Gerarda Beatriz Pinto da Silva
Engenheira agrônoma, MSc. e doutoranda em Fitotecnia do Departamento de Fitossanidade – Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
Luiza Elena Ferrari
Engenheira agrônoma, mestranda em Fitotecnia ““ UFRGS
No Brasil, o Sistema de Plantio Direto em Hortaliças (SPDH) teve início em meados dos anos 80, com ensaios conduzidos em culturas como: cebola, tomate, repolho, couve-flor, brócolis, abóboras, entre outras hortaliças.
Contudo, a espécie pioneira no SPDH no País foi a cebola, no Estado de Santa Catarina. Atualmente, 50% do tomate para processamento, 20% de abóbora híbrida e 10% de cebola são cultivadas no SPDH. Entretanto, a utilização deste sistema no cultivo de alface vem crescendo bastante, visto que proporciona ganhos significativos de produção, atrelado a uma melhor qualidade do produto final.
A alface do tipo crespa destaca-se nesse sistema devido às menores perdas que ocorrem no transporte e armazenamento. Além disso, devido à melhoria do hábito alimentar da população, direcionado a uma melhor qualidade de vida e, consequentemente, a um maior consumo de hortaliças e frutas, tem aumentado a demanda por essa hortaliça, tornando-a a mais importante no Brasil.
Limitações
Altas temperaturas são limitantes ao desenvolvimento de alface, sobretudo o aumento da temperatura do solo, que acelera o metabolismo e prejudica a absorção de nutrientes pela planta.
Sabe-se que durante a primavera-verão ocorre uma intensificação nas chuvas, o que está associado diretamente à elevação das temperaturas. Esta condição climática inviabiliza o cultivo da alface em algumas regiões do Brasil, o que, por sua vez, eleva seu custo de produção.
O SPDH, principalmente de alface, surgiu como uma alternativa para mitigar os efeitos do verão. Atualmente, considera-se que a alface tipo crespa corresponde a cerca de 70% do mercado brasileiro, enquanto a americana é responsável por 15% e a lisa por 10%.
Vantagens do SPDÂ Â
O monocultivo de hortaliças, com manejo cultural regrado por altas doses de fertirrigação e irrigações frequentes, bem como forte adubação e mecanização no preparo de canteiros, potencializa a degradação do solo.
O SPDH proporciona a mitigação dos processos erosivos, os quais são motivados pelo excessivo revolvimento de solo, principalmente em épocas de elevada pluviosidade. A adoção do SPDH possibilita a rotação de culturas, o que também resulta na redução de problemas fitossanitários.
A presença da palha como cobertura do solo confere melhores condições microclimáticas para algumas espécies de hortaliças, além de amenizar flutuações de temperatura. A proteção térmica proporcionada pela palhada pode reduzir até 10ºC a temperatura na superfície do solo, quando comparada a áreas de cultivo convencional.
Utilizando este sistema, ocorre uma redução nas enxurradas de aproximadamente 90% e nas perdas de solo em torno de 70%. Devido à cobertura proporcionada pelo SPDH, é possível obter uma economia de água em áreas irrigadas de até 30%, bem como uma redução de 75% da utilização da mecanização, já que o sistema preconiza o mÃnimo revolvimento do solo.
A palhada ainda proporciona a redução nas capinas, que são frequentes no sistema convencional, pois formam uma barreira física ao desenvolvimento das plantas daninhas.
Nutrição do solo
No que diz respeito à nutrição do solo, o SPDH proporciona acréscimos na quantidade de matéria orgânica, bem como na ação de microrganismos benéficos no solo. Em áreas onde o sistema já está estabelecido tem-se notado que, devido à preservação ou recuperação da qualidade do solo, os níveis de adubação têm sido diminuÃdos, entretanto, sem causarem prejuízo à produtividade.
Para a alface crespa
Durante a introdução do SPDH, é importante considerar que hortaliças como a alface não possuem potencial para gerar resíduos suficientes para a formação da palhada.
A cobertura do solo deve ser mantida a uma taxa de aproximadamente 12 a 15 ton/ha de matéria seca por ano. Sendo assim, o cultivo isolado de alface não gera resíduo em quantidade satisfatória para a manutenção do sistema. Como consequência, durante o planejamento do sistema deve-se fazer a inclusão de plantas de cobertura na sucessão de cultivos.
Consideram-se plantas de cobertura aquelas espécies de elevado potencial de produção de matéria seca. É de suma importância que as mesmas apresentem um sistema radicular profundo e vigoroso, que possibilitem a reciclagem de nutrientes para que, após a sua decomposição, deixem o solo leve e poroso, favorecendo o enraizamento da cultura posterior, neste caso a alface.
Atualmente, tem-se escolhido, preferencialmente, espécies como: milho, milheto, aveia, trigo ou sorgo. A preferência pelas gramÃneas ocorre porque elas podem ser consorciadas com leguminosas e outras espécies.