Thiago Cardoso de Oliveira
Marco Antônio Pereira Ávila
Engenheiros agrônomos, mestres em Ciências – CENA/USP
AntonioMalvestitti Neto
Paulo Márcio Faria Villela
Engenheiros agrônomos e mestrandos em Ciências – FZEA/USP
Raul Henrique Sartori
Engenheiro agrônomo, doutor em Ciências e professor do IFSULDEMINAS ““ campus Muzambinho
Atualmente, o setor canavieiro vem lidando com o grande desafio de aumentar a produtividade, tendo como meta médias superiores a 100 TCH. Para tanto, busca novas tecnologias e técnicas de manejo, do plantio à colheita.
A cultura da cana-de-açúcar apresenta um potencial biológico de produção de aproximadamente 350 toneladas de colmo por hectare (TCH), porém, a média atual de produtividade no Estado de São Paulo é de 90 t ha-1, o que equivale a apenas 25% do potencial da cultura. Isto ocorre porque existe uma série de fatores abióticos e bióticos interagindo como “gargalos“, restringindo o aumento de produtividade.
Expressão econômica
A produtividade média brasileira da safra 2014/15 foi de 57 t ha-1, equivalente a 16% do potencial biológico de produção da cultura.Dentro do manejo da fertilidade do solo e adubação, o professor Pedro Henrique de Cerqueira Luz (FZEA/USP) apresenta um esquema que aborda diferentes práticas de correção do solo e adubação para alcançar maiores produtividades na cana-de-açúcar.
Observa-se, no esquema, que são várias práticas de manejo da fertilidade do solo e adubação que, somadas, promovem o aumento da produtividade, porém, práticas corretivas (como a calagem, a gessagem e a fosfatagem), adubação verde e adubação orgânica, visando à elevação da matéria orgânica do solo e fornecimento de nutrientes, são bases para um manejo de altas produtividades.
Nesse contexto, observa-se um aumento da utilização de adubação orgânica enriquecida com adubos minerais, produzindo-se os fertilizantes organominerais. Na cultura da cana-de-açúcar temos como principal fertilizante organomineral o composto de torta de filtro enriquecido.
Definição
Por definição da Lei 6.894, de 1980, temos como fertilizante a substância mineral ou orgânica, natural ou sintética, fornecedora de um ou mais nutrientes para as plantas. O fertilizante orgânico é um produto de natureza fundamentalmente orgânica, obtido por processo físico, químico, físico-químico ou bioquímico, natural ou controlado, a partir de matérias-primas de origem industrial, urbana ou rural, vegetal ou animal, enriquecido ou não com nutrientes minerais.
Já o fertilizante organomineral é um fertilizante orgânico, resultante da mistura física ou da combinação de fertilizantes minerais e orgânicos, como por exemplo a torta de filtro enriquecida com fósforo e potássio.
Benefícios dos fertilizantes organominerais
Quando falamos em adubação, devemos nos lembrar de que não estamos somente aplicando fertilizantes visando à nutrição das plantas, mas também a construção da fertilidade do solo.
Um solo com boa fertilidade garantirá maiores produtividades com um menor e mais eficiente uso dos fertilizantes adicionados via adubação. O uso de fertilizantes organominerais torna-se uma ferramenta para a construção da fertilidade do solo.
Os principais benefícios do uso de fertilizantes organominerais estão ligados à fertilidade do solo. Quando se utiliza esse tipo de fertilizante, aplica-se no solo matéria orgânica. Grande parte das áreas de cultivo de cana-de-açúcar no Brasil apresentam solos pobres em matéria orgânica e com baixas capacidades de trocas catiônicas (CTC).
A matéria orgânica é um componente do solo que apresenta alta CTC e, sendo assim, confere ao solo uma maior capacidade de reter nutrientes necessários às plantas. Além disso, a matéria orgânica possui importante papel na física e microbiologia do solo, melhorando a capacidade de agregação das partículas do solo, minimizando problemas de erosão e compactação, e também serve de meio de cultura para a sobrevivência de microrganismos do solo.
Mais vantagens
A matéria orgânica do solo também atua como um fertilizante de liberação lenta, pois à medida que ela vai se decompondo, ocorre um processo chamado mineralização, em que os nutrientes que estavam complexados na forma de compostos orgânicos voltam ao seu estado mineral, disponível para absorção pelas plantas.
Apesar de a matéria orgânica adicionada ao solo liberar ácidos orgânicos, pode-se observar a campo casos de elevação do pH (mais próximo a 7) com o uso de torta de filtro, pois a matéria orgânica possui alta CTC, sendo observada a adsorção de alumÃnio, elemento tóxico às plantas e que causa acidificação do solo.
Como o alumÃnio fica retido na matéria orgânica, ele não estará presente na solução do solo e nem nas cargas das argilas, ocupando o lugar de nutrientes catiônicos (Ca2+, Mg2+, K+, Zn+, Cu+, etc.).
Quanto à adubação nitrogenada em cana-de-açúcar, sabe-se da baixa eficiência do uso de fertilizantes minerais pela cultura, na cana-planta. Dos fertilizantes nitrogenados aplicados via adubação, apenas 7 a 28% são utilizados pela planta (TRIVELINet al., 2002; GAVA et al., 2003; VITTI, 2003; FRANCO, 2008), e as extrações de nitrogênio pela cultura variam de 0,7 a 1,4 kg de N por tonelada de colmos produzidos, resultando numa extração em torno de 200 kg ha-1 de N para uma produção de 100 TCH.
Com isso, vemos que a cana extrai mais nitrogênio do que é ofertado via adubação. Sendo assim, a matéria orgânica torna-se a principal fonte de nitrogênio para a cultura.
Resultados do uso de fertilizantes organominerais
Gaspar Korndönfer, professor da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) apresentou no VII Simpósio de Tecnologia de Produção de Cana-de-açúcar (2015) vários trabalhos que evidenciam a eficiência do uso de fertilizantes organominerais na produção de cana-de-açúcar.
Em um desses trabalhos comparou-se o uso de adubação mineral com a cama de frango e de composto à base de torta de filtro, ambos em três dosagens (3, 6 e 9 toneladas por hectare).