A Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) teve recentemente seu primeiro registro de cultivar, no Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento ““ MAPA, sendo denominada de Tributun, ou seja, uma contribuição para a cafeicultura. É uma cultivar de Coffeacanephora Pierre ex A. Froehner (conilon ou robusta), composta por seis genótipos/clones, tendo diversas características superiores (Tabela 1).
Participaram do registro como melhoristas os engenheirosagrônomos Fábio Luiz Partelli (professor da UFES e coordenador do trabalho), João Antonio Dutra Giles, GleisonOliosi, André MonzoliCovre, Adésio Ferreira e o agricultor Valcir Meneguelli Rodrigues.
Inicialmente, os materiais foram selecionados e propagados vegetativamente por estaquia e plantados em uma mesma lavoura, juntamente com genótipos registrados que são tradicionalmente cultivados na região, e estes foram utilizados como padrão de produtividade.
Detalhes
O plantio experimental foi composto por mais de 25 genótipos. Dentre todos os materiais avaliados no ensaio, considerando características como produtividade, vigor, tamanho de frutos e resistência a pragas e doenças, foram selecionados seis genótipos considerados superiores (A1, Bambural, Beira Rio 8, Clementino, Pirata e Verdim R ““ nomes dados pelos agricultores) para constituir a nova cultivar clonal, denominada Tributun. A média das quatro colheitas dos seis genótipos foi de 90,87 sacas por hectare por ano (Tabela 1).
Durante os anos de avaliação, foi verificada boa adaptação dos genótipos às condições de cultivo. Não foi verificado ataque severo das principais pragas e doenças, com as plantas mantendo-se vigorosas e com bom enfolhamento.
Fomento
O número de genótipos selecionados assegura um bom nível de fecundação cruzada. Apesar do registro de uma cultivar de seis genótipos, a equipe de trabalho fomenta que o agricultor tenha a liberdade de plantar os clones na forma que achar conveniente, desde que sob orientação técnica, visto que a espécie Coffeacanephora é alógama, possuindo autoincompatibilidade gametofÃtica.
“Não obrigatoriamente há necessidade do plantio dos seis clones numa mesma lavoura em linha ou misturados. O agricultor, por exemplo, pode escolher um dos clones como principal e usar outros clones como cruzadores, intercalando duas linhas de um e uma linha com materiais diversos, para garantir a fecundação plena da lavoura. Pode também, no mesmo plantio, utilizar outros genótipos de sua preferência“.
Tabela 1. Altura e diâmetro da planta aos 477 dias após plantio, comprimento do entrenó dos ramos plagiotrópicos, peso e volume de fruto maduro, produtividade média de quatro safras (2014, 2015, 2016 e 2017) e maturação.
Genótipos | Altura | Diâmetro | Entre nó | Peso | Volume | Produtividade | Maturação |
cm | cm | cm | g | mL | sacas ha-1 | – | |
A1 | 76,94 | 115,81 | 3,66 | 1,091 | 1,060 | 87,03 | Médio |
Bambural | 86,00 | 110,75 | 2,95 | 0,928 | 0,900 | 88,56 | Médio/Tardio |
Beira Rio 8 | 84,75 | 110,50 | 3,54 | 1,413 | 1,350 | 82,72 | Prec/Med |
Clementino | 88,56 | 126,00 | 3,48 | 1,046 | 0,990 | 82,52 | Médio |
Pirata | 87,50 | 147,88 | 3,91 | 1,073 | 0,977 | 105,78 | Precoce |
Verdim R# | 82,38 | 108,56 | 3,10 | 0,834 | 0,852 | 98,60 | Prec/Med |
# Geralmente apresenta menor rendimento (maduro/beneficiado). Dois anos de grande estresse hídrico.
“Destacamos e agradecemos aos primeiros melhoristas, os agricultores que fizeram a primeira seleção destes e outros materiais. Coube a nós realizar a avaliação de campo em ensaios de competição. Assim, cabe à equipe agradecer a esses agricultores pela grande contribuição e parceria. Portanto, mantivemos o nome do genótipo da forma que ele é conhecido entre os agricultores. Nós não desenvolvemos, mas contribuÃmos de forma prática e científica na definição de quais são os melhores clones entre os diversos estudados, num ensaio de competição, para depois solicitar o registro de uma cultivar. Daà o nome de Tributun, nome que em Latim significa contribuição“.
Origens dos clones
Como relatado e de conhecimento, na maioria das vezes os materiais promissores são “descobertos“ pelos agricultores. Relata-se os clones que compõem a nova cultivar:
ÃœA1: Genótipo propagado/difundido inicialmente por Ivan Milanez e Hélio Dadalto. Também conhecido por H e H1.
ÃœBambural: Genótipo descoberto e difundido por José Bonomo no final da década de 1980. Planta superior encontrada no município de São Mateus, na propriedade de Eliseu Bonomo.
ÃœBeira Rio 8: Inicialmente foram selecionadas e multiplicadas diversas plantas encontradas numa lavoura próxima ao Rio São José, município de Rio Bananal. Essa seleção inicial foi realizada pelos agricultores José Francisco Partelli e Valcir Meneguelli Rodrigues. Depois de algumas colheitas em uma lavoura comercial em Vila Valério, Valcir Rodrigues, pré-selecionou seis clones e estes foram cultivados em um ensaio de competição, sendo selecionado o clone denominado de Beira Rio 8.
ÃœClementino: O agricultor Valcir Meneguelli Rodrigues observou por três anos a superioridade de uma planta próximo de uma estrada. A planta estava na propriedade do agricultor Clementino Figueira de Barros, localizada no município de Vila Valério.
ÃœPirata: também conhecido como 24. Planta descoberta por Paulo Renato Pimenta Maia em sua propriedade no Córrego da Areia, município de São Mateus, no final da década de 1990. Foi propaganda e difundida por Fausto Afonso Cremasco.
ÃœVerdim R: Clone de origem incerta. Passou a ser considerado superior quando cultivado na propriedade de José Valiatti, município de Jaguaré, sendo inicialmente multiplicado por Jailson Antonio do Nacimento.