Gerson José Marquesi de Souza Netto
Engenheiro agrônomo e coordenador técnico do GAPE/ESALQ-USP
André Kitaro Mocelin Urano
Laura Landucci
Graduandos em Engenharia Agronômica – ESALQ-USP
Na região do cerrado, uma prática muito comum em áreas de produção de grãos em sequeiro é o plantio de soja na safra e de milho na segunda safra, podendo o segundo ser substituÃdo pelo feijão ou algodão em algumas áreas menos expressivas.
Essa sucessão é bastante interessante, porém, impõe algumas limitações operacionais por reduzir a janela de planejamento do produtor. Inseridas nesse contexto estão a amostragem e análise de solo, primeiro passo para a definição apropriada de práticas corretivas e de adubação.
Essencial
A importância da análise de solo após a colheita da safrinha é por permitir que o produtor tenha conhecimento da real fertilidade de seu solo, para que então seja elaborado o manejo químico do mesmo naquela situação, evitando assim perdas de produtividade na safra subsequente por motivos nutricionais e também a aplicação excessiva e desnecessária de insumos, o que implica em aumento do custo de produção.
Porém, vale a pena analisar a viabilidade dessa prática do ponto de vista operacional e logÃstico no que diz respeito à compra e aplicação de insumos na área.
O intervalo de tempo entre a colheita da safrinha e o plantio da safra não é o suficiente para que se determinem as recomendações de correção e adubação das áreas, se realize o pedido de insumos e os mesmos sejam entregues e aplicados em tempo hábil. O tempo de reação do calcário no solo, por exemplo, é de três meses para obtenção de resultados satisfatórios.
Assim, surge como alternativa a realização da amostragem de solo antes do plantio da segunda safra, havendo, dessa forma, tempo hábil para elaborar a recomendação de correção e adubação do solo para a safra, restando também mais tempo para a negociação e aquisição de insumos, além de permitir que insumos de reação mais lenta, como o calcário, possam ser aplicados mais cedo, logo após a colheita da segunda safra.
Detalhes que fazem a diferença
Utilizando esse procedimento para amostragem e análise de solo, alguns detalhes devem ser levados em conta. Primeiramente, a amostragem deve ser feita antes da aplicação de fertilizantes e do plantio da segunda safra.
Em seguida, na elaboração da recomendação de adubação para a safra é necessário considerar os fertilizantes que serão aplicados no cultivo da safrinha e de qual forma (área total, localizado), bem como a exportação da cultura de acordo com a previsão de produtividade, considerando-se, dessa forma, o que será adicionado ou retirado do sistema e obtendo-se, assim, maior precisão na definição do manejo químico do solo.
É de extrema importância o conhecimento das formas mais precisas de se realizar a amostragem de solo, visto que se realizada de forma inadequada, esta pode ser a maior fonte de erros na análise de solo.
Um erro muito comum é a contaminação das amostras devido à falta de cuidados quanto aos recipientes e ferramentas utilizadas para coleta e armazenamento. Por isso, deve-se evitar a utilização de embalagens usadas, recipientes de ferro, baldes empregadosno armazenamento ou transporte de fertilizantes ou dejetos de animais, sendo recomendada a utilização de itens exclusivos para essa finalidade.
Quando fazer
A amostragem de solo em culturas anuais como soja e milho deve ser realizada utilizando-se, preferencialmente, o trado holandês e a sonda, coletando-se as amostras em duas profundidades: 0-20 e 20-40 cm.
Uma vez que são culturas anuais, as amostras de cada gleba devem ser retiradas metade na linha e metade na entrelinha, realizando-se então a homogeneização de forma apropriada. Ressalta-se, no momento da coleta, o cuidado com a separação das camadas superior e inferior do solo.
O tamanho da gleba de amostragem varia muito de acordo com o sistema de produção adotado. Com o surgimento do GPS (sistema de posicionamento por satélite) e do SIG (sistema de informação geográfica), tornou-se possível aperfeiçoar o processo de amostragem e análise do solo por meio da utilização de grids de amostragem, que consistem na divisão das áreas de interesse em pequenos quadriláteros de dois a cinco hectares, nos quais são coletadas cerca de 10 subamostras de pontos georreferenciados, gerando, posteriormente, mapas de fertilidade e de manejo.
Estes conterão recomendações de correção e adubação específicas para cada ponto, que podem ser colocadas em prática pela aplicação em taxa variável. A vantagem desse sistema é que ano após ano as amostras de solo serão coletadas no mesmo ponto, o que permite observar a eficiência do manejo adotado e a evolução da fertilidade do solo ponto a ponto.
Alternativa
Para quem não adota essa tecnologia, a divisão das glebas de amostragem deve ser realizada levando-se em conta o maior número possível de informações sobre a área, como por exemplo, tipo de solo, textura, histórico de manejo e de culturas implantadas, topografia, delimitando-se, posteriormente, glebas de até 20 hectares em áreas homogêneas, da qual serão retiradas 15 a 20 subamostras por profundidade, resultando em uma amostra composta para cada camada.
Seguindo essas dicas, com certeza o produtor terá sucesso na operação.