Sentindo na pele
Matias Johanes Henrique Michelsé proprietário da Agropecuária Michels, localizada no município de Romaria (MG), onde produz sementes e grãos de soja, milho, e ainda café, feijão, trigo e ervilha.
O feijão sempre foi seu carro-chefe, cultura adotada em 1986.De lá para cá a área irrigada aumentou, bem como o cultivo de feijão. Entretanto, nos últimos três anos essa cultura trouxe receios, e a área foi reduzida. “O primeiro fator foi a mosca-branca, uma praga que está trazendo muitos danos no Triângulo Mineiro.Há três anos, plantávamos dois mil hectares de feijão por ano. TÃnhamos área irrigada, e depois o plantio das águas, de outubro a dezembro. Quando chegava o inverno, dos primeiros pivôs que tirávamos milho, plantávamos feijão no mês de janeiro, e quando chegava março, colhÃamos o feijão e plantávamos o trigo. FazÃamos cinco culturas em dois anos“, conta.
Com o aumento da incidência da mosca-branca e com alguns produtos que foram banidos do mercado, o jeito foi recuar. “Quando o produto foi cortado a pressão da mosca-branca aumentou mais ainda, inviabilizando o plantio de feijão entre os meses de janeiro e março. Por isso começamos a plantar o feijão de abril em diante, quando o clima está mais frio. Em contrapartida, aumenta a incidência de mofo branco e o período de irrigação, porque o feijão, em condições normais de verão, tem ciclo de até 90 dias, e aquele plantado em abril tem o ciclo prolongado em até 120 dias. São 30 dias amais com a cultura no campo tendo gastos com fungicidas, inseticidas e irrigação“, lembra o produtor, que teve suas produtividades devastadas devido ao controle ineficiente da mosca-branca.
As lavouras, que entregavam produtividades médias de 55 a 60 sacas, no sistema irrigado, agora não chegam a 50. Para quem já alcançou tetos de 80 sacas por hectare, foi um susto. E não só a mosca-branca causou todo esse problema. Com ela vieram o fusarium, rizoctonia e nematoides, aproveitando que a planta estava debilitada.
Para piorar, o clima mais frio prejudicou as lavouras. No inverno, o feijão aumenta o ciclo em 30 dias por causa da temperatura, e dependendo da situação fica estagnado.
O outro lado da moeda
Para Matias Johanes, o preço do feijão subiu por diversos fatores. “Em primeiro lugar, a mosca-branca, que prejudicou muito a cultura, e em segundo a ausência do governo para comprar o feijão quando chegou ao preço mÃnimo estipulado. Isso desestimulou o produtor, que começou a amargar prejuízos por três anos.Para agravar, tivemos aumento da energia elétrica em 2015, que inviabilizou o cultivo do feijão. Diante disso tudo, ainda teve o alto preço da soja, incentivando os produtores de feijão a migrarem para essa outra cultura“, pontua.
Em 2013, o produtor trabalhava o preço de venda do feijão entre R$ 120,00 a R$ 170,00 a saca de 60 kg, e entre 2014 e 2015 despencou até chegar a R$ 60,00, o que não pagou nem o custo de produção.
Neste ano o segmento deu uma guinada, chegando a R$ 450,00 a saca devido à escassez no mercado, sendo que o Brasil tem na base de sua alimentação o arroz e o feijão. “Acredito que os preços do feijão vai normalizar em janeiro de 2017, pois a safra das águas no Estado de São Paulo e Paraná começam a partir e setembro, e entrarão no mercado em janeiro/fevereiro. Depois vem a colheita de Minas Gerais e Goiás, aumentando a oferta e reduzindo a demanda. diminuindo o preço atual do feijão“, avalia Matias Johanes.
Do prejuízo ao lucro
Mateus Tavares Matias dos Santos é engenheiro agrônomo e gestor da fazenda Nossa Senhora Aparecida, no município de Nova Ponte (MG), onde são cultivados cereais sob três pivôs irrigados, que somados chegam a 168 hectares. São plantados, ainda, 600 hectares em sequeiro. Para o plantio do feijão foram destinados 68 hectares.
Dos três anos que está plantando feijão, Mateus diz que esse é o primeiro que espera lucro. “No primeiro ano de plantio tivemos problemas com a mosca-branca, equase não colhemos, o que se repetiu em 2015. Da produtividade de 40 sc/ha que esperávamos, produzimos apenas 15. Além de não produzirmos bem, o custo de produção foi muito alto, porque tÃnhamos que entrar na lavoura com defensivo agrícola dia sim dia não, para tentar combater a praga, mas não teve jeito“, lembra o agrônomo.
Ele conta que a infestação de mosca-branca se deu muito em função dos plantios de soja da vizinhança. Mateus até tentou o plantio do feijão em maio para fugir da praga, e evitou o cultivo de batata em volta da lavoura de feijão, entrando com gramÃneas, sorgo e milho, o que mostrou resultados. “Adotamos a eliminação de plantas daninhas hospedeiras como a buva que hospeda muito a ninfa e passamos a plantar o feijão no inverno. Além disso, tratamos a semente com nicotinoide, que dá residual até a primeira folha, com rotação de ativos de produtos. Depois de muito aprender, o controle atual está bom,com pouca ninfa e quase sem adultos damosca-branca“, revela o agrônomo.
A dura realidade
Nos últimos anos que plantou feijão, Mateus conta que o preço estava bom, mas quando colheu em maio o feijão plantou em fevereiro, o preço estava a R$ 15,00 a saca de 60kg. “Vendemos o feijão a R$ 30,00 em 2014, para se ter uma ideia.Fora esse prejuízo da mosca-branca, colhemos feijão com baixa qualidade,o que degradou o preço“, lamenta.
Em 2016 o agrônomo espera vender a saca de 60 quilos a pelo menos R$ 300,00 para pagar o custo, que também aumentou em torno de 60% por causa da mosca-branca e do fusarium, que também precisou ser controlado.
O feijão que está entrando no mercado agora não será o suficiente para suprir a demanda, e por isso os produtores esperam que o preço de R$ 400,00/sc se mantenha, o que será bom para Mateus, que colherá no final de agosto uma variedade com ciclo de 100 dias.