Numa análise simplista, o trigo no Brasil melhora a lucratividade da propriedade como um todo, ao dividir os custos fixos diretos, como funcionários, arrendamentos, impostos e outros. Esses custos estarão presentes independentemente de quantas culturas estejam envolvidas. Além disso, a cultura do trigo ainda gera benefícios indiretos na fertilidade quÃmica, física e biológica do solo, na supressão natural de pragas e na cobertura vegetal da lavoura
Apesar da disponibilidade de tecnologias de manejo, solos adequados, clima e interesse dos produtores, a área de cultivo de trigo está aquém da potencialidade existente. Sendo o consumo brasileiro do cereal é de aproximadamente 11,5 milhões de toneladas, para panificação, massas e outras utilizações, a produção nacional representa 51% dessa demanda.
Segundo Elmar Luiz Floss, doutor em Agronomia, professor e diretor do Instituto Incia, a área cultivada do cereal decresceu de 234 milhões de hectares para 218 milhões de ha (-6,8%) no período de 1976/2014, no mundo. “É a maior área cultivada de todas as culturas produtoras de grãos alimentÃcios, seguido do milho e arroz“, ressalta.
A produção aumentou, no mesmo período, de 420 milhões de toneladas (t) para 713 milhões de t (+69,9%). Essa produção é inferior à produção de milho (1.016 milhões de t) e de arroz (745,7 milhões de t), na safra 2013/14.
O rendimento médio do trigo cresceu de 1.791 kg/ha, em 1976, para 3.115 kg/ha, na safra 2013/14 (+73,9%). No Brasil, na safra 2014/15, a produção de trigo foi de 5,63 milhões de toneladas e rendimento de 2.302 kg/ha, inferior à média mundial, sendo a quarta principal cultura em área e na produção de grãos.
De acordo com Márcio Só e Silva, pesquisador na Área de Melhoramento Genético de Trigo da Embrapa Trigo, a produtividade média dos últimos cincoanos tem oscilado em 2.500 kg/ha. “Mas, quando falamos de potencial de rendimento de grãos, que são as produtividades máximas obtidas em lavouras, encontramos em 2010 e 2011 os recordes.Na região sul houve resultados de 6 até 6,5 t/ha e na região de cerrados em cultivo irrigado foram registradas produtividades superiores a 7 t/ha“, compara.
Oferta e demanda
Julio Cesar Albrecht, pesquisador da Embrapa Cerrados, reafirma que a produção de trigo no Brasil não supre a demanda interna. “O Brasil produz metade do que consome, deixando uma lacuna. A principal região produtora é o Sul do País, que produz em torno de 90% do que consumimos, mas na última década houve significativa expansão do cultivo do trigo na região do cerrado do Brasil Central“, avalia.
Genética a favor do trigo
Ainda de acordo com Julio Albrecht, a Embrapa tem contribuÃdo significativamente para o aumento da produtividade do trigo na região com o desenvolvimento de novas cultivares adaptadas às condições locais e com qualidade industrial para panificação.
Em 2015 foram lançadas as cultivares BRS 394 para o sistema de produção irrigado e a cultivar BRS 404 para o sistema de produção de sequeiro (safrinha).
“A BRS 394, na safra de 2015, produziu os maiores rendimentos médios, em torno de 7.500 kg/ha de grãos com excelente qualidade industrial para panificação. A BRS 404 alcançou produtividades de 4.500 kg/ha de grãos de boa qualidade industrial em lavouras sem irrigação na época da safrinha“, calcula o pesquisador.
Ainda segundo ele, no Cerrado o clima quente e seco durante o ciclo da cultura favorece o bom desenvolvimento das plantas de trigo. O período da colheita do cereal, que coincide com a entressafra dos Estados do Sul, favorece os preços que estão em alta na curva anual de variação. “As condições climáticas beneficiam as características qualitativas para panificação, o que vale dizer que o trigo produzido no Cerrado é o de melhor qualidade industrial do País“, afirma Albrecht.
O trigo produzido tanto sob irrigação como em sequeiro é alternativa indispensável para sucessão e rotação de culturas em sistemas de produção de grãos, hortaliças e fibras, ocupando parcialmente o período de vazio sanitário da soja e do algodão, auxiliando na manutenção da capacidade produtiva do solo e contribuindo para o Manejo Integrado de Pragas (MIP), doenças e invasoras.
Para Márcio Só, os “atores“ que garantem a performance da cultura do trigo se constituem num triângulo de vértices chamados de solo (componente tecnológico), planta (componente genético e tecnológico) e clima (componente não tecnológico – água, luz e temperatura).
“Quando esses atores têm performance simétrica e sinérgica positiva, a “ópera“ é fantástica e a produtividade maximizada. Do contrário, quando não há simetria e as forças apresentam cargas negativas, a performance da “ópera“ ficará prejudicada e a produtividade reduzida“, diz.
Quanto ao ganho genético, o pesquisador assinala que ele é representado fundamentalmente pelas cultivares desenvolvidas pelas empresas de genética e melhoramento. “O desempenho da cultivar depende da genética e da tecnologia, que juntas formam o ganho tecnológico de produtividade. Muitas cultivares fizeram nome e fama na “calçada“ da triticultura, apresentando excelente performance na lavoura através dos anos. As cultivares IAC 5 Maringá, BR 23, Embrapa 16, BRS 179, Onix, Quartzo, TbioSinuelo e BRS 264 mostraram no passado e no presente quebras de patamares de produtividade nas regiões onde foram cultivadas. Além disso, ocuparam o primeiro lugar no ranking de área de cultivo nas lavouras“, destaca.