Evento realizado em Uberlândia traz as inovações do setor de trigo e continua o trabalho de incentivo ao plantio na região do cerrado
No dia 17 de junho, em Uberlândia (MG), foi realizado o III Encontro Produtores de Trigo do Moinho Sete Irmãos. A programação envolveu o mercado do trigo, que teve palestra ministrada por Luiz Carlos Pacheco, renomado especialista em comercialização agrícola, que falou sobre os obstáculos do setor.
“O mercado de trigo está muito promissor para este ano. Vamos ter um cereal de boa qualidade e produtividade, porque o clima na região sul, que engloba os dois principais Estados produtores, está favorável para a atividade. Em 2015, por exemplo, o Paraná tinha 90% de trigo em condições boas e excelentes, 9% em condições médias e 1% em condição ruim. Neste ano, 99% estão em condições boas e excelentes, e apenas 1% em condição média, ou seja, nada em condição ruim. Por isso estamos esperando uma boa safra“, discorreu o profissional.
Todas essas boas condições têm se confirmado não só no Paraná, mas também no Rio Grande do Sul, Argentina e Paraguai. “A Argentina tem um ponto positivo a mais. No ano passado, aqueles produtores plantaram sob o regime de um governo ruim para a agricultura, que barrou o investimento em tecnologia no trigo, fazendo cair a área de produção. Com o novo governo deste ano, o imposto de exportação de 23% foi retirado, motivando novamente os produtores, que vão aumentar a área em um milhão de hectares“, relatou o palestrante.
Dicas
Seis foram as dicas dadas por Luiz Carlos, para o sucesso na produção de trigo. A primeira é fazer a análise do custo de produção, pois se o produtor não sabe quanto custa seu trabalho, não entenderá o valor que está sendo oferecido, assim como não será possível dimensionar o lucro ou o prejuízo.
A segunda dica é que, ao chegar à conclusão de um preço que lhe seja favorável, o produtor evite especulação, pois pode perder chances boas de comercialização, por não vender no momento adequado.
A terceira dica é não vender só no momento que precisar de dinheiro, porque o preço pode despencar. “O ideal é guardar uma poupança para salvar dÃvidas urgentes, mas não esperar o dia de pagar as contas para vender correndo, porque geralmente a venda é mal feita“, alerta o especialista.
A quarta dica dada por Luiz Carlos é não querer “˜números redondos’, o que quer dizer que muitos agricultores ficam esperando a saca de trigo sair de R$ 43,00, por exemplo, para R$ 45,00, o que pode ser uma cilada, porque ao invés de subir, o preço pode cair.
A próxima dica é não se prender à safra anterior. Isso porque, quando uma cultura dá muito lucro em um ano, todos se empolgam em plantá-la, fazendo aumentar a oferta e cair o preço. Por isso, a recomendação é nadar contra a corrente, e não a favor dela.
A sexta dica é um erro fatal. “O produtor acha que não tem que seguir o mercado e que é obrigação do governo comprar dele. A agricultura, como qualquer empreendimento, tem três pernas: produção, administração e venda. Assim, não basta produzir. É preciso vender bem. Se uma das pernas não funcionar, o negócio trará prejuízos“, alerta Luiz Carlos, que sugere um “˜upgrade’ na cabeça do produtor, que deve pensar como um empresário rural e calcular diariamente a medida de lucro da sua atividade, que para ser bom deve ficar entre 10 a 15%.
Novas variedades
Deodato Matias Júnior, da Biotrigo foi o próximo palestrante do evento, e destacou o melhoramento genético na região de Passo Fundo (RS), especialmente o trabalho da Biotrigo, que também atua no Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Distrito Federal, entre outros.
Segundo ele, o mercado tritÃcola vem crescendo em todo o Brasil, e por isso a Biotrigo quer entregar diferenciais não só no campo, mas na indústria, o que já foi comprovado pelo Moinho Sete Irmãos.
“Demos destaque ao Sintonia, um material que vem sendo semeado na região do Cerrado, com resultados importantes tanto na indústria como no campo. De ciclo precoce, sua recomendação é para sequeiro e irrigado, e ainda tem resistência a doenças de difícil controle, como a brusone. Outro destaque foi o Noble, um material de ciclo mais curto. Trata-se de um trigo soft, com qualidade diferenciada principalmente na cor, que comparado ao mercado, é mais branca, classificado como branqueador. Este é um material que deve entrar no Cerrado para atender possivelmente a indústria“, informa Deodato Matias.
Sintonia, que já está há algum tempo no Cerrado, sendo o carro-chefe da Biotrigo, principalmente no Alto ParanaÃba e Sul de Minas, traz como destaque o rendimento e a qualidade industrial. “Produção é importante, e o que paga as contas do produtor rural, mas a Biotrigo está atenta a atender também a indústria, com teto produtivo, resistência a doenças e liquidez no mercado“, diz o profissional.
Melhoramento genético
Julio Cesar Albrecht, pesquisador da Embrapa Cerrados, palestrou no evento sobre as cultivares que a instituição oferece para plantio no Cerrado. “A principal variedade cultivada hoje no Cerrado Central é a BRS 264, para cultivo tanto irrigado quanto sequeiro, com produtividade de 6 a 7,5 t/ha, altamente precoce, e a BRS 394, que é o lançamento mais recente da Embrapa, com alta qualidade para panificação, altamente produtivo e precoce. A perspectiva é que este material alcance entre 7,5 e 8 t/ha“, enumera.