Bruno da Silva Moretti
Raquel Batista de Oliveira
Engenheiros agrônomos, mestres em Ciência do Solo
Antonio Eduardo Furtini Neto
Engenheiro agrônomo, doutor em Solos e Nutrição de Plantas e professor da Universidade Federal de Lavras/UFLA
Espécies florestais mais tolerantes à acidez, como o eucalipto, não necessitam de grandes investimentos em correção do solo para apresentarem um crescimento satisfatório, diferente de outras espécies menos adaptadas a solos ácidos, como o cedro australiano.
Todavia, mesmo para o eucalipto, para atingir altas produtividades, a planta necessita de grande quantidade de nutrientes, dentre eles o cálcio, que é fornecido basicamente via calcário ou gesso, e o magnésio, que em geral é fornecido pelo calcário.
Demanda por correção de solo
A exigência nutricional das espécies florestais varia entre espécies e até mesmo entre variedades ou clones distintos. Assim, é de suma importância que a tomada de decisão sobre a forma e tipo de manejo deve ter como princÃpio uma análise quÃmica do solo, realizada antes do plantio. É esta análise que vai indicar qual a necessidade de correção via calcário, e de gessagem do solo.
Se for considerada a aplicação de calcário apenas para a correção da acidez de uma floresta de eucalipto, certamente a necessidade deste corretivo será baixa, devido à tolerância que esta espécie apresenta para a acidez do solo.
Todavia, uma floresta de eucalipto com produtividade média de 50 m3/ha/ano, com idade entre seis a sete anos apresenta um acúmulo estimado de Ca na parte aérea de entre 240 a 500 kg/ha e de 45 a 115 kg/ha de Mg, segundo alguns dados de pesquisa.
Esta variação na extração de nutrientes indica que esta espécie pode apresentar uma demanda por Ca e Mg variável e que o conhecimento prévio dessas demandas pode proporcionar ganhos significativos para o produtor.
Dessa forma, o produtor deve, primeiramente, realizar uma análise de solo da camada de 0 a 20 cm, 20 a 40 cm e, se possível, de 40 a 60 cm de profundidade da área onde a cultura será implantada e obter, junto a um profissional capacitado, a estimativa da demanda por cálcio e magnésio da cultura.
A quantidade de calcário necessária para suprir as necessidades da cultura deve ser calculada visando a elevação da saturação por bases do solo e o suprimento de cálcio e magnésio para a planta.
Recomendações
O gesso agrícola deve ser recomendado para correção de camadas subsuperficiais, abaixo de 20 cm. Para espécies florestais, o uso do gesso agrícola é recomendado principalmente para regiões de déficit hídrico, pois apresenta maior solubilidade que o calcário e proporciona um carreamento do cálcio para maiores profundidades, além do seu efeito de redução da atividade do alumÃnio.
O carreamento do cálcio em camadas subsuperficiais melhora os atributos do solo, proporcionando melhores condições para o aprofundamento das raízes, dando condições para a planta suportar melhor os veranicos.
No geral, a quantidade de gesso a ser aplicada no solo deve sempre ser calculada com base nos resultados de uma análise de solo na camada abaixo de 20 cm de profundidade. Vale ressaltar que o gesso também é fonte de enxofre e que este insumo muitas vezes é suficiente para suprir a demanda deste nutriente para a maioria das culturas.
Quando aplicar
A época ideal de aplicação do calcário no solo para o cultivo de espécies florestais, geralmente, é com antecedência mÃnima de 30 dias da subsolagem e da abertura das covas de plantio. Vale ressaltar a importância da umidade adequada do solo para favorecer a reação do corretivo, sendo recomendável aplicá-lo próximo da época chuvosa de cada região.
A aplicação do gesso agrícola no solo depende da reação inicial do calcário, em particular do aumento da capacidade de troca de cátions (CTC) para reduzir prováveis lixiviações de potássio (K) e magnésio (Mg). Para tanto, é comum aplicar este condicionador de solo em torno de 20 dias após a aplicação do calcário.
Ambos são produtos que devem ser aplicados com a devida antecedência ao plantio para que haja tempo suficiente para ocorrerem as reações no solo e a consequente liberação dos nutrientes. Caso este tempo de reação não seja respeitado, o produtor colocará em risco o sucesso do desenvolvimento da floresta, uma vez que a fase mais crÃtica do estabelecimento da cultura são os primeiros meses, onde a planta se encontra em fase de adaptação e consequentemente mais susceptÃvel.
Até culturas mais tolerantes à acidez, como o eucalipto, apresentam redução no crescimento em solos com elevada concentração de alumÃnio e pH muito baixo, justificando a necessidade da aplicação dos corretivos e condicionadores nas quantidades e períodos adequados.