Mercado segmentado de cebolas exige sementes adaptáveis

Daniel Pedrosa Alves

Doutor em Genética e Melhoramento, e pesquisador da Epagri- Estação Experimental de Ituporanga

danielalves@epagri.sc.gov.br

O Brasil figura entre os principais produtores mundiais de cebola, sendo que grande parte da produção se concentra em quatro regiões, sendo elas o Sul (Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul), o Sudeste (São Paulo e Minas Gerais), o Centro-Oeste (Goiás) e o Nordeste (Bahia e Pernambuco) (IBGE, 2015).

Estes Estados concentram cerca de 98% da produção nacional, e para cada região as cultivares recomendadas são diferentes, possuindo ciclo, época de semeadura e época de colheita distintos.

Sementes específicas

O sucesso de uma lavoura depende de diversos fatores, sendo a escolha de uma cultivar adequada um dos principais pontos a serem observados. A escolha equivocada de uma cultivar certamente comprometerá o restante do sistema produtivo, culminando em perdas ou até mesmo inviabilizando a lavoura.

Cultivares mal adaptadas às condições edafoclimáticas, com ciclo vegetativo irregular ou muito suscetíveis a doenças e pragas contribuem para a redução da produção e tornam necessário o aumento das aplicações de agrotóxicos (Lopes e Simões, 2007).

A falta de adaptação da cultivar é o fator que mais limita o uso de um mesmo material em diferentes regiões, principalmente pela peculiaridade da cultura no que se refere ao binômio fotoperíodo e temperatura.

Tipos de cebolas

Um dos critérios para a classificação das cultivares de cebola é quanto à necessidade de horas de luz para que ocorra a bulbificação. Neste sentido, as cultivares de cebola são classificadas em três grupos: cebolas de dias curtos (DC), cebolas de dias intermediários (DI) e cebolas de dias longos (DL).

As cultivares de DC são aquelas que requerem um fotoperíodo de 10 a 12 horas para que a bulbificação seja induzida. As cultivares de DI requerem um fotoperíodo de 12 a 14 horas para que haja bulbificação, e as cultivares de DL exigem um fotoperíodo igual ou superior a 14 horas (Brewster, 2008).

 Atualmente, não há registro de utilização de cultivares de DL para produção comercial no Brasil. Essas cultivares eram utilizadas para cultivo no Sul do Brasil até meados da década de 1990, entretanto, sua utilização caiu em desuso e foram progressivamente sendo substituídas por cultivares de DC e DI, sendo que os primeiros prevalecem tanto com relação à utilização como à disponibilidade de cultivares.

Com relação à coloração da casca das cultivares no Brasil, prevalecem cultivares de casca externa amarela e catafilos internos brancos. Cultivares de cebola com casca roxa têm maior expressão no nordeste brasileiro, mas também são plantados em menor escala nas demais regiões. O plantio de cebolas de casca branca é inexpressivo.

As cebolas de casca branca e roxa são consideradas nichos de mercado, e em geral são plantadas por agricultores que conseguem realizar uma venda direta para supermercados ou diretamente para agricultores.

Demanda

A escolha da cultivar deve ser realizada em concordância com o fotoperíodo do local e época de cultivo, sabendo-se que o primeiro varia com a latitude e a época do ano (Tabela 1). O plantio de cultivares em locais ou em épocas do ano em que o fotoperíodo não esteja de acordo com as necessidades da cultivar poderá comprometer toda a produção.

Satisfeita essa condição inicial, as cultivares devem ser perfeitamente adaptadas às condições edafoclimáticas da região de plantio.Outro fator é a ocorrência de pragas e doenças, que costumam ser regionais, e a importância relativa de cada patógeno varia de região para região. Resultados experimentais têm demonstrado que a utilização de cultivares fora da região de desenvolvimento comprometem fortemente a produtividade.

Além do mais, as cultivares em regiões distintas da de desenvolvimento se mostraram mais suscetíveis aos patógenos locais.

A cebola ideal

A cultivar ideal é aquela que foi desenvolvida especificamente para determinada região e que, de preferência, tenha sido selecionada na própria região. Cultivares importadas de outras regiões tendem a não responder bem em condições adversas.

Dessa forma, o agricultor deve se informar se as empresas têm campo experimental na região ou somente pontos de vendas de sementes. A troca de informações com agricultores que já tenham utilizado a cultivar também é sempre válida.

Escolhida a cultivar, o produtor deverá seguir integralmente as recomendações da empresa que desenvolveu o material, que realiza diversos testes e conhece as condições ideais para a cultivar.

Tabela 1: Fotoperíodo mensal, em horas, em diversas latitudes do hemisfério Sul.

Essa matéria você encontra na edição de abril 2017  da revista Campo & Negócios Hortifrúti. Adquira já a sua.