Clóvis Albino Perin
Especialista em Produção Vegetal, CP Assessoria Agropecuária
Evandro Cezar Nogara
Engenheiro agrônomo, CP Assessoria Agropecuária
evandro_cpassessoria@hotmail.com
Em termos mundiais, o Brasil é o segundo maior produtor de soja, e em termos nacionais, a soja é uma das principais culturas anuais, mas a produção de grãos por unidade de área ainda é baixa em relação ao potencial produtivo da cultura.
Recordes de produção são obtidos por meio de um conjunto de práticas culturais que visam adequar o ambiente à cultura da soja. Uma das práticas culturais que poderia ser utilizada para melhorar o desempenho da cultura da soja é a aplicação de biorreguladores e fertilizantes foliares.
Com o intuito de alcançar maiores retornos econômicos pelo incremento na produtividade da cultura da soja, faz-se necessária a continuidade no processo de geração de informações, provenientes das pesquisas dirigidas, que avaliem práticas inovadoras de manejo, como o uso de biorreguladores e fertilizantes foliares.
Reguladores vegetais ou biorreguladores possuem ampla aplicabilidade na fitotecnia em inúmeras culturas, e podem ser denominados substâncias ou associações, com a presença de análogos químicos de hormônios vegetais.
Contudo, existem poucos relatos sobre a aplicação de biorreguladores na cultura da soja no território brasileiro. WEAVER (1976) relata que os órgãos vegetais podem ser influenciados por biorreguladores, de maneira que a morfologia da planta pode ser alterada.
Várias pesquisas na própria sojicultura atestam a funcionalidade de biorreguladores (KLAHOLD et al., 2006; ÁVILA et al., 2008; CAMPOS et al.,2008; MOTERLEetal.,2008;CAMPOS et al., 2009); porém, perduram posicionamentos técnico-cientÃficos a serem consolidados diante do seu emprego em espécies como a soja, que já atingiram elevado nível tecnológico. Tal retrato vigorante impõe a constante reformulação, adaptação de tecnologias e a introdução racional de novas tecnologias, como o uso e manejo de biorreguladores.
Destaque
Dentre os biorreguladores mais estudados pela sua aplicação nas plantas podem-se citar as auxinas, as citocininas e as giberelinas. O crescimento e desenvolvimento das plantas são regulados por uma série de hormônios vegetais, cuja biossíntese e degradação se produzem em resposta a uma complexa interação de fatores fisiológicos, metabólicos e ambientais.
TAIZ  & ZEIGLER (2004),relatam que as auxinas foram os primeiros hormônios vegetais descobertos pelo homem, e esses estão relacionados ao crescimento das plantas no que diz respeito aos mecanismos de expansão celular. Já as citocininas foram descobertas em estudos referentes à divisão celular em plantas.
A sua atividade está ligada à senescência foliar, à mobilização de nutrientes, à dominância apical, à formação e à atividade dos meristemas apicais, ao desenvolvimento floral, à germinação de sementes e à quebra de dormência de gemas, além de mediar muitos aspectos de desenvolvimento regulado pela luz, incluindo a diferenciação dos cloroplastos, o desenvolvimento do metabolismo autotrófico e a expansão de folhas e cotilédones.
Os biorreguladores
Na década de 50, caracterizou-se um grande grupo de hormônios com mais de 125 representantes e a estes foram denominados de giberelinas. Suas funções estão associadas ao crescimento caulinar e à aplicação desse hormônio a plantas pode induzir aumentos significativos nas suas estaturas (TAIZ & ZEIGLER, 2004).
Os mesmos autores destacam o alongamento causado pelas giberelinas em bainhas de folhas de arroz.
Os biorreguladores presentes são ácido ÃndolbutÃrico (auxina) 0,005%, cinetina (citocinina) 0,009% e ácido giberélico (giberelina) 0,005%. Segundo esses mesmos autores, esse biorregulador químico incrementa o crescimento e o desenvolvimento vegetal, estimulando a divisão celular, a diferenciação e o alongamento das células. Também aumenta a absorção e a utilização dos nutrientes e é especialmente eficiente quando aplicado com fertilizantes foliares, sendo também compatÃvel com defensivos.
O presente trabalho tem por objetivo avaliar o desempenho do usode Setting BR na arquitetura de plantas, produtividade e qualidade de sementes da cultura da soja.
Material e métodos
O experimento foi conduzido a nível de lavouras da região norte do Estado do Rio Grande do Sul, nos municípios de Campinas do Sul, Erebango, Erechim, Faxinalzinho, Ipiranga do Sul, Jacutinga, Paulo Bento, Quatro Irmãos e Sertão.
O solo da região é caracterizado como Latossolo vermelho distrófico (Embrapa/Iapar, 1984), com teores de argila acima de 60% e com altitudes variando entre 620 e 750 metros.
A região apresenta clima subtropical, e nessa safra (2015/16) esteve sobre forte influência do fenômeno El niño, principalmente nos meses de outubro a janeiro, quando as precipitações foram acima da média histórica para essa época.
O experimento constituiu-se em 20 lavouras diferentes, sendoque em cada uma destas foram feitas duasparcelas (uma com Setting BRÂ e outra como testemunha), lado a ladocom cinco hectarescada, totalizando 200 hectares de área experimental.
Foram utilizadas 12 cultivares de soja (P 95R51 RR, NS 5445 IPRO, NS 6909 IPRO, NS 6209 RR, NA 5909 RR, NS 5959 IPRO, DM 5958 IPRO, BMX ELITE IPRO, BMX VANGUARDA          IPRO, FPS SOLIMÕESRR,FPSDESAFIORR,FPS JÚPITER RR), as quais representam a maioria das lavouras da região.
As populações ficaram entre 260 e 320 mil plantas/ha, conforme a recomendação oficial para cada cultivar.A semeadura das áreas foi realizada no período entre 05/10/2015 e 10/12/2015. As adubações utilizadas foram à base de monoamônio fosfato (MAP= 11-52-00) e cloreto de potássio (K2O= 00-00-60), sendo que o K2O foi aplicado a lanço em pré-plantio e o MAP na linha de semeadura, ambos nas dosagens baseadas previamente por análises de solo.
O produto Setting BR é comercializado pela empresa Plant Defender, e tem como garantias: nitrogênio (N) 9%, fósforo (P2O5) 3,3%,e potássio (K2O) 3%, registrado no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento de São Paulo (MAPA- SP) sob o número 80431 10046-1.
Neste experimento a dose utilizada foi de 30 g.ha-1 do produto comercial, sendo aplicado entre os estádios V3 e V4 da cultura (fotos1 e 2), aproximadamente 25 dias após o plantio, junto com o herbicida. Todos os demais tratos culturais foram realizados igualmente e juntamente com o restante da lavoura, inclusive as parcelas de testemunha.
A colheita foi realizada com colhedora automotriz em uma grande parte de cada parcela, em que a área colhida foi medida com auxÃlio de aparelho de GPS, e o produto pesado separadamente em balanças comerciais. Os dados obtidos nos campos experimentais foram tabulados e submetidos à análise estatÃstica para melhor compreensão e apresentação dos resultados.
Resultados e discussão
Nas parcelas onde o produto Setting BR foi aplicado houve um aumento no número de internódios por planta, e consequentemente maior número de galhos e vagens, mas não houve diferença na altura das plantas quando comparadas com a testemunha, como podemos observar nas figuras a seguir.
Na foto3 podemos observar que a altura das duas plantas (come sem Setting BR) possuem a mesma altura, porém, quando observamos o número de internódios e, principalmente, de galhos, a diferença é muito visÃvel.
As plantas tratadas com Setting BR possuem, em média, três internódios por planta a mais que a testemunha, além de maior quantidade e tamanho de galhos, e consequentemente maior número de vagens, como nos mostramas fotos 6 e 7.
A foto7 nos mostra que também foram encontradas diferenças na espessura do colmo, sendo que as plantas tratadas com Setting BRÂ apresentaram colmo com maior diâmetro médio em relação às plantas sem tratamento. Isso é um ponto muito significativo, principalmente em se tratando de cultivares de soja suscetÃveis ao acamamento, que terão colmo com maior espessura, tornando-se mais resistentes ao problema.
 As produtividades médias foram superiores em todas as parcelas onde havia sido utilizado o produto Setting BR, como podemos observar nas fotos 8, 9 e 10. Nas parcelas com Setting Bras produtividades variaram entre 63 e 90,2 sacas/ha, obtendo um total de 1446,2 sacas, resultando em uma média de 72,31 sacas/ha.
Já nas parcelas de testemunhas as produtividades variaram entre 57,8 e 82,8 sacas/ha,dando umtotalde1.359,4sacascomprodutividade média de 67,97sacas/ha.
Embora as produtividades médias em todas as parcelas com Setting BR tenham sido superiores às testemunhas, não ocorre o mesmo como vigor das sementes, como podemos observar na foto 11.
Conclusões
Como podemos ver no gráfico, a maioriadasamostrastratadascomSetting BR apresentou teor de vigor maiselevadodoqueastestemunhas,mas também em três amostras asituação se inverte, apresentando maior vigor nas parcelas de testemunha.
Em relação à cultivar NS 5445 IPRO, não devemos considerar uma diferença tão grande como o gráfico apresenta, pois a amostra de testemunha apresentou mais danos por ter umidade elevada.
Quando feito o teste de tetrazólio com as mesmas duas amostras (NS 5445 IPRO Setting e testemunha),a amostra com Setting BR continuou com resultado superior, porém com menor diferença (87% Setting BR e 85% testemunha).
Logo, o uso de Setting BRÂ na fase vegetativa da cultura da soja é uma excelente ferramenta para atingir elevadas produtividades. O produto Setting BR, aplicado na dose de 30 g.ha-1 em V3 ““ V4 proporcionou maior número de internódios, e, consequentemente, mais ramos e maior número de vagens e grãos por planta de soja, bem como aumento significativo no teor de vigor das sementes no momento da colheita.