Manejo e genética, juntos, já tornam realidade a produção de mais de 100 sacas de soja por hectare em diversas regiões no Brasil
Amélio Dall’Agnol
Doutor em Agronomia e pesquisador da Embrapa Soja
O último levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) ““ dez/15 indica uma produção de cerca de 102.000.000 T de soja no Brasil em 2015/16 (em maio já foi reduzida para 100.000.000 T). Este montante poderá variar até o final do ano, visto que temos a soja safrinha e a soja cultivada em Roraima e no Pará, que é colhida mais tarde. Pode, também, variar em função de quem faz o levantamento (IBGE, USDA, Agroconsult, entre outras consultorias).
Segundo informações extraoficiais que recebemos das associações de produtores, as cultivares transgênicas mais plantadas no Brasil não passam de cerca de uma dezena na safra 2015/16, apesar de várias dezenas serem igualmente recomendadas por diversas empresas. Quanto às variedades convencionais, menos de meia dezena se destacaram nas principais regiões produtoras.
Ainda que esse número reduzido de variedades de soja tenha representado os melhores desempenhos, muitas cultivares recém-lançadas no mercado ainda estão em processo de multiplicação de sementes e poderão revelar-se como os materiais mais produtivos para as próximas safras.
Isto porque são variedades produtivas, apresentam boa estabilidade de produção quando plantadas em diferentes latitudes ou em variadas épocas de plantio, têm boa disponibilidade de sementes de qualidade e um marketing eficiente por parte dos seus obtentores.
Potencial produtivo da soja brasileira
Existe o potencial produtivo teórico e o real da soja brasileira. Concursos de máxima produtividade nos Estados Unidos indicaram que é perfeitamente possível conseguir rendimentos de 7a 8 mil kg/ha quando todos os fatores de produção estão presentes em condições ótimas.
No entanto, desenvolvimentos revolucionários podem estar a caminho na área da transgenia e poderão mudar esse patamar para 10 mil kg/ha ou mais. Vale ressaltar que tal situação é apenas uma possibilidade.O americano Kipp Cooler diz já ter produzido 10.600 kg/ha, como recorde histórico.
No Brasil, o Comitê Estratégico Soja Brasil (CESB) realizou vários concursos para premiar os campeões de produtividade e conseguiu produtividades de até 108 sacas de 60 kg/ha (6.480 kg/ha). Em condições normais de lavouras bem administradas, entretanto, são muito viáveis produtividades de 4.000 a 4.500 kg/ha, mas a média nacional, tanto aqui quanto nos EUA e na Argentina, dificilmente supera os 3.000 kg/ha.
De fato, nosso país apresenta grande potencial de crescimento na área cultivada, visto que, entre os grandes países produtores, ele é o único que dispõe de muita terra apta e disponível para aumentar a produção.
A produção mundial precisa crescer porque soja significa carne, e o consumo de carnes está crescendo exponencialmente em nível global, por causa do aumento da renda per capita, sobretudo dos países em desenvolvimento, particularmente os asiáticos.
Manejo especial
Para que uma lavoura de soja atinja o máximo da eficiência produtiva, precisa que a semente seja de excelente qualidade; a época de plantio seja a mais adequada para cada variedade; o espaçamento e a população de plantas precisam ser os mais corretos para cada cultivar e para cada época de plantio; o solo precisa estar bem manejado; a fertilização deve ser a mais correta, tanto em quantidade quanto nos nutrientes oferecidos; a água não pode faltar,principalmente nas fases mais crÃticas de formação das vagens e do enchimento dos grãos; e o controle fitossanitário não pode falhar no manejo de insetos-pragas, doenças e ervas daninhas.
É preciso, ainda, otimizara fertilidade do solo ao longo de anos, promovendo o aumento da matéria orgânica por meio do plantio direto e da rotação de culturas. Isso se deve ao fato de não ser possível transformar um solo pouco fértil apenas adicionando calcário e fertilizantes antes do plantio.
O Brasil como celeiro do mundo
O Brasil tem despertado a atenção do primeiro mundo por sua eficiência na produção agrícola. No lapso de apenas algumas décadas, o país converteu-se de importador para grande exportador de alimentos, e já sinaliza que será lÃder global no fornecimento de comida para o resto do mundo dentro de não mais que uma década, se persistirem os atuais ganhos de produtividade nos campos de produção.
Essa transformação teve início na década de 1970, mas seu desenvolvimento mais expressivo ocorreu a partir de 1990, quando a produtividade média dos cinco principais grãos (trigo, milho, soja, arroz e feijão) era de 1.522 kg/ha, cerca de 130% menor que a produtividade atual de cerca de 3.500 kg/ha.
Isso explica o porquê do avanço da área ter sido pouco superior a 50% no período (36.000.000 ha para 58.500.000 ha) contra o aumento de 262% na produção desses grãos (58.000.000T para 210.000.000T).
