O ensacamento das pencas de tomate, técnica de proteção da cultura, traz vários benefícios, entre eles a eliminação da broca da lavoura, sem resíduos de agrotóxicos
José Ronaldo de Macedo
Pesquisador da Embrapa Solos
A tecnologia do Tomate em Cultivo Sustentável (TOMATEC®) foi desenvolvida pela Embrapa Solos, cujo propósito básico é o melhoramento do cultivo do tomate de mesa por meio de práticas agronômicas sustentáveis. A adoção do sistema TOMATEC® promove melhorias ambientais, técnicas, econômicas e sociais.
Os avanços tecnológicos, descritos como os seis princÃpios básicos desse sistema, incluem o plantio direto na palha, o planejamento conservacionista do solo, o uso do gotejamento como sistema de irrigação; a fertirrigação, que é a adubação via água de irrigação; o uso do fitilho para o tutoramento das plantas, o que tem favorecido a renovação do ar, a condução vertical das plantas, facilitando a desbrota, o raleio dos frutos e a pulverização da lavoura; o manejo integrado de pragas ““ MIP como forma de monitoramento das pragas e doenças das lavouras, a recomendação precisa do produto a ser usado e, finalmente, a proteção física dos frutos por meio do ensacamento das pencas com papel glassyne.
João e Secchi (2002) já relatavam a importância do uso do ensacamento como prática para o controle de diversas pragas nas mais diversas culturas, como goiaba, banana, uva, graviola, maracujá, laranja e até em tomate. O detalhe é que o ensacamento objetivava apenas a proteção física contra os danos causados pelas pragas nos frutos, sem a preocupação quanto à presença ou ausência de resíduos de agrotóxicos nos frutos ensacados.
Mas e o preço?
A produção de tomate com base no sistema de produção TOMATEC® foi criada para responder a uma pergunta de um produtor do município de São José de Ubá, SÃlvio Vieira Silva. Ele questionou que produzia tomate seguindo os conceitos conservacionistas do solo recomendados pela Embrapa Solos, porém, não conseguia um preço diferenciado para o seu produto.
Respondi a ele que o consumidor urbano dá muito valor a produtos sem resíduos de agrotóxicos. A partir desta resposta desenvolvemos a última ação, que é o ensacamento das pencas, para atingir o objetivo de frutos de tomate sem resíduos de agrotóxicos.
O conjunto dessas práticas agronômicas tem proporcionado a redução na quantidade de aplicações de agrotóxicos e a produção de frutos saudáveis, com níveis de agrotóxicos abaixo do limite de detecção (<LQ) dos modernos equipamentos de laboratórios de análises de resíduos em alimentos de consumo humano. Neste caso, temos adotado o conceito “Livre de ResÃduos de Agrotóxicos“.
Como consequência dessas práticas vieram os ganhos de produtividade e de qualidade dos frutos devido, principalmente, à redução nas perdas de frutos e à ausência de resíduos de agrotóxicos, consequência direta do ensacamento das pencas de tomate na fase de floração.
O ataque
Os principais insetos-broqueadores do tomate são as brocas pequena (Neoleucinodeselegantalis) e grande (Helicoverpaspp) e as condições climáticas favoráveis são temperatura e umidade relativa altas. Esses insetos-broqueadores se alimentam do endocarpo (polpa) dos frutos, permanecendo os orifÃcios de saÃda ao término do período larval.
Ensacamento das pencas de tomate evita brocas
A literatura relata que as perdas de frutos de tomate em lavouras tradicionais estão na faixa de 15 a 25% da produção total de caixas e que, em casos severos dos insetos-broqueadores (brocas grande e pequena) podem atingir valores de 50% de toda a produção, mesmo com o uso indiscriminado de agrotóxicos.
De acordo com o trabalho de Tiba Ferreira (2013), em que o ensacamento foi realizado na abertura da terceira flor de cada cacho com raleio delas, deixando cinco a seis flores por penca e a lavoura foi conduzida com os conceitos do sistema orgânico de produção, o ensacamento foi fundamental para a redução do ataque da broca, especialmente com papel pardo, que apresentou menos de 30% de frutos brocados.
Já nas áreas sem o ensacamento, mais de 60% dos frutos estavam brocados. Esses dados são para as produções em campo aberto ou em áreas com estufas com laterais abertas, chamado “efeito guarda-chuva“, pois a cobertura é feita apenas nas regiões de altas precipitações, o que dificulta a prática do ensacamento.
As principais razões para a redução nas taxas de perdas de frutos estão relacionadas às práticas do ensacamento e do manejo integrado de pragas. O ensacamento com papel granapel ou glassyne funciona como uma barreira física que impede a ovoposição pelos insetos-broqueadores e a consequente infestação do fruto pelas lagartas.
Nas lavouras sem o ensacamento, os danos causados aos frutos são irreversÃveis e os mesmos são descartados para a comercialização e deixados na própria lavoura, o que faz manter alto o Ãndice de infestação dessas pragas, realimentando assim o processo.
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