Sebastião Wilson Tivelli
Doutor e pesquisador da APTA
Luis Felipe VillaniPurqueiro
Doutor e pesquisador do IAC-APTA
Cristiani Kano
Doutor e pesquisador do Polo Regional Leste Paulista- APTA
Há uma escassez de pesquisas em relação à adubação verde e ao plantio direto de hortaliças no Brasil. Em razão disto, os tratos culturais utilizados no cultivo de hortaliças, no qual a adubação verde e o sistema de plantio direto são adotados, acabam não sendo diferentes do cultivo convencional, levando, por exemplo, a um manejo inadequado da irrigação em áreas de plantio direto, que acaba proporcionando condições para uma maior incidência de doenças.
Isto, por si só, reduz o rendimento e a qualidade da produção hortÃcola. A seguir iremos tratar de alguns avanços recentes em adubação verde e plantio direto de hortaliças.
Adubação verde em hortaliças
Chamamos de adubação verde o cultivo e o corte de plantas em pleno florescimento. A massa vegetal necessariamente não precisa ser incorporada ao solo. Além disso, se aceita denominar de adubação verde o cultivo e o corte de plantas após a colheita das sementes para a recomposição do banco de sementes do produtor ou da comunidade e para a venda delas visando uma receita adicional ao produtor.
A adubação verde proporciona inúmeras vantagens ao cultivo de hortaliças. As crotalárias são amplamente conhecidas por reduzir a população de nematoides no solo, e as leguminosas adicionam nitrogênio ao solo. Os adubos verdes auxiliam na ciclagem dos nutrientes ao trazer para a superfície nutrientes que estão em maior profundidade.
Além disso, os adubos verdes favorecem a manutenção da matéria orgânica do solo e o “sequestro“ de carbono da atmosfera, recuperam solos degradados e controlam plantas daninhas.
Opções de adubos verdes
As plantas da família leguminosa (mucunas e crotalárias) são amplamente divulgadas para serem utilizadas na adubação verde. Contudo, outras plantas de diferentes famílias botânicas podem ser utilizadas para essa finalidade.
Atualmente, há uma ênfase no uso de diferentes espécies da antiga família das gramÃneas (poáceas), as quais possuem uma melhor adaptação ao solo e clima das diferentes regiões do Brasil, especialmente para o cultivo convencional em que é permitida a utilização de herbicidas. Como exemplos de plantas desta família podemos mencionara aveia branca e preta, braquiária, milheto e milho.
Médio prazo
Com tantas vantagens mencionadas, porque a adubação verde não é utilizada em larga escala na produção de hortaliças? Seguramente o imediatismo que o produtor de hortaliças gostaria de ter não está associado à adubação verde. Além disso, a falta e o alto preço das sementes de algumas espécies são fatores que desfavorecem a adoção desta prática agrícola.
O fato de algumas hortaliças serem cultivadas em áreas arrendadas também contribui para a não disseminação da prática de adubação verde.Para a produção de hortaliças em área urbana, em terreno privado ou área pública, e para os agricultores familiares em área periurbana, a maior limitação para a adoção da prática de adubação verde é a falta de espaço.
Trabalhando em pequenas áreas estes produtores não conseguem separar uma parte para fazer a rotação de cultura com adubos verdes. O ciclo longo de cultivo de algumas espécies de adubo verde representa de imediato ao produtor uma redução de sua receita.
Assim sendo, a atuação isolada ou em associação dos fatores mencionados anteriormente, entre outros, colaboram para a baixa utilização da adubação verde na produção de hortaliças no Estado de São Paulo e no Brasil.
Alternativas
Desde 2005, o IAC-APTA vem buscando alternativas para aumentar a utilização da prática agrícola de adubação verde pelos agricultores familiares de hortaliças. Além de divulgar essa prática aos produtores, o Instituto estuda sistemas de cultivo em consórcio, nos quais algumas hortaliças podem ser consorciadas com a adubação verde.
No Polo Regional Leste Paulista, em Monte Alegre do Sul-APTA, e na Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento de São Roque-APTA (UPD São Roque), um promissor trabalho vem sendo realizado nos últimos dois anos em conjunto com o IAC-APTA, e deverá prosseguir por mais dois anos.
Nestes experimentos são estudados diferentes adubos verdes e seu manejo no consórcio com o cultivo do quiabeiro. Além de identificar o melhor manejo das culturas (quiabo e adubos verdes), os experimentos visam reduzir a adição de fertilizantes nitrogenados, sejam estes de origem mineral ou orgânica.
Os resultados preliminares demonstram que o cultivo consorciado dos adubos verdes não aumentou e nem reduziu a produção de quiabo. A principal vantagem imediata foi a redução na necessidade de controle das plantas daninhas nas entrelinhas em que o adubo verde foi cultivado, o que significa uma redução de custos de produção.
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