Nilva Teresinha Teixeira
Engenheira agrônoma, doutora em Solos e Nutrição de Plantas e professora do Curso de Engenharia Agronômica do Centro Regional Universitário de Espírito Santo do Pinhal (Unipinhal)
Com o uso abusivo de adubos minerais e defensivos, o manejo agrícola vem sendo questionado nos últimos anos, em virtude das contradições econômicas e ecológicas. Somado a isso, os consumidores em geral buscam, cada dia mais, obter alimentos de boa qualidade e que sejam produzidos de maneira sustentável e natural, com uso menor e mais racional de insumos químicos.
Desta forma, o comprometimento em toda a cadeia produtiva é crescente, em vista de produções que preservem o meio ambiente, utilizem todo o potencial dos recursos disponíveis e reduzam a exposição dos trabalhadores e consumidores a agroquímicos.
Portanto, a combinação entre adubos orgânicos e fertilizantes minerais formando o fertilizante organomineral é uma alternativa de fertilização interessante e com ampliação nos últimos anos.
O enriquecimento dos produtos promovido pela junção dos benefícios de cada fonte fornece um produto sustentável e econômico, sendo reconhecido principalmente pelos produtores de culturas de ciclo rápido.
O que são os organominerais
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento define fertilizantes organominerais aqueles que contêm carbono orgânico e que apresentam determinados e mÃnimos teores de macro ou micronutrientes.
As concentrações de carbono orgânico e de nutrientes exigidos dependem da apresentação do produto (sólido ou fluido) e da forma de aplicação que é recomendada: via solo, fertirrigação, foliar ou hidroponia. São adubos que podem ter matérias-primas diversas, como: as derivadas das atividades agropecuárias, industriais, agroindustriais e comerciais, de origem vegetal, animal, lodos industriais e agroindustriais de sistemas de tratamento de águas residuárias, com uso autorizado pelos órgãos ambientais, restos de alimentos (in natura ou processados), todos isentos de despejos sanitários.
O resultado são produtos de utilização segura na agricultura (quando o adubo é denominado de Classe A) e, ainda, podem ser gerados a partir de resíduos de atividades urbanas, industriais e agroindustriais, incluindo os resíduos sólidos urbanos da coleta de lixo convencional, lodos de estações de tratamento de esgoto, lodos industriais e agroindustriais de sistemas de tratamento de águas residuárias contendo qualquer quantidade de despejos sanitários, desde que tenham uso autorizado pelo órgão ambiental (quando é chamado de organomineral Classe B).
Benefícios
Plantas bem nutridas são mais resistentes ao ataque de pragas e doenças. Portanto, a melhoria proporcionada pelo aprimoramento no manejo nutricional favorece a obtenção de plantas mais sadias, cultivadas com menor contato com defensivos agrícolas, o que gera produtos de melhor qualidade nutricional, mais sustentáveis e saudáveis.
O emprego de organominerais na agricultura vem crescendo e a inclusão dos mesmos pode trazer benefícios aos cultivos, tais quais:
üA matéria orgânica presente em tais insumos melhora a fertilidade do solo (pelo fornecimento de nutrientes e aumento da capacidade de troca catiônica, pela ação de micelas húmicas coloidais) e suas propriedades físicas (aumenta a capacidade de retenção de água e a porosidade total do solo; forma agregados capazes de reduzir a erosão);
üA presença dos ácidos orgânicos (ácidos húmicos e fúlvicos) nos organominerais pode reduzir a fixação de fósforo pelos óxidos de ferro e de alumÃnio;
üAumenta a população microbiológica benéfica do solo: os que são antagônicos aos fitopatogênicos e, ainda, liberam auxinas que estimulam a divisão das células das raízes, estimulando, assim, o enraizamento;
ü Quando aplicado em estágios vegetativos ou reprodutivos das plantas, beneficiam o metabolismo vegetal (fotossíntese e respiração).
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Em campo
Estudantes e professores de Nutrição de Plantas do Curso de Engenharia Agronômica do UniPinhal estudaram a influência do uso de organomineral constituÃdo de ácidos húmicos e fúlvicos associado ao potássio e em várias doses na formaçãode mudas de citros enxertadas:
- laranja: porta-enxerto Poncirus trifoliata e copa Valência;
- limão: porta-enxerto limão Cravo e copa limão Siciliano.
Os resultados mostraram que o organomineral em questão promoveu acréscimo de desenvolvimento, traduzido pelo enraizamento, enfolhamento e altura, tanto das mudas de laranja (a) como de limão (b).
Entretanto, pode-se considerar que, nas condições experimentais, a introdução de doses superiores a 1,5 L ha-1 foram prejudiciais. O estudo de regressão mostra que em ambos os espécimes de mudas a dose adequada foi de 1,35 L ha-1.