LÃsias Coelho
Engenheiro florestal, Ph.D. e professor do ICIAG-UFU
Túlio Vieira Machado
Engenheiro agrônomo e mestrando em Fitotecnia – ICIAG-UFU
Ernane Miranda Lemes
Engenheiro agrônomo, M.Sc. e doutorando em Fitotecnia – ICIAG-UFU
Arthur Franco Teodoro Duarte
Graduando em Agronomia – ICIAG-UFU
O produtor que pretende iniciar no ramo da heveicultura deve procurar bastante informação a respeito da atividade para ir se habituando à cultura, e então, quando chegar o momento de implantá-la em sua propriedade, esteja preparado para lidar com os problemas que possivelmente surgirão.
Deve atentar-se, primeiramente, Ã escolha da área para o plantio, procurando por requisitos como uma área desfavorável ao mal-das-folhas (Microcyclus ulei), com pluviosidade média anual de 1.200 mm e período seco bem definido. Estes dois aspectos são típicos da região do cerrado, considerada uma área de escape do mal-das-folhas.
Além disso, a área deve apresentar solo profundo, bem drenado, livre de lajes e pouco declivosa (<10%), caso se pretenda fazer todas as operações mecanizadas. Maiores declividades poderão ser restritivas à mecanização e exigirão mais operações manuais ““ estas são mais aplicadas em pequenas áreas, como na agricultura familiar.
Na área escolhida deve-se começar o processo de preparo do solo fazendo o corte e destocamento de árvores que venham a impedir ou atrapalhar a implantação da cultura. Uma tendência tem sido a implantação do seringal em áreas que eram ocupadas por pastagem. Neste caso, a destoca se resume à remoção de árvores isoladas, o que deve ser feito com autorização do órgão ambiental.
Além disso, será preciso atentar tanto para a recuperação da fertilidade do solo como para o controle das plantas infestantes (ou do antigo pasto, que crescerá vigorosamente após a fertilização do solo). Uma alternativa interessante, neste caso, é o cultivo de soja ou milho por duas ou três safras. Estas culturas demandam fertilidade e controle de mato, deixando o solo mais apto para o seringal, além de capitalizar o produtor.
Sem erros
Quando o produtor começa a investir em um ramo ainda pouco conhecido por ele, ou quando não tem acompanhamento técnico, pode cometer erros simples, mas que poderiam ser evitados se houvesse uma instrução correta.
Dentre os erros mais comuns cometidos nesta etapa de implantação do seringal estão: o plantio em áreas de solo raso ou com a presença de lajes; a má dessecação das plantas infestantes presentes na área pré-plantio; marcações erradas das linhas de plantio; não reservar as faixas que servirão de cabos elétricos e postes de energia; colocar as mudas na cova sem observar se estão com a enxertia voltada para o sul (que recebe menos radiação solar durante o dia e “castiga“ menos as mudas que ainda estão se adaptando ao novo ambiente); esquecer de retirar o fundo do saco plástico das mudas; não dar o devido descanso às mudas recém-chegadas do viveiro (1-2 dias), e não fazer o controle de formigas cortadeiras.
Para evitar que ocorram erros durante a implantação do seringal, o ideal é que tenha sempre um responsável técnico acompanhando o plantio, junto com um projeto feito especificamente para a atividade na área, e que o produtor siga à risca o que está definido no projeto.
Caso o produtor opte, ele poderá recorrer a outras formas de plantio que no geral são mais dispendiosas, como a contratação de empresas especializadas em implantação de seringais, as quais devem ser conhecidas pelo produtor antes de fechar qualquer acordo.
O ideal, antes da implantação, é que o produtor visite algumas áreas já implantadas para ir se habituando à atividade.
A escolha certa
A escolha do terreno é o primeiro passo a ser dado, e de certa forma o mais importante, porque sua implantação é definitiva, e nessa área o produtor fará um investimento para os próximos seis a sete anos antes que comece a ter algum retorno, e a cultura permanecerá ali por mais 30 ou 40 anos, em média.
O local do seringal também deve ser próximo a fontes de água superficiais, ou contar com poços artesianos, pois após o plantio das mudas elas devem ser irrigadas para que ocorra a saÃda do ar de dentro da cova.
Caso o produtor opte por não colocar irrigação por gotejo e prefira fazê-la manualmente por meio de caminhões pipa ou tanques acoplados ao trator, ele precisará de uma fonte de água próxima ao seringal.
O cultivo da seringueira não exige preparo de solo em área total, podendo ser feito todo o trato cultural apenas nas linhas de plantio, com as devidas correções do solo ““ sempre com base em análise de solo ““ e procurando manter o teor de saturação de bases em torno de 50%.
O terreno ideal é aquele que apresenta solos profundos, bem drenados, sem a presença de camadas que impeçam que as raízes da seringueira desçam bastante no perfil do solo. Não precisa ser plano, mas também não é aconselhável que ele tenha uma declividade muito acentuada, superior a 10%.
Em todo caso, é necessário que sejam feitas curvas de nível, com terraceamento, para evitar erosões e propiciar a melhor conservação do solo. O produtor deve atentar para o plantio de mudas sempre em linhas perpendiculares à declividade, ou acompanhando as curvas de nível.
Neste caso, poderá haver alguma variação no espaçamento entre plantas e linhas, uma vez que nem toda linha terá continuidade de um lado até o outro da área planejada.
Importância das mudas de qualidade
As mudas a serem plantadas devem ser de ótima qualidade, com atestado de sanidade fitossanitária e certificado de origem do viveiro, o que nem sempre é possível. Em qualquer caso, é muito importante examinar as mudas, ainda no viveiro (antes de serem despachadas para o local de plantio), quanto à presença de manchas foliares, como as lixas tÃpicas de mal das folhas, e um laudo de laboratório que ateste a ausência dos nematoides Pratylenchus spp. e Meloidogyne exÃgua, porque se estes forem introduzidos na área nova, certamente a vida útil do seringal será muito menor e não há métodos eficientes para eliminá-los.