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Barragens transformam agricultura em sistema sustentável de irrigação

 

Abrir matéria com foto em página dupla - Crédito Pixabay
Abrir matéria com foto em página dupla – Crédito Pixabay

Captação de água das chuvas e uso de pivôs valoriza recursos naturais e aumenta a produtividade de lavouras em Cristalina. Exemplo já é seguido em outras regiões

 

O uso sustentável da água para irrigação agrícola na cidade de Cristalina (GO) é considerado exemplo no Brasil e na América Latina. Segundo Alécio Maróstica, presidente do Sindicato Rural daquela cidade, o município possui atualmente cerca de 52 mil hectares irrigados, 680 pivôs centrais em funcionamento e 142 produtores que trabalham com culturas irrigadas.

“Há muitos anos passávamos por períodos preocupantes de seca, entre maio e setembro, que obviamente antecediam as chuvas, de outubro a abril. Sempre nos perguntávamos sobre o que fazer com aquilo que escorria na terra e não era aproveitado. A partir disso fomos pesquisar, pedir assistência técnica e, em seguida, iniciamos as construções de barragens nas propriedades rurais, que servem para acumular água das chuvas“, relata.

De acordo com o mais recente levantamento do IBGE, graças a esse modelo de irrigação, a cidade registrou o segundo maior valor bruto de produção (R$ 2 bilhões), ficando atrás apenas da cidade de Sorriso (MT).

Para Alécio Maróstica, esse número ainda pode crescer. “A área irrigada do município pode aumentar nos próximos anos, a ponto de ultrapassar 100 mil hectares“, afirma, complementando que “culturas de soja, milho e a integração lavoura-pecuária podem ganhar em produtividade com a expansão do sistema“.

Atualmente, a irrigação em Cristalina tem como carro-chefe as plantações de tomate, mas atinge também áreas de plantio de batata, alho, cebola e cenoura.

Todo o projeto deve contar, primeiramente, com as licenças concedidas pelos órgãos responsáveis - Crédito Shutterstock
Todo o projeto deve contar, primeiramente, com as licenças concedidas pelos órgãos responsáveis – Crédito Shutterstock

Modelo de irrigação

Além da alta tecnologia empregada no uso dos pivôs, o segredo da sustentabilidade está na maneira como os agricultores os abastecem: a água utilizada é fruto da captação das chuvas por meio de barragens, que são responsáveis pela manutenção dos pivôs em funcionamento e garantem o fluxo de água no sistema.

Tal iniciativa deu condições para que a região produzisse culturas inéditas por lá, o que vem acontecendo há cinco anos, com a exploração da maçã, uva, pêssego, nectarina e ameixa, típicas do Sul do Brasil.

A irrigação, por sua vez, garante condições para que seja possível produzir o ano todo e ameniza as características do Cerrado, região conhecida por ter chuvas concentradas no verão e estiagem de maio a setembro.

A irrigação também tem se tornado o melhor método para manter a produção agrícola em alta. É importante ressaltar que, segundo especialistas no agronegócio, os gastos com ela representam de 15 a 25% do custo total da produção, em média.

As barragens permitem que as lavouras sejam irrigadas o ano todo - CréditoPixabay
As barragens permitem que as lavouras sejam irrigadas o ano todo – CréditoPixabay

Novidades

Recentemente surgiu um novo tipo de sistema em Cristalina, chamado irrigação por salvamento, que consiste em irrigar soja e milho, soja e algodão, soja e feijão, ou soja e girassol, o que tem apresentado resultados fantásticos na soja, acima de 74 sacas por hectare, em média.

Alécio Maróstica explica que a irrigação acontece somente se houver necessidade, ou seja, se a lavoura passar por 15 dias de sol sem chuva. “Isso normalmente acontece no início da soja, ou no final do milho, quando entramos com a irrigação de salvamento. O objetivo do armazenamento de água é também ter água disponível para esses momentos“, diz.

Segundo ele, a agricultura é muito imprevisível, e com as barragens há melhor controle sobre esse contexto. Além disso,a barragem possibilita uma programação que o produtor não tinha até então, além da previsibilidade do rendimento.

O controle da irrigação garante sustentabilidade - CréditoShutterstock
O controle da irrigação garante sustentabilidade – CréditoShutterstock

Produtores de água

Atualmente, Cristalina conta com 155 barragens que sustentam os pivôs centrais instalados, garantindo sustentabilidade hídrica ao município. Assim, os irrigantes são também produtores de água.

Há mais de 30 anos, quando não havia ainda pivôs instalados, havia menos água disponível nas bacias hidrográficas. Atualmente, o que restringe o ritmo de implantação de novos projetos é a indisponibilidade de energia elétrica por parte da concessionária local.

Outros municípios de Goiás, como Formosa, e de Minas Gerais, como Unaí, já seguem o exemplo de Cristalina. “Os produtores dessas cidades notaram que o sucesso de Cristalina estava nas barragens, que garantem irrigação o ano todo“, aponta Alécio Maróstica.

Para a implantação da barragem, o investimento necessário é de R$ 10 milpor hectare, no máximo,o que se paga já na primeira safra.

Uma novidade em Cristalina é irrigação por salvamento - Crédito Shutterstock
Uma novidade em Cristalina é irrigação por salvamento – Crédito Shutterstock

Os obstáculos

A intenção dos produtores rurais cristalinenses, segundo Maróstica, de elevar o espaço ocupado pela irrigação de 52 mil para 100 mil hectares, exigiria estender a rede de energia elétrica, por parte da Celg, companhia de abastecimento de Goiás. Além disso, ele ressalta que, sem crédito para o financiamento deste tipo de trabalho, o produtor rural precisa tirar o investimento do próprio bolso, se quiser construir as barragens, que não são baratas.

“O problema da falta de água no Brasil não é o recurso em si, mas a gestão, o uso correto, os armazenamentos e investimentos. Só que o agricultor que pretende adotar práticas sustentáveis no campo nem sempre conta com a verba necessária. Uma barragem que reserva cinco milhões de metros cúbicos de água, por exemplo, se for construída individualmente, custará algo entre R$ 800 mil e R$ 1,2 milhão“, ressalta.

A este valor ainda há um acréscimo de R$ 5 mil a R$ 12 mil para a implantação de um projeto de pivôs centrais. “Até hoje só conheço um produtor, da cidade mineira de Unaí, que conseguiu financiamento para construir a própria barragem“, comenta.

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Essa é parte da matéria de capa da revista Campo & Negócios Hortifrúti, edição de junho 2016. Adquira a sua para leitura completa.

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