Douglas Grizorte Souza
douglasgrizorte@hotmail.com.br
Emerson Passelle Lima Rezende
Graduandos em Agronomia – Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB)
Tales Miler Soares
Professor do Centro de Ciências Agrárias, Ambientais e Biológicas (UFRB)
No Semiárido do Nordeste brasileiro existe grande disponibilidade de águas de concentrações salinas, tornando-se inviáveis para utilização na irrigação da maioria dos cultivos. Para Soares et al. (2010), a técnica da hidroponia surge como uma alternativa para o aproveitamento de águas salobras, sendo uma maneira de mitigar o problema da escassez de água de boa qualidade.
Ainda de acordo com os autores, na hidroponia a resposta das plantas em condições salinas é melhor que no solo devido à ausência do potencial mátrico, que é uma das causas da diminuição da energia livre da água.
Os sistemas hidropônicos, em sua maioria, são dependentes de energia elétrica, o que pode ser um impedimento para difusão dessa técnica no semiárido brasileiro, pois em alguns locais distantes dos grandes centros são frequentes as interrupções no fornecimento de energia.
Segundo Santos Júnior et al. (2015) e Silva et al. (2016) são necessários estudos com sistemas hidropônicos menos dependentes da energia elétrica. Nesse contexto, Silva et al. (2016) citam que os sistemas como o floating e o DFT são promissores para as comunidades rurais do Semiárido. Nesses sistemas as raízes permanecem submersas na solução nutritiva, portanto, pressupõem recirculações menos frequentes que o NFT, para o qual se irriga usualmente a cada intervalo de 15 minutos.
Pesquisa
Objetivou-se, no presente trabalho, avaliar o efeito do uso de águas doce e salobra sob diferentes intervalos de recirculação da solução nutritiva no cultivo hidropônico de cebolinha.
A produção hidropônica com cebolinha no Brasil resulta em um produto final com melhor qualidade e maior precocidade, sendo este de importância econômica e apreciado na culinária mundial.
Material e métodos
O trabalho foi conduzido em casa de vegetação no Núcleo de Engenharia de Água e Solo/NEAS, na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia/UFRB, no município de Cruz das Almas (BA) (12º40’19“S, 39º06’23“W e altitude de 220 m).
Utilizou-se um sistema hidropônico com os canais de cultivo em nível, conforme descrito por Silva et al. (2016). Os canais de cultivo foram confeccionados com tubulações de PVC (tipo irrigação, de cor azul), com diâmetro de 75 mm, com 6 m de comprimento, com orifÃcios circulares de 0,044 m de diâmetro, espaçados em 0,14 m, de modo equidistante, com espaçamento horizontal de 0,80 m entre os tubos.
A estrutura foi composta de 20 bancadas de cultivo, cada uma com dois perfis hidropônicos. Cada parcela foi representada por um perfil hidropônico independente, composta por um reservatório de plástico (capacidade de 60 L) e uma eletrobomba para recalcar a solução para o perfil hidropônico, em vazão média de 1,55 L min-1.
O delineamento experimental adotado foi o aleatorizado em blocos de cinco repetições, em esquema fatorial 2×4: dois níveis de condutividade elétrica (CE) da água (0,30 e 5,3 dS m-1) e quatro frequências de recirculação da solução nutritiva (intervalos de 0,25; 2; 4 e 8 h).
A água de 5,3 dS m-1 foi salinizada artificialmente mediante adição de cloreto de sódio (NaCl) Ã água doce (0,30 dS m-1). Os dois tipos de águas foram utilizados tanto para o preparo da solução nutritiva quanto para reposição das perdas por evapotranspiração.
A frequência de 0,25 h (controle) constituiu da seguinte programação: das 06h da manhã às 20h da noite o sistema ficou ligado 15 min e desligado 15 min; no restante da noite a recirculação da solução foi feita a cada duas horas, ficando ligada por 15 min.
Na segunda, terceira e quarta frequência, a recirculação foi realizada a cada 2, 4 e 8 h, respectivamente, permanecendo o sistema ligado por 15 min.
Em 26 de agosto de 2014 as sementes de cebolinha “˜Todo Ano’ foram semeadas em copos descartáveis, com capacidade de 80 mL, contendo substrato derivado de fibra de coco. Antes da semeadura, os copinhos foram cheios com o substrato já umedecido, em seguida colocaram-se 10 sementes por copinho. Aos 20 dias após a semeadura (DAS) realizou-se o desbaste, deixando-se apenas quatro plântulas por copinho.
Transplante
As mudas foram transplantadas para os canais de cultivo aos 30 DAS, quando apresentavam cerca de 0,15 m de altura. Da semeadura até o transplantio as plântulas foram irrigadas com água de abastecimento municipal (0,30 dS m-1).
A solução nutritiva empregada no cultivo foi a recomendada por Furlaniet al. (1999). Apesar do reservatório plástico possuir capacidade para 60 L, estabeleceu-se o volume de solução nutritiva de 53 L, mantido constante durante todo o ciclo, com abastecimento realizado manualmente a cada dia e com auxÃlio de uma proveta graduada.
A condutividade elétrica da solução nutritiva e também o pH foram avaliados a cada dois dias. Os valores de pH foram mantidos dentro da faixa (5,5 – 6,5) recomendado para o cultivo hidropônico de hortaliças folhosas, sendo realizadas correções quando necessário.
Aos 55 dias após transplantio (DAT) realizou-se a colheita (dois maços de cebolinha por parcela), avaliando-se: altura de planta (AP) (mensurada do colo da planta até a folha de maior altura); número de folhas por planta (NF); massas de matéria fresca de bulbo por planta (MFB), da parte aérea por planta (MFPA) e por maço de quatro plantas (MFPAmaço).
Os dados foram submetidos ao teste F da análise de variância e as médias foram comparadas mediante o teste de Tukey (0,05 de probabilidade).
Resultados
Não houve interação significativa (p>0,05) entre os tipos de água e as frequências de recirculação sobre qualquer variável. Os tipos de água promoveram efeito altamente significativo (p<0,01) sobre todas as variáveis: AP, NF, MFB, MFPA e MFPA maço. Já as frequências de recirculação não promoveram mudanças significativas (p>0,05) sobre as variáveis em estudo, com valores médios de 50,68 cm (AP); 4,91 (NF); 0,51 g (MFB); 9,55 g (MFPA) e 38,21 g (MFPA maço).