Gerson Adriano Silva
Professor de Entomologia Agrícola do Laboratório de Entomologia e Fitopatologia – Universidade Estadual Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF)
LaÃs Viana Paes Mendonça
Graduanda em Agronomia – UENF
O óleo de neem é extraÃdo da prensagem a frio de sementes da árvore de neem, de nome cientÃfico Azadirachta indica. O neem é uma planta originária da Ásia, e caracteriza-se por apresentar crescimento rápido, tolerância ao estresse hídrico e a solos pobres em nutrientes. Produz madeira com aptidão para fabricação de móveis e produção de energia.
Uma planta adulta pode chegar a 20 metros de altura e a 80 cm de diâmetro de tronco. A produção de sementes inicia com três a cinco anos de plantio, com média de produtividade superior a 25 kg/planta.
Contra pragas
A ação inseticida do óleo de neem deve-se, em grande parte, a dois grupos de moléculas: os triterpenos e os limonoides. A azadirachtina é o triterpeno com maior atividade inseticida presente no óleo.
A ação inseticida do óleo de neem sobre os insetos deve-se à inibição da alimentação; ação repelente à oviposição; efeitos neuroendócrinos, inibição do desenvolvimento de insetos imaturos e pode causar a morte por intoxicação aguda.
Ação
A ação inseticida do óleo de neem já foi comprovada em mais de 500 espécies de insetos e ácaros, com destaque para insetos pertencentes a espécies de lagartas, besouros, mosca, pernilongos, moscas-brancas, cochonilhas, percevejos, pulgões, tripes, pulgas, ácaros e carrapatos.
O óleo de neem pode ser utilizado para o controle de pragas na agricultura orgânica e convencional. Dentre as lagartas controladas pelo óleo de neem destaca-se a traça-do-tomateiro (Tuta absoluta), broca-pequena (Neoleucinodeselegantalis) e broca gigante (Helicoverpa zea) no tomateiro, lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda) no milho, bicho-mineiro (Leucopteracoffeella) no café, larva-minadora-das-folhas (Phyllocnistiscitrella) em citros e traça-das-crucíferas (Plutellaxylostella) no repolho; o complexo de lagartas que atacam a soja, o algodão e fruteiras.
Manejo
Para um bom manejo de insetos utilizando óleo de neem é necessário que os técnicos e agricultores façam avaliações constantes da infestação da população dos insetos nas lavouras. Recomenda-se aplicar no início do aparecimento das lagartas, e reaplicações deverão ser feitas conforme a espécie de inseto e o nível de infestação. No geral, recomenda-se realizar reaplicações dentro de um intervalo mÃnimo de sete dias.
É importante salientar que o óleo de neem apresenta ação potencializada contra lagartas em estágios iniciais de desenvolvimento, e à medida que lagartas aproximam do momento de empupar a suscetibilidade ao óleo diminui.
A dose recomendada por aplicação varia entre 100-1.000 mL de óleo/100L de água. Uma das grandes vantagens do óleo de neem no controle de lagartas, em relação aos inseticidas convencionais, é o baixo risco de desenvolvimento de resistência, graças à composição complexa do óleo, formado por mais de 150 compostos biologicamente ativos.
Erros a serem evitados
Para haver um controle efetivo das lagartas, algumas medidas devem ser tomadas, como utilizar água limpa, de boa qualidade, e manter a calda inseticida em constante agitação; evitar pulverizações em dias com temperatura acima de 30ºC, umidade relativa do ar abaixo de 50% e ventos acima de 10 km/h; realizar as pulverizações ao final das tardes/início da noite; não utilizar doses e nem número de aplicações acima das recomendadas para o controle de lagartas em cada cultura; utilizar o equipamento de proteção individual (EPI) durante o preparo e pulverização das caldas; fazer a rotação do óleo de neem com outros óleos ou produtos de outras natureza.
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Na prática
Diversos resultados de pesquisas realizadas a campo e em laboratório têm demonstrado a ação inseticida do óleo de neem em várias lagartas-pragas. Os pesquisadores Coelho Junior & Deschamps (2012) demonstraram alta mortalidade de lagartas da traça-do-tomateiro quando essa consumiu folhas de tomate tratadas com óleo de neem (Tabela 1).
Ribeiro et al. (2012) demonstrou alta suscetibilidade da lagarta-do-cartucho do milho ao óleo de neem. Em trabalho realizado com café por Martinez &Meneguim (2003) foi observado que o tratamento de folhas de café com calda contendo 0,125 e 2,5% de óleo de neem reduziu em 52 e 62% a oviposição de fêmeas do bicho mineiro-do-cafeeiro.
Houve, também, redução da eclosão de ovos na ordem de 48% em folhas tratadas com 0,125% de óleo e redução de 71,5% quando as folhas foram tratadas com solução contendo 2,5% de óleo de neem.
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