Alessandra Marieli Vacari
Valéria Lucas de Laurentis
Rafael Ferreira dos Santos
Sergio Antonio De Bortoli
Laboratório de Biologia e Criação de Insetos (LBCI), Departamento de Fitossanidade, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, FCAV/Unesp, Jaboticabal (SP)
A traça-das-crucíferas, Plutellaxylostella (Linnaeus, 1758) (Lepidoptera: Plutellidae), é a principal praga das brassicáceas por reduzir a produção e inviabilizar algumas áreas de cultivo em todo o mundo. Existe uma relação direta entre o desenvolvimento fenológico da cultura e o aumento dos danos ocasionados por P. xylostella, sendo muitas vezes necessária a introdução de medidas de controle ainda no início de formação da planta.
Os danos causados pela traça-das-crucíferas ocorrem durante a fase larval do inseto. Após a eclosão, as lagartas passam a alimentar-se das folhas, caules e brotos vegetativos e ainda das inflorescências, no caso de brócolis. Em caso de ataques severos, podem provocar perdas significativas na produção e, em alguns casos, quando não são adotadas medidas de controle, podem ocorrer perdas de até 100% na produção.
Controle
Algumas das dificuldades observadas no controle de P. xylostella devem-se ao fato de áreas de cultivo coexistirem, durante o ano todo, com plantas de diferentes idades, proporcionando quantidade abundante e contÃnua de alimento, bem como devido ao seu hábito alimentar, que no primeiro estádio da fase larval encontra-se protegida entre as lâminas foliares.
Além do alto potencial biótico, o aparecimento de populações da traça-das-crucíferas resistentes a inseticidas tem concorrido para dificultar seu manejo. Já foram observados mais de 50 inseticidas químicos aos quais P. xylostella apresentou resistência.
No Brasil existem relatos de populações de P. xylostella resistentes a inseticidas que possuem princÃpios ativos comumente utilizados para o seu controle. Foi constatado que organofosforados, carbamatos e piretroides, usados de forma contÃnua contra a traça-das-crucíferas, selecionam populações resistentes, o que obriga os produtores a utilizarem doses mais elevadas.
Bacillus thuringiensis
A bactéria Bacillusthuringiensisse destaca entre os entomopatógenos por ser a mais estudada e utilizada no manejo integrado de pragas. Pode ser encontrada em diferentes regiões do mundo e em diversos substratos, como solo, água, insetos mortos e superfície de algumas plantas.
Durante a esporulação e/ou fase estacionária, esse microrganismo produz inclusões proteicas cristalinas (cristais proteicos) chamadas δ-endotoxinas ou proteínas Cry com atividade entomopatogênica para várias espécies de insetos, como os das ordens Lepidoptera, Coleoptera e Diptera.
Os cristais proteicos atuam na fase larval dos lepidópteros e, ao serem ingeridos, são solubilizados no intestino médio devido à ação do pH alcalino e de proteases, ativando as protoxinas (proteínas Cry).
As toxinas se ligam a receptores específicos localizados no epitélio intestinal, formando poros que propiciam o extravasamento do conteúdo intestinal para a hemocele. Como consequência, a lagarta para de se alimentar, torna-se imóvel e morre por inanição ou septicemia.
Produtos à base de Bacillus thuringiensis
Devido a sua alta especificidade e por não oferecer riscos ao meio ambiente, as proteínas Cry são importantes alternativas aos inseticidas químicos para o controle de pragas na agricultura.
No mercado de bioinseticidas, os produtos à base de B. thuringiensis são os mais utilizados e representam cerca de 53% de todos os bioinseticidas vendidos mundialmente.
De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil, os produtos à base de B. thuringiensis registrados e autorizados no mercado brasileiro para o controle de P. xylostella são: Agree® (B. thuringiensisvar.aizawai GC-91, da empresa Bio Controle; Bac-Control WP® (B. thuringiensis var. kurstaki, da empresa Vectorcontrol; Bactur WP®, da empresa Milenia Agrociências; Dipel WP®, da empresa Sumitomo; Thuricide®, da empresa Bio Controle; Xentari®, da empresa Sumitomo; e Able®,da empresa Sipcam.
Todos esses produtos são recomendados para o controle de P. xylostella e muitos deles na cultura do brócolis e, apesar da eficiência no controle, também têm sido relatados casos de seleção de populações resistentes da praga a várias toxinas de B. thuringiensis.
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