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O terror volta à ativa – Helicoverpa armigera ataca soja

André Aguirre Ramos

Engenheiro agrônomo, mestre e consultor na Aguirre & Ramos Consultoria

andre.aguirreramos@gmail.com

Helicoverpa armigera - Crédito-Sebastião-José-de-Araújo
Helicoverpa armigera – Crédito-Sebastião-José-de-Araújo

Para quem pensou que a Helicoverpa armigera era caso vencido, se assustou com a informação divulgada dias atrás sobre um escape dessa praga em soja Intacta RR2 Pro®, soja com o gene do Bacillus thuringiensis que controla alguns grupos de lagartas, pragas da soja, juntamente com o gene de tolerância ao herbicida glifosato designada como RR2.

Lançada há quatro anos, com praticamente 60% do mercado brasileiro nesta safra, esta tecnologia começou a apresentar falha no controle da H. armigera, identificado em Chapadão do Céu (GO) pela Fundação Chapadão em 22/11/2017.

A evolução da praga

Esta lagarta foi identificada no Brasil em 2013 em várias lavouras de algodão, soja e milho, e a partir daí se começou a dar grande ênfase a ela. Na mesma época, entramos em contato com pesquisadores da Ásia e Oceania, onde esta praga já estava presente há alguns anos.

Entre os pesquisadores, havia alguns na área de bioctecnologia, com especialidade em genes para controle de insetos e outros na área de inseticidas. Em ambos os casos eles mencionavam que, apesar de estudarem e conhecerem a grande capacidade da lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda) de se tornar resistente a inseticidas e aos genes Bt inseridos, todos eram enfáticos em mencionar o grande potencial no Brasil da adaptação da H. armigera a inseticidas e à biotecnologia.

Lamentavelmente, pudemos verificar já em 2014 falhas no controle de H. armigera a novos inseticidas do grupo das diamidas. Esta alta capacidade de seleção e multiplicação de insetos resistentes da H. armigera foi verificado em apenas um ano de utilização desses produtos químicos.

Mas, a partir de 2015, com a utilização de produtos mais eficientes, novos e antigos, como o clorpirifós, associado à utilização de controle biológico nacional e originário das regiões australianas, tivemos um bom controle deste inseto.

Em seguida, tivemos a liberação emergencial de benzoato de emamectina para alguns Estados na cultura do algodão e soja, e a entrada da tecnologia Ipro, fazendo o assunto H. armigera sair de cena. Porém, em 2017 esta praga voltou com força total.

Crédito Baltazar Fiomari
Crédito Baltazar Fiomari

Lições não aprendidas com o milho Bt

A história da resistência da lagarta-do-cartucho ao milho Bt muito se assemelha ao que está acontecendo com a sobrevivência da H. armigera na soja Ipro.O milho com o gene de controle de lepidópteras, para o controle da lagarta-do-cartucho, nos ensinou como a tecnologia desenvolvida para o controle de lagartas, ao serem expostas a um ambiente tropical, de várias culturas suscetíveis todos os meses do ano, com pequena adoção de área de refúgio e má condução da maioria dos existentes, foram motivos da não longevidade da tecnologia.

Algumas lições parecem não ter adicionado nada ao conhecimento de todos em relação a futuros lançamentos. O caso do refúgio é um deles, que nada mais é do que uma área próxima ao milho transgênico resistente à lagarta que tem por função permitir a multiplicação de lagartas suscetíveis àquela biotecnologia. Simples assim.

Só que não foi mencionado para o agricultor que esta área teria que ter um manejo diferente dos milhos convencionais, ou seja, sem a biotecnologia que o agricultor normalmente faz.

Com o maquinário sobrando e a área de milho convencional reduzida a 5,0 a 10%, o agricultor tratou de controlar as lagartas nas áreas de milho convencional promovendo uma verdadeira guerra, e não sobrou lagarta viável suscetível para cruzar com as lagartas que escaparam no milho Bt, ou seja, a tecnologia já estava comprometida – era tudo uma questão de tempo.

Além disso, quando usamos vários híbridos de empresas que apresentam o mesmo gene de resistência a um inseto, teremos uma pressão maior de seleção em cima desta praga, podendo selecionar os indivíduos resistentes mais rapidamente.

Tem mais

E as notícias ruins não param por aí – hoje já se sabe que os insetos escapes que eram resistentes àquela proteína são significativamente mais agressivos que os insetos originais, o chamado valor adaptativo. Isso pode ser facilmente percebido no caso de S. frugiperda, em que lagartas resistentes ao milho Bt também eram mais agressivas e necessitavam de doses maiores e mais frequentes no controle químico.

Outro fato é que as empresas recomendam o famoso Manejo Integrado de Pragas (MIP), a forma mais inteligente de se manejar as pragas utilizando várias metodologias que vão desde a época de plantio, rotação de culturas, de inseticidas e de monitoramento. Tudo isso bastante eficiente, só que pelo valor cobrado da tecnologia no milho Bt, tal qual pela tecnologia Intacta, o produtor chega a fazer a seguinte pergunta: com esse preço eu ainda vou ter que monitorar minha lavoura ou mesmo aplicar produtos? A resposta parece óbvia.

 

Essa é parte da matéria de capa da revista Campo & Negócios Grãos, edição de janeiro 2018. Adquira a sua para leitura completa.

 

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