse movimento ocorreu nos principais mercados produtores, EUA, Brasil e Argentina.
No que diz respeito à produção nacional de soja na safra 2015/16, com a colheita avançando para o final, a expectativa da Céleres® é que haja uma safra recorde de soja nesta temporada. Com avanço de área em 3,5% em relação à safra passada, a superfície desta temporada deverá alcançar 33,02 milhões hectares e o montante produzido deverá ficar em 99,9 milhões toneladas, 2,5% maior que na safra passada, com a segunda maior safra mundial de soja em 2015/16.
Já para milho, a expectativa é que a área total (verão + inverno) seja de 15,6 milhões hectares, avanço de 2,35% em relação a 2014/15, totalizando 87,5 milhões toneladas, 1,6% maior que na safra passada, ambos puxadas pelo avanço da safra de inverno.
Demanda
Apesar das fortes e crescentes produções nacionais e dos preços internacionais decrescentes, a demanda mundial por soja e milho vêm se mantendo em elevados níveis e vêm abastecendo os grãos nacionais, o que diminui o excedente no mercado interno.
Em suma, o avanço de área nas culturas está relacionado ao aumento dos preços internos, beneficiado pela forte desvalorização do Real e pelos altos volumes exportados durante 2015, que diminuiu os estoques finais da safra 2014/15 e deverá manter o quadro produtivo bastante justo em 2015/16, principalmente para o milho, haja vista os altos volumes já embarcados no primeiro trimestre deste ano.
Portanto, a safra 2015/16 deverá ser remuneradora para os produtores nacionais, e parte desta remuneração será devido à forte competitividade de soja e milho nacionais e, consequentemente, ao posicionamento favorável do Brasil perante os mercados internacionais.
Agronegócio brasileiro e comércio externo
Na última década, o agronegócio brasileiro ganhou espaço no mercado internacional, sobretudo no que se refere ao melhor posicionamento das culturas de grãos, proteÃna animal e derivados de cana-de-açúcar.
O principal indicador deste destaque é o volume crescente das exportações brasileiras perante o mundo. Especificamente para o mercado de grãos na última década, as vendas externas brasileiras cresceram cerca de 11% ao ano, puxadas pela demanda externa crescente para as culturas nacionais de soja e milho.
Exportações de milho pelos portos do Arco Norte e Part. no total. Em toneladas.
 | 2011 | 2012 | 2013 | 2014 | 2015 | Tx. Anual de Crescimento |
Soja | 33,0 | 32,9 | 42,8 | 45,7 | 54,3 | 8,1% |
Milho | 9,5 | 19,8 | 26,6 | 20,7 | 28,9 | 22,1% |
Trigo | 2,4 | 2,4 | 1,2 | 0,3 | 1,8 | 10,6% |
Outros | 1,4 | 1,2 | 1,0 | 1,1 | 1,2 | 15,2% |
Total | 46,2 | 56,3 | 71,6 | 67,7 | 86,3 | 11,2% |
Soja e milho no pódio
Em 2015, as duas culturas representaram mais de 95% das exportações nacionais de grãos (63% para soja e 33% para milho). A maior representatividade revela tanto a alta eficiência produtiva interna, que coloca o País numa posição mais competitiva perante outros países produtores, quanto a forte demanda internacional pela soja e milho brasileiros.
Neste âmbito, cabe destacar a produtividade da “porteira para dentro“, sendo que a eficiência produtiva é resultado de melhores práticas de manejo, da adoção de biotecnologia (sementes geneticamente modificadas), maior tecnificação e organização do produtor brasileiro, a relativa melhora logÃstica, entre outros fatores, resultando em maior produtividade no campo.
Do ponto de vista internacional, a maior demanda por grãos é sustentada pelo (1) crescimento mundial da população e da renda mundial, puxado pela expansão econômica, sobretudo dos países emergentes, (2) do avanço das populações urbanas (taxa de urbanização crescente) e (3) da maior demanda por proteínas animais, haja vista que a ração de aves, bovinos e suÃnos é derivada basicamente de milho e soja.
Conjunturalmente, também é possível destacar a forte desvalorização do Real frente ao dólar em 2015, que possibilitou maiores exportações nacionais em detrimento à queda da importação de outros importantes players, como EUA, e também ajuda a explicar o considerável crescimento das exportações brasileiras no último ano. Deste modo, o Brasil consolidou-se com o principal exportador de soja no mundo pelo terceiro ano consecutivo e o segundo maior exportador de milho no trading global.