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Perspectiva da adoção de produtos biológicos em grandes culturas

Pedro A. J. Faria Jr.

Engenheiro agrônomo pela ESALQ-USP

 

Crédito-Revista-Terra-Fértil
Crédito-Revista-Terra-Fértil

O agronegócio no Brasil nunca deixou de dar mostras de sua capacidade de gerar riquezas. Mas o empresário rural não tem vida fácil. O ambiente tropical é extremamente favorável aos insetos, doenças e ervas daninhas, tanto quanto é para as plantas cultivadas, e as formas convencionais de combate a esse conjunto de pragas parece estar perdendo eficiência.

Para tornar o cenário ainda mais arriscado, o clima tem saído, com frequência, da rota previsível, e eventos climáticos extremos têm provocado, nos últimos anos, pesados prejuízos à produção agrícola.

Com os níveis de produtividade das lavouras atingindo os limites impostos pela tecnologia atual, e com os custos em elevação constante, o equilíbrio financeiro da produção agrícola se vê agora sob ameaça. Como alterar este quadro?

A revolução verde e os limites possíveis

Quando Norman Borlaug lançou as bases da Revolução Verde, em meados do século XX, o mundo passava por uma necessidade premente de elevar as produtividades das culturas, de forma a aumentar a oferta de alimentos e reduzir custos de produção.

Dos quatro pilares deste pacote tecnológico, dois se basearam na solução química: a correção de fertilidade de solo e a nutrição de plantas, e o combate a insetos e doenças das plantas cultivadas. Em conjunto com a mecanização agrícola e o melhoramento genético, esses quatro pilares mudaram completamente o panorama da agricultura mundial.

Barreiras de produtividade foram quebradas em sequência, e a rentabilidade das lavouras voltou a criar riqueza no campo. Os limites pareciam, então, distantes. Pouca ou nenhuma importância foi dada às questões ambientais, e nem mesmo o impacto sobre a saúde humana parece ter sido adequadamente avaliado no princípio.

No Brasil, o movimento chegou em meados da década de 1960, patrocinado pelo governo brasileiro que tinha como objetivo ao mesmo tempo ocupar o Planalto Central e gerar divisas com a exportação de produtos agrícolas. A cultura da soja foi eleita como o carro-chefe do programa.

Criou-se a Embrapa, com o objetivo de estudar e encontrar as soluções técnicas para o desenvolvimento desta nova fronteira agrícola e ao mesmo tempo otimizar a produção desta e de outras culturas já tradicionais em outras regiões do país.

Durante muitos anos os ganhos foram incontestáveis. As produtividades subiram e a economia de escala no campo gerou riqueza e trouxe desenvolvimento para a região central do Brasil. No entanto, o modelo agrícola baseado no manejo químico das lavouras trouxe com ele problemas que provavelmente poderiam ter sido evitados com uma maior preocupação com a prescrição da técnica.

A realidade

Depois de cinco ou seis décadas de manejo químico das lavouras, nos defrontamos hoje com o fantasma da resistência de pragas agrícolas aos defensivos. Muitas das moléculas foram colocadas de lado por já não terem mais efeito sobre as pragas, e outras tantas foram definitivamente banidas devido aos danos colaterais ao ambiente e à saúde humana.

A sociedade moderna clama por uma agricultura de menor impacto ambiental, e o consumidor se preocupa cada vez mais com os resíduos de defensivos químicos que podem estar presentes nos alimentos que chegam à sua mesa.

Com maior pressão de pragas e a demanda por defensivos modernos, o custo de produção disparou; grande contribuição para este aumento foi dada também pela deterioração da já combalida rede de escoamento da safra agrícola e da nossa estrutura de portos disponíveis para a exportação.

Em anos de preços altos a margem ainda pode ser suficiente, mas quando os preços caem, as produtividades alcançadas por vezes nem cobrem o custo de produção. Se ocorrerem simultaneamente, preços baixos e frustração de safra geram efeitos devastadores, chegando a provocar a insolvência do empresário rural.

Pela importância que tem na composição do custo direto de produção, o controle de pragas e doenças tem grande impacto na rentabilidade das lavouras. A baixa eficiência dos defensivos, normalmente decorrente das resistências induzidas das populações de pragas, obrigam a um maior número de aplicações e nem sempre resultam em controle adequado. É urgente achar uma saída.

Crédito Miriam Lins
Crédito Miriam Lins

O manejo integrado de pragas e a sustentabilidade

 

Neste contexto, os produtos biológicos surgem como uma alternativa eficiente no manejo de resistências e tem grande potencial para garantir mais sustentabilidade à produção agrícola.

A chave para iniciar esta virada tecnológica responde pelo nome de Manejo Integrado de Pragas. A prática não é nova, mas foi esquecida pelo meio rural. Combinando monitoramento populacional, manejo nutricional equilibrado e alternância no uso de agentes químicos e biológicos de controle, poderemos retomar uma produção agrícola mais racional e, consequentemente, mais rentável.

Casos de sucesso existem de sobra. Falta, no entanto, treinamento adequado dos agentes comerciais, dos técnicos de campo e dos empresários rurais. O conhecimento não chega às fazendas.

Estamos presos ainda a um modelo de manejo químico que se sedimentou durante cinco décadas nas mentes de todos os grupos que atuam no agronegócio. A adoção de um novo modelo vai demandar mais investimento em pesquisa, desenvolvimento e extensão rural.

Essa matéria você encontra na edição de novembro 2016 da revista Campo & Negócios Grãos. Adquira já a sua.

 

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