Carla Verônica Corrêa
Doutoranda em Ciências Agronômicas pela UNESP ““ Botucatu
Luís Paulo Benetti Mantoan
Doutorando em Ciências Biológicas pela UNESP ““ Botucatu
Vários são os trabalhos que demonstram que espécies vegetais, em associação com os fungos micorrÃzicos, aumentam a absorção de nutrientes minerais pelas plantas, principalmente do fósforo (P). Assim, a associação micorrÃzica está diretamente envolvida na nutrição mineral das plantas, favorecendo seu crescimento e desenvolvimento.
Absorção nutricional
Os solos brasileiros são caracterizados por apresentarem elevado grau de intemperismo. Isso se deve, principalmente, às condições climáticas, como elevadas temperaturas e precipitação, o que permite maior atividade de microrganismos e condições favoráveis à intemperização.
Além disso, devido à elevada acidez, baixa saturação por bases, elevados teores de alumÃnio e baixas concentrações de matéria orgânica, os solos brasileiros têm baixa fertilidade natural.
O fósforo
Entre os macronutrientes, o fósforo é o nutriente que apresenta menor disponibilidade para as culturas na maioria das áreas produtivas do Brasil. Isso se deve tanto à baixa disponibilidade como à adsorção desse elemento, ou seja, embora esteja presente no solo, não está disponível para a cultura.
No Brasil, o fósforo é o elemento que limita a produção agrícola devido ao baixo teor que apresenta no solo. Em 90% das análises químicas de solo, o fósforo apresenta teores menores que 10 ppm (10mg/dm3) e no Cerrado 99% das amostras apresentam-se abaixo deste valor, sendo que 80% destes acham-se entre 0,2 – 1,0 ppm (0,2 – 1,0mg/dm3) de P-disponível.
Além disso, o fósforo é perdido por fixação e por erosão, sendo, portanto, fonte de preocupação para um futuro próximo, pois dependemos de jazidas de fósforo, e sem este elemento não conseguiremos produzir.
A absorção desse nutriente depende do pH do solo, e na faixa de pH entre 4 e 8 é predominante a forma H2PO4-, sendo esta a forma preferencial de absorção. Também é fortemente influenciado pela concentração de Mg2+ no meio, sendo esta uma das razões de se recomendar calagem com calcário dolomÃtico ao calcÃtico (sinergismo).
Outra maneira de aumentar a absorção radicular de fósforo é pelamicorrização (ficomicetos e basidiomicetos), que atuam aumentando a superfície de contato do sistema radicular. Isso se deve ao fato de que a presença de fungos micorrÃzicos em simbiose mutualÃstica com as raízes apresenta hifas, que servem como prolongamento dos pelos absorventes.
Mais vantagens
Muitos fungos presentes no solo atuam de forma relevante na comunidade vegetal, principalmente na nutrição mineral de plantas, e em especial para nutrientes que se movimentam por difusão (pequena distância) na solução do solo, como o fósforo.
Devido à suplementação na capacidade de absorver nutrientes do sistema radicular da planta, as micorrizas podem estimular o crescimento das plantas pelo aumento da absorção de nutrientes, aumentar a tolerância à condição de deficiência hÃdrica e a resistência aos patógenos do solo, pelo fato desses fungos benéficos competirem com os fungos patogênicos.
Associação com os fungos micorrÃzicos
A simbiose ectomicorrÃzicase inicia pela ativação de esporos que germinam e formam hifas na rizosfera, colonizando a superfície das raízes e penetrando na zona de infecção micorrÃzica, que se localiza logo atrás da zona meristemática apical da raiz.
Após a penetração, as hifas colonizam o córtex, por meio de digestão enzimática da lamela média, com ocupação de todo o espaço intercelular. A penetração e interação fungo-planta promovem modificações acentuadas no hábito de crescimento e morfologia dos segmentos de raízes colonizadas, o que permite a observação visual das ectomicorrizas.
O processo de micorrização é dinâmico e acompanha o crescimento das raízes. Assim, enquanto alguns segmentos micorrizados mais velhos morrem, os novos se tornam colonizados, em função da atividade do inóculo na rizosfera, da fisiologia da planta e das condições edafoclimáticas.
Nas endomicorrizas não se verificam modificações anatômicas resultantes da invasão das raízes pelo fungo, que assim não são reconhecidas a olho nu. Esses grupos de fungos penetram nas células corticais das raízes sem causar danos, diferenciando-os dos fungos patogênicos.
Assim, formam-se as hifas que, estimuladas pelas condições fisico-químicas da rizosfera, crescem abundantemente. Essas hifas, ao encontrarem as raízes, aderem à sua superfície (epiderme ou pelos radiculares) e penetram nas células da epiderme na zona de diferenciação e alongamento, formando a “unidade de infecção“.