A palhada reduz o efeito estufa e aumenta a matéria orgânica, retendo umidade no solo. Seu manejo reduz,ainda,a incidência de nematoides, mofo-branco, rizoctonia e fusarium, assim como facilita o manejo de plantas daninhas
É inquestionável que o sistema de plantio direto (SPD) é o método de cultivo que mais preserva o solo. Então, existe o SPD porque existe palha ou existe palhada porque existe o SPD? Ramon Costa Alvarenga, pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo, explica que a palhada está diretamente ligada à preservação do solo.
“Com ela a condução da lavoura se torna mais fácil e a garantia da produção aumenta por causa da conservação da umidade no solo, especialmente em regiões onde existe risco de frustações de safra pelo veranico. Ela ajuda a reduzir a erosão onde perdas de solo, de nutrientes e de matéria orgânica podem ser grandes. É fonte primária de alimento aos micro e mesorganismos do solo e fornece nutrientes às plantas depois que é decomposta“, esclarece.
A matéria orgânica do solo advém, em grande parte, da palhada e desempenha papel fundamental nos processos químicos, físicos, físico-químicos e biológicos, e dá estabilidade à estrutura do solo.
Mais sustentabilidade para o mundo
Ademir Vieira da Silva, engenheiro agrônomo, empresário, consultor em Marketing e Gestão de Negócios, garante que no ambiente dotado de matéria orgânica há grandes possibilidades de produzir com maior produtividade, recuperando as áreas degradadas, especialmente as de pastagens. “Temos um total de área no Brasil de 160 milhões de hectares de pastagem, sendo que metade, ou mais, está degradada. Tendo 30 milhões de hectares degradados com potencial agricultável, podemos quase dobrar a nossa produção sem precisar derrubar uma árvore do cerrado ou da Amazônia“, avalia.
Produzir mais matéria seca ou orgânica proporciona maior retenção/fixação de gás carbônico e maior produção de oxigênio, o que vem de encontro àsustentabilidade ambiental.
Não basta produzir mais e ter mais qualidade – é importante ter sustentabilidade do negócio protegendo o meio ambiente. “Por exemplo, se eu produzo o que retém mais gás carbônico, estarei indo de encontro a colaborar na solução de um problema global. Tenho que ter consciência de que eu estou melhorando o meu ambiente, aquele em que nós vivemos. Se eu tenho pastos degradados, eu geromais gáscarbônico, o que é ruim para o meio ambiente“, pontua Ademir Vieira, acrescentando que a palhada também mantém a umidade do solo, possibilitando ao agricultor ser um produtor de água.
Quando se tem um metro de altura de uma planta forrageira é sinal que há potencial de ter mais que o dobro do sistema radicular, e se esse for abundante tanto na vertical como na horizontal, depois de morta asraízes da planta também ajudarão na infiltração da água, melhorando a fertilidade e trazendo para a superfície elementos que estavam sendo perdidos, como fósforo, nitrogênio e potássio. Com o solo corrigido, a raiz consegue ir até dois metros de profundidade.
Papel fundamental
A palhada ou a cobertura morta do solo pelos resíduos vegetais desempenha um papel importante em várias frentes quando se considera o manejo e a conservação do solo e da água, entre os quais Ramon Costa aponta:
ÃœProteção mecânica ao solo: atenua ou impede o impacto de agentes externos que podem causar danos ao solo. O exemplo clássico é a chuva. O impacto da gota de água atingindo o solo pode desagregá-lo e desprender os torrões, que assim são facilmente transportados pela água de escorrimento superficial (enxurrada). A palhada, neste caso, funciona como dissipador da força da água em desagregar o solo. Não havendo partículas (torrões) soltas, há pouca probabilidade de haver perda de solo.
Além disso, a palhada funciona como microbarreiras na superfície do solo, evitando que a água que não se infiltra ganhe velocidade de escorrimento, o que aumenta a sua capacidade de arrastar partículas de solo. Também é barreira ao crescimento de plantas daninhas e de fungos.
Ainda, pode-se considerar o fato de a palhada contribuir, em diferentes escalas, para a redução da pressão causada pelas rodas e outras partes de veículos e equipamentos sobre o solo. Isto ajuda a prevenir a compactação superficial.
ÃœManutenção da qualidade física do solo: prevenindo a desagregação do solo, não haverá partículas soltas em suspensão na água que, ao se infiltrar no solo, leva estas partículas que vão obstruir os macroporos ou formar uma fina camada de encrostamento superficial. Isso prejudicaria a própria infiltração de água que, ao invés de se infiltrar, poderia escorrer na superfície. As trocas gasosas também ficam prejudicadas nesta situação.
ÃœManutenção da qualidade biológica do solo: as condições de temperatura e umidade do solo são decisivas sobre a qualidade do ambiente e, por conseguinte, sobre a vida no solo. Assim, a palhada regula, até certo ponto, estes dois ciclos, evita variações muito grandes de temperatura no solo, tornando o ambiente mais saudável para os organismos vivos, nos quais se incluem as plantas cultivadas. Por exemplo, numa determinada região, em solo sem palha, a temperatura mais alta diurna pode chegar a mais de 50°C e menos de 10°C Ã noite, uma queda de 40°C em menos de 12 horas.
Nesta mesma região, havendo a palhada sobre o solo, esta amplitude é bem menor, por exemplo, 10°C a 30°C nas horas mais quentes do dia e 20°C a menor temperatura noturna. Isto tem influência também sobre a umidade: quanto maior a temperatura, maior a possibilidade de evaporação (perda de água). Então, mais palhada quer dizer mais água e melhor qualidade do ambiente no solo.
Ademir Vieira acrescenta que a presença da palha (principalmente de braquiária) diminui a ocorrência de vários fungos, como rizoctonia, fusarium e mofo-branco, que é um sério problema na soja. Diminui-se, então, o uso de fungicida.