Fernando Kuhnen
Engenheiro agrônomo, doutor e professor da Faculdade Anhanguera de Dourados
O suprimento inadequado de nitrogênio é considerado um dos principais fatores limitantes à produtividade agrícola, sendo o que mais influencia na resposta em produtividade e, na maioria das vezes, mais onera o custo de produção da cultura.
O adubonitrogenadomais utilizado no Brasil e no mundo é a ureia, um composto nitrogenado sólido que se apresenta na forma de grânulos brancos e possui 46% de N na forma amÃdica. E os dados impressionam, pois mais de 90% da produção mundial de ureia é destinada ao uso como fertilizante.
Ainda, o uso como fertilizante o torna um produto menos oneroso que os demais fertilizantes nitrogenados pelo fato de possuir teor de N bem mais alto, o que proporciona um preço mais atrativo por tonelada de N. Desta forma, a ureia apresenta o mais baixo custo de transporte e estocagem por unidade de N.
Mas, a aplicação de ureia em sistemas agrícolas deve considerar os elevados riscos ao meio ambiente, uma vez que este nutriente está sujeito a perdas para o ambiente, principalmente lixiviação e volatilização, mas considera também perdas por erosão e desnitrificação.
Alguns estudos indicam que as perdas por volatilização podem chegar a até 78% do N como ureia,quando aplicado sobre a superfície do solo.
A lixiviação e a volatilização
O processo de perda do N ocorre na sequência do contato da ureia com a urease presente no solo e resíduos, local onde sofre hidrólise, produzindo carbonato de amônio [(NH4)2CO3]. Este, porsuavez, causa aumento no pH, e o N é perdido comoamônia (NH3), um gás volátil.
Ainda, a presença de resíduos vegetais no solo favorece a ocorrência de volatilização quando o adubo nitrogenado é aplicado sobre a superfície do solo. Desta forma, com o aumento do conteúdo de matéria orgânica do solo, o que é determinado em sistema de plantio direto, aumenta a população microbiana, e consequentemente tem-se maior atividade de urease, intensificando a volatilização de NH3.
Um plus na adubação
Uma alternativa muito importante para aumentar a eficiência da adubação nitrogenada no solo tem sido a utilização de fertilizantes com eficiência aumentada. O uso de fertilizantes de liberação lenta, como a ureia revestida, com tecnologias mais avançadas, oferece menor risco de contaminação ambiental por diminuir a lixiviação de NO3-, reduzir as perdas por volatilização, lixiviação e imobilização, apresentar maior praticidade no manuseio dos fertilizantes,diminuir a salinização do solo, fornecer regular e continuamente nutrientes para as plantas, ter menor frequência de aplicações, eliminar os danos causados a raízes pela alta concentração de sais, aumentando a eficiência da absorção e, consequentemente, promover a elevação nas produtividades das lavouras.
Os fertilizantes de liberação controlada atrasam a disponibilidade inicial dos nutrientes, estendendo assim o acesso dos nutrientes para as culturas por maior período e otimizando a absorção pelas plantas, reduzindo perdas.
Este tipo de fertilizante é caracterizado pela cobertura por pelÃculas de enxofre, ou polímeros, o que consiste no recobrimento da superfície do grânulo de fertilizantes solúveis com uma barreira física semipermeável, que permite a solubilidade gradual do nutriente no solo (PEREIRA et al., 2009).
Disponibilidade para o solo
A liberação do nitrogênio dos grânulos de ureia revestida consiste na interação entre a estrutura da membrana do recobrimento dos grânulos e o ambiente.Este processo envolve duas etapas: a dissolução do fertilizante dentro dos grânulos e, após, a difusão do N de dentro dos grânulos para a solução do solo.
A umidade e a temperatura do solo, juntamente com o tempo, fazem a mediação do processo, e a temperatura é o fator que mais influencia na liberação do N, sendo a umidade de menor valor, já que a ureia revestida é aplicada em solos com umidade suficiente.
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Viabilidade
Em trabalho testando várias fontes de N para o milho, os autores Gagnon, Ziadi e Grant (2012), indicaram que a ureia revestida com polímeros é uma alternativa viável para os produtores.
Os autores mencionaram que, apesardo preço da ureia revestida ser em torno de 30% superior ao da ureia convencional, o retorno econômico foi similar ao obtido com as outras fontes de N, considerado três anos agrícolas consecutivos, e ainda constataram que a ureia revestida com polímeros garantiu maior teor de N mineral nos três anos.
Uma alternativa para diminuir os custos com a ureia revestida é a mistura desta com ureia convencional, além de diminuir os impactos da baixa disponibilidade de N no início da cultura.