Rafael Campagnol
Doutor em Agronomia e professor de Olericultura ““ Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)
Elisamara Caldeira do Nascimento
Doutora em Agronomia ““ Zeólita Consultoria Agronômica
Talita de Santana Matos
Doutora em Agronomia ““ Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)
Glaucio da Cruz Genuncio
Doutor em Agronomia e professor de Fruticultura ““ UFMT
A enxertia é uma técnica que visa a combinação de dois ou mais materiais genéticos diferentes (geralmente da mesma espécie ou gênero) numa mesma planta por meio da regeneração de tecidos.
Na fruticultura a enxertia é uma técnica bem difundida no Brasil, sendo muito utilizada na produção de mudas de citros, manga, pêssego, uva, dentre muitas outras espécies frutÃferas.
Já na olericultura, a enxertia é uma técnica pouco utilizada no País, apesar das inúmeras vantagens que pode proporcionar. Em países onde a produção de hortaliças é mais tecnificada, como os Estados Unidos, Japão, Holanda, Espanha, Chile e México, por exemplo, o uso de mudas enxertadas é muito difundido, auxiliando os produtores a enfrentar certas limitações aos cultivos e contribuindo para o aumento da produtividade e qualidade dos produtos.
O pimentão
A finalidade da enxertia, tanto para frutÃferas quanto para hortaliças, é unir diferentes partes, geralmente sistema radicular e parte aérea, numa mesma planta e, com isso, combinar características vantajosas de ambos os materiais que a originaram.
No cultivo de pimentão, uma combinação de plantas interessante, utilizada como forma de aumentar o ciclo produtivo e a produtividade das plantas, é enxertar (parte aérea) uma cultivar de interesse econômico (um pimentão tipo Block, por exemplo) sobre um porta-enxerto (sistema radicular) mais vigoroso.
Essa característica de vigor é passada para a parte aérea, que se toma mais vigorosa e produtiva. Outro exemplo de combinação de materiais é utilizar como enxerto um pimentão altamente produtivo, mas suscetÃvel a nematoide, e como porta-enxerto um material genético (pimentão ou pimenta) que possua resistência a nematoide, mas que não produz frutos de interesse econômico.
Desta forma, a planta enxertada terá tanto a característica de alta produtividade como de resistência ao nematoide.
Vantagens
A principal vantagem da enxertia é unir numa mesma planta características vantajosas de dois materiais genéticos diferentes. Para que isso seja possível, primeiramente os materiais devem ser compatÃveis e apresentar as características desejadas.
Geralmente, o enxerto, cavaleiro ou copa, deve ter frutos de interesse econômico, resistência a alguma doença da parte aérea, alta produtividade ou um conjunto de características vantajosas. Já o porta-enxerto, cavalo ou sistema radicular deve apresentar características como alto vigor, resistência a alguma doença de solo, a nematoides e/ou alta capacidade de absorção de nutrientes.
Alguns porta-enxertos também podem conferir à planta maior tolerância ao estresse abiótico, como hídrico, térmico e salino.Em cultivos protegido, por exemplo, o uso intensivo e prolongado do solo pode resultar em aumento da salinidade e incidência de doenças de solo de difícil controle.
Como não é viável economicamente substituir o solo da estufa agrícola, uma das alternativas para contornar esse problema é o uso de mudas enxertadas. Entretanto, mesmo que não haja fatores limitantes ocorrendo na área de cultivo, muitos produtores podem usar mudas enxertadas com porta-enxerto de vigor como forma de aumentar o crescimento vegetativo e produtivo das plantas. Essa opção tem sido muito empregada pelos produtores holandeses para aumentar o período de colheita das plantas e, consequentemente, a produtividade de frutos.
As principais características de um porta-enxerto são: ser compatÃvel com o enxerto escolhido, possuir sementes com boa germinação e emergência, ter um estande e diâmetro de caule uniformes e apresentar as características de seu interesse (vigor, resistência a nematoides, doenças, salinidade, dentre outras).
Cabe ressaltar que dificilmente encontraremos todas essas características desejáveis em um único material genético. Por isso, cabe ao produtor selecionar o tipo de porta-enxerto que possua a característica que conferirá Ã planta vigor ou resistência ao principal fator limitante da produção no local de cultivo.
Compatibilidade entre as plantas
O pimentão e muitas pimentas são a mesma espécie (Capsicumannuum), e por isso geralmente apresentam compatibilidade quando enxertadas. Mesmo outras espécies de pimentas pertencentes ao mesmo gênero (Capsicum) podem ser usadas como porta-enxertos de pimentão.
A compatibilidade entre enxerto e porta-enxerto é maior quanto mais estreito é o parentesco entre as plantas, sendo mais comum dentro da mesma espécie ou gênero. Umas das principais preocupações no momento de se realizar a enxertia é coincidir, totalmente ou numa extensão considerável, a região do câmbio vasculardo enxerto com a do porta-enxerto.
Esse contato entre os câmbios é fundamental para que seja formado um novo xilema e floema no ponto de união entre as duas plantas. Isso é facilitado usando mudas de enxertos e porta-enxertos com diâmetro (largura do caule) semelhantes.
Manejopara uma enxertia ideal
Â
A enxertia é um processo delicado e que exige mãodeobra qualificada e condições específicas para manutenção das plantas durante o processo de confecção do enxerto e cicatrização dos tecidos. Tendo essas condições, o primeiro passo é selecionar os materiais que serão enxertados, semeá-los em bandejas com substrato adequado e mantê-los em estufa agrícola até o ponto ideal de enxertia.
Porta-enxertos com característica de vigor geralmente se desenvolvem mais rapidamente em relação ao enxerto. Nesse caso, ele deve ser semeado alguns dias antes para que no momento da enxertia ambos os materiais tenham o mesmo diâmetro de caule.