Sueli Vieira Rodrigues
Especialista em Agricultura Biodinâmica, diretora da Bioneem Tecnologia Indústria e Comércio e da Novaphito Biotecnologia e Recursos Genéticos Ltda, e coordenadora da Comissão de Produção Orgânica no Estado de Minas Gerais
Em tempos de crise financeira internacional, secas intensas, aquecimento global, zika vírus e sustentabilidade em alta, a pimenta-do-reino tem pela frente um cenário de inovação e oportunidades, do cultivo à comercialização, que promete tempos promissores e grandes desafios.
Os maiores produtores são os Estados do Pará e do Espírito Santo, seguidos pela Bahia, mas devido às secas intensas dos últimos cinco anos, o zoneamento agrícola da cultura vem mudando para o médio Jequitinhonha (AraçuaÃ-Itinga) – devido às terras férteis, água para irrigação e clima quente, Vale do Mucuri e Rio Doce.
Com a seca intensa no Espírito Santo, os produtores estão migrando para a Bahia, nos municípios de Itabela, Itamaraju e Eunápolis. Após os intensos ataques de fusariose que destruÃram vários plantios no Estado do Pará ou reduziram drasticamente a produtividade de outros, as instituições de pesquisa e setor de biotecnologia trabalharam para oferecer aos produtores subsÃdios, com opções de variedades e manejo, que neste momento fornecem informações para implantação e gerenciamento de seus plantios.
O clima ideal para a pimenta-do-reino é quente e úmido,com chuvas bem distribuÃdas, com precipitação superior a 1.800mm/ano e umidade relativa do ar superior a 80%,com temperaturas entre 25 e 27ºC.Necessita de solos bem drenados, topografia plana, livres de contaminação de culturas anteriores, como pepino, maxixe, melão, melancia, abóbora, da mesma forma não é aconselhável consorciar essas culturas de hábito comum em áreas irrigadas.
Boas práticas
Boas práticas agrícolas de colheita, beneficiamento e armazenamento são diferenciais para melhorar a comercialização e valor agregado da pimenta-do-reino. Neste momento é possível, inclusive, acessar informações sobre cada variedade, com sua composição quÃmica detalhada, com teores de óleos essenciais, oleorresinas, piperina e outros compostos, bem como período de maturação, produção média, se são viáveis os plantios consorciados e quais as espécies favoráveis (frutÃferas, arbóreas, essências florestais, etc.)
Variedades específicas
Diante dessas informações associadas à meteorologia e zoneamento agrícola de cada região, o produtor pode planejar suas ações de cultivo, beneficiamento e comercialização para o cenário mais favorável.
Se o produtor pretende plantar pimenta-do-reino para fins alimentÃcios, especiaria nobre, dependendo dos mercados aos quais tem acesso, poderá escolher a variedade “Apra“ com teores de 55,06% de piperina, média, picante e equilibrada, que agrada ao paladar brasileiro e atende bem a demanda do mercado interno.
Para o paladar europeu, que prefere teores mais suaves, para não descaracterizar o sabor primordial dos alimentos, a variedade Bragantina com 41,16% de piperina agrada em cheio os italianos, portugueses, franceses e espanhóis, que se orgulham dos sabores de seus produtos e preferem especiarias menos picantes.
Para aqueles produtores que têm acesso ao mercado asiático, que prefere o “apimentado“ a Cingapura, responde ao quesito com um teor de piperina de 69,09%,que agrada em cheio o paladar de indianos, malaios, chineses, coreanos, filipinos e demais países da Ásia.
As boas práticas agrícolas para a espécie recomendam ao produtor sempre trabalhar com mais de uma variedade, para aumentar a diversidade genética das áreas de cultivo, intervalos de floração, maturação e para evitar a ocorrência de doenças e pragas.
Nicho de mercado
Considerando que só uma parcela da pimenta produzida mundialmente é destinada à alimentação e a outra parte, bem maior, é destinada à indústria quÃmica, para fabricação de medicamentos, defensivos agrícolas, repelentes e cosméticos, esse é um nicho que oferece muitas oportunidades no mercado atual. Permite agregar valor, substituindo a venda da pimenta-do-reino minimamente processada.
Os produtores podem optar por processar o produto de forma individual, se tiverem a devida estrutura, ou se organizarem em arranjos produtivos, para extrair princÃpios ativos, óleos essenciais (que valem mais que ouro) e outros derivados.
As operações se tornam mais complexas, mas o valor agregado é correspondente. Para aqueles que pretendem acessar esse outro nicho de mercado, podem planejar trabalhar com variedades que sintetizam princÃpios ativos específicos para esse fim, como por exemplo, a Bragantina, que apresenta 29.62%de outros compostos e a Guajarina, pouco cultivada, mas que apresenta altas concentrações de ativos, por volta 38,07%.
Regras
É importante que os produtores estejam atentos.Assim como a pimenta-do-reino destinada à alimentação,os outros produtos do processamento também são regulados, com normas rÃgidas estabelecidas pelo Ministério da Agricultura, Agência Nacional de Vigilância Sanitária e IBAMA, que regulamentam as atividades de cultivo, colheita, processamento, armazenagem e comercialização.
As exigências são muitas, mas não devem desestimular o produtor, que deve tomar para si o desafio. As normas estabelecidas são, principalmente, boas ferramentas de gestão integrada aos diversos aspectos da propriedade, e uma ferramenta de venda do produto.