Heitor Antônio de Araújo Oliveira
Karen Cristina de Souza Carvalho Silva
Leonardo Silva Ferreira Leite
Graduandos em Agronomia pela Universidade Federal de Lavras (UFLA) e integrantes do Grupo de Estudos em Herbicidas, Plantas Daninhas e Alelopatia (GHPD)
O cuidado com o manejo das plantas daninhas nas culturas já se mostrou fator importante e decisivo na produtividade obtida pelos agricultores. O que muitas vezes não levamos em consideração é que esse manejo é necessário não só pelos danos que elas causam diretamente às culturas, como competição por espaço, luz, água e nutrientes.
As plantas daninhas, quando fora do nível aceitável, ou fora da época aceitável, podem acarretar prejuízos que não se refletem somente na produtividade de determinada cultura, mas também em perdas nos anos agrícolas seguintes e diminuição drástica na margem de lucro devido a medidas de controle atrasadas.
As perdas em questão são devido à capacidade das plantas daninhas hospedarem patógenos, insetos pragas ou ainda insetos vetores de patógenos que causem danos às culturas. Dependendo da intensidade de infestação, somente a presença de daninhas já é capaz de causar perdas de até 100% na produtividade. Então, quando se leva em consideração a possibilidade de abrigo de pragas e hospedagem de patógenos, tem-se a real noção da importância de um controle realizado corretamente.
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Problema sério
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As plantas daninhas podem ser consideradas um problema fitossanitário de longo prazo, pois podem estar presentes nas áreas todo ano, criando um ambiente favorável para a hospedagem de patógenos e para que insetos pragas não só completem seus ciclos, mas tenham a oportunidade de multiplicar muito a sua população, a exemplo dos percevejos na cultura da soja.
Além dos percevejos, outros exemplos de insetos que se beneficiam da presença de plantas daninhas na área são os pulgões, insetos sugadores pertencentes à ordem Hemiptera, que injetam substâncias tóxicas, causando danos físicos às plantas e atuando também como o mais importante grupo de insetos vetores de viroses, transmitindo centenas de espécies de vírus fitopatogênicos.
Pode-se citar também a Guanxuma (Sida spp.) como hospedeiro do mosaico dourado do feijoeiro e o capim-massambará (Sorghumhalepense), hospedeiro do vírus do mosaico da cana-de-açúcar.
Danos diretos e indiretos
Quando se fala de plantas daninhas como vetores de pragas e doenças, significa que elas são capazes de repassar de forma ativa (estando infectada) ou passiva um agente infeccioso (parasita, bactéria ou vírus).
No geral, os danos causados pelas plantas daninhas podem ser considerados diretos (quando ela interfere diretamente pela competição por espaço físico, luz, nutrientes ou água com uma cultura agrícola) ou indiretos (quando as daninhas formam um ambiente propÃcio para a sobrevivência e reprodução de insetos-pragas, provendo alimento ou abrigo, ou sendo hospedeiras de fitopatógenos que, posteriormente, sejam transmitidos e causem prejuízos às culturas).
Plantas daninhas como abrigo de pragas
Como as plantas cultivadas atualmente passam por um intenso processo de domesticação, estas perderam a característica de rusticidade, e com isso sofreram uma grande baixa de vigor, fazendo com que as culturas sejam muito mais sensÃveis ao ataque tanto de pragas quanto de doenças.
Mas, com as plantas daninhas foi diferente – elas permanecem rústicas e vigorosas e cada vez mais se adaptam ao ambiente em que se encontram, o que faz com que elas sejam ótimos abrigos para algumas pragas, pois têm a capacidade de suportar o ataque das pragas, fornecer alimento para todo seu ciclo e ainda resistem ao aumento da população sem grandes prejuízos.
Alerta constante
Existem diversos registros de plantas daninhas que abrigam pragas, como por exemplo, o caso da mosca-branca (Bemisiaspp), que ataca diversas culturas, como tomateiro, aboboreira, melão, melancia, uva e ainda abriga uma das principais pragas do feijoeiro (causa sintomas de mosaico dourado).
Há, também, relatos dessa praga vivendo em muitas espécies de plantas daninhas, como corda de viola (Ipomoeaspp), guanxuma (Sida rhombifolia), leiteiro (Euphorbiaheterophylla) e picão preto (Bidens pilosa). Estes são só alguns exemplos – existem relatos de mais de 25 outras espécies que também têm a capacidade de abrigar essa praga.