Janaina Marek
Engenheira agrônoma, mestre e doutoranda em Produção Vegetal – Universidade Estadual do Centro-Oeste
Dione de Azevedo
Engenheiro agrônomo e consultor
Com a busca constante por uma agricultura mais sustentável, profissionais e pesquisadores se empenham em avaliar novas alternativas para o controle de doenças. Estudos recentes mostram que a aplicação de espécies de Trichoderma nas culturas da batata, melancia, pepino, tomate e feijão, proporcionaram resultados satisfatórios, tanto como agentes de biocontrole quanto como bioestimulante, também chamados de “˜biofertilizante’.
Os fungos do gênero Trichoderma são importantes agentes de biocontrole de patógenos (como Fusarium solani, Rhizoctonia solani, Sclerotinia sclerotiorum, entre outros) e também promovem o crescimento das plantas, e por isso chamados de fungos promotores de crescimento de plantas (FPCP).
Deste modo, a utilização destas espécies na agricultura como antagonistas, no controle biológico de doenças, não é o único objetivo, pois estes microrganismos também promovem o aumento de rendimento e qualidade da produção, além de reduzir o impacto negativo de agroquímicos sobre o meio ambiente.
Trichoderma
O gênero Trichoderma é o gênero de fungos mais estudado atualmente. Já são mais de 200 espécies identificadas molecularmente. São fungos que apresentam uma vasta capacidade de ocupar vários nichos ecológicos sendo, portanto, considerados cosmopolitas.
Frequentemente são encontrados em diferentes ecossistemas, habitando o solo, a rizosfera, endofiticamente, parasitando outros fungos sobre madeira morta e cascas, associados com espécies herbáceas ou lenhosas, e até mesmo em esponjas marinhas.
Entre as várias estirpes ou espécies de Trichoderma utilizadas na agricultura, há aqueles que se destacam como importantes agentes de biocontrole e outros que apresentam potencial como promotores de crescimento de plantas, bem como aqueles que possuem ambas as ações: biocontrole + bioestimulante.
Por isso, a escolha de qual espécie utilizar é uma questão particular, ou seja, depende do objetivo que se quer alcançar, uma vez que algumas estirpes de Trichoderma são mais adequadas para o controle biológico como biopesticidas, e outras para estimular o crescimento das culturas, atuando como bioestimulantes.
Na literatura, há relatos de que mais da metade dos biopesticidas registrados possuem como princÃpio ativo, pelo menos uma espécie de Trichoderma, ou a mistura de duas ou mais espécies deste fungo, o que aumenta sua eficiência e bioatividade no controle de patógenos em diferentes culturas.
As espécies de Trichoderma frequentemente estudadas e/ou utilizadas para o biocontrole são T. asperellum, T. atroviride, T. harzianum, T. virens, e T. viride. Estas espécies também apresentam elevada ação bioestimulante. Vários estudos descrevem a eficiente capacidade destas espécies em promover o aumento da altura das plantas, biomassa total, melhor crescimento e desenvolvimento das raízes, bem como maior disponibilidade de nutrientes como P e N.
A ação bioestimulante ou biofertilizante do Trichoderma
Estes fungos são recicladores de nutrientes e colonizadores benéficos do solo. O Trichoderma atua como biofertilizante na decomposição de folhas, caules, raízes e resíduos animais, que, depois de decompostos, tornam os nutrientes solúveis, aumentando a disponibilidade e permitindo assim uma maior e mais rápida absorção pelas plantas. E não são prejudiciais ao homem e ao meio ambiente.
Portanto, o aumento do crescimento proporcionado por estes agentes biofertilizantes é atribuÃdo ao aumento da absorção de nutrientes. A acessibilidade dos nutrientes pelas plantas é afetada pelo equilíbrio dinâmico e complexo de solubilização e insolubilização dos macro e micronutrientes do solo, que são fortemente influenciados pelo pH e pela microflora presente.
O comportamento do Trichoderma na rizosfera pode variar conforme a cultura e o ambiente, com a interferência de outros microrganismos, substrato, temperatura e umidade.
Ação e reação
A ação do Trichoderma na promoção de crescimento de plantas está fortemente relacionada à solubilização de nutrientes necessários às mesmas. Sua ação como bioestimulante no crescimento radicular promove o crescimento das raízes por meio de fitohormônios, que auxiliam na assimilação de nutrientes, e ainda promove o controle de doenças. Seus efeitos benéficos para a planta não ocorrem de forma isolada, mas em conjunto.
Alguns estudos demonstram que determinados isolados de Trichoderma, como o T. harzianum possuem habilidade para solubilizar nutrientes a partir de compostos como: rochas de fosfato, óxido de manganês, óxido de ferro e zinco metálico.
Alguns autores citam que essa solubilização seria devido à liberação de ácidos orgânicos e consequente acidificação do meio. Com isso, o fungo solubiliza muitos nutrientes importantes para a planta, o que culmina em maior promoção de crescimento.
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