Valter Rodrigues Oliveira
Pesquisador da área de Melhoramento Genético da Embrapa Hortaliças
O Brasil produz cerca de 1,5 milhão de toneladas de cebolas anualmente em uma área de 60 mil hectares. A produção está concentrada nas regiões sul e sudeste, que juntas respondem por 75% da produção nacional, com destaque para os Estados de Santa Catarina e São Paulo.
No Nordeste a produção está concentrada nos Estados da Bahia e de Pernambuco, enquanto no Centro-Oeste ela ocorre predominantemente em Goiás. O valor médio da safra de cebola nos últimos dois anos foi de R$ 1.276 milhões.
Quase toda a produção é destinada ao mercado interno. A exportação é esporádica e em pequena magnitude.
O melhoramento genético
A disponibilização contÃnua de boas cultivares tem sido decisiva no aumento da produção, produtividade e qualidade da cebola produzida no País. A produção nacional, que era de cerca de 900 mil toneladas anuais em meados da década de 90, hoje é de 1,5 milhão de toneladas.
A produtividade média dobrou no mesmo período, passando de 13 t/ha para as atuais 26 t/ha. Não há dúvidas de que o melhoramento genético tem tido papel relevante no desenvolvimento da cebolicultura nacional.
HÃbridas x OP
Híbrido e polinização aberta (do inglês “Open pollinatedvariety“ – OP) são termos técnicos usados para distinguir cultivares. A diferença está no processo de obtenção do material.
Enquanto a cultivar OP é obtida por ciclos sucessivos de seleção e de cruzamento ao acaso das plantas selecionadas até se conseguir uma população estável, a híbrida é obtida pelo cruzamento de dois genitores, um masculino e outro feminino, que se complementam e resultam em uma cultivar de excelente uniformidade e padrão comercial.
A possibilidade de combinar características desejáveis, como resistência a doenças, precocidade, qualidade de pele, por exemplo, em diferentes linhas parentais e então combiná-las em um híbrido, dá ao melhorista inúmeras possibilidades em termos de novas cultivares.
Embora haja tendência de se valorizar as cultivares híbridas em detrimento das OPs, ambas têm seus méritos e podem proporcionar excelentes resultados. No aspecto genético, a diferença da híbrida para a OP é que na primeira há uma uniformidade genética agregada ao fenótipo da planta, logo, quanto mais puros forem os parentais, mais uniforme será o híbrido.
Na OP há uniformidade fenotÃpica, porém, com variabilidade genética. As cultivares OPs podem ser multiplicadas mantendo-se as características da semente original por infinitas gerações. As híbridas, por sua vez, são obtidas repetindo-se o cruzamento original, pois as progênies não mantêm as características da semente híbrida.
Agronomicamente falando
No aspecto agronômico, os híbridos apresentam como principais pontos positivos o vigor, também conhecido como heterose; a uniformidade de germinação, emergência, crescimento e bulbificação (maior proporção de bulbos comerciais, maior uniformidade de tamanho e formato) e a capacidade de tolerar alta população de plantas, até mais de um milhão por hectare. O resultado é a maior produtividade média obtida com as híbridas, comparativamente às cultivares de polinização aberta.
Opções em híbridas
Diversas empresas atuam na introdução e no desenvolvimento de cultivares híbridas de cebola no Brasil. Grande parte das cebolas híbridas disponíveis é para semeadura de final de verão a meados de outono e colheita de agosto a novembro, época considerada ideal para o cultivo de hortaliças em condições de campo no Brasil.
A oferta de cultivares recomendadas para plantio no cedo (janeiro-fevereiro) vem aumentando, mas raros são os híbridos recomendados para o verão (semeadura em final de primavera a início de verão), época de altas temperaturas, chuvas excessivas e de difícil manejo de doenças, pragas e plantas daninhas.
Exigências atendidas
A maioria dos híbridos disponíveis atende a preferência do consumidor brasileiro, que é por cebolas com pelÃcula externa bem aderida e de cor amarela escura, cor interna branca e sabor pungente. Cultivares híbridas de coloração roxa também estão disponíveis, e visam atender principalmente a demanda da região nordeste.
Cuidados específicos
A capacidade de tolerar a alta densidade de plantio é, sem dúvida, um dos principais aspectos positivos das cultivares híbridas de cebola. A semeadura direta mecanizada associada à disponibilização de cultivares híbridas tolerantes ao adensamento foi uma das razões para a formação de polos de produção de cebola altamente tecnificados a partir do final dos anos 1990, como o Alto ParanaÃba e Triângulo Mineiro, em Minas Gerais, e Cristalina, em Goiás. Não explorar essa característica das híbridas diminui muito o seu mérito relativo.