Fernando Simoni Bacilieri
Engenheiro agrônomo, mestre e doutorando em Agronomia – Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
Roberta Camargos de Oliveira
Engenheira agrônoma, doutora e PhD em Agronomia – Universidade Federal de Sergipe (UFS)
Jarbas dos Reis Silva
Graduando em Agronomia -UFU
A cafeicultura é uma atividade consagrada e de grande importância para o agronegócio no Brasil, visto que o país é o maior produtor e exportador mundial de café. De acordo com dados da Conab (2018), a produção de café desta safra poderá chegar a 58,5 milhões de sacas beneficiadas, resultado do crescimento expressivo atribuÃdo à bienalidade positiva, tecnologias adequadas e às condições climáticas que favoreceram o desenvolvimento das lavouras.
Manejo é tudo
Um dos aspectos fundamentais para obtenção de produtividades satisfatórias que contribuem para a sustentabilidade da cafeicultura é o manejo nutricional das plantas. Os elementos essenciais para a nutrição de plantas são divididos em dois grupos principais, sendo eles indispensáveis ao desenvolvimento das plantas em suas funções, pois o crescimento, a qualidade e a produção podem ser limitados.
Estes são classificados, de acordo com a quantidade exigida pelas plantas, em macronutrientes: nitrogênio (N), fósforo (P), potássio (K), cálcio (Ca), magnésio (Mg) e enxofre (S) e micronutrientes: boro (B), cloro (Cl), cobre (Cu), ferro (Fe), manganês (Mn), molibdênio (Mo), nÃquel (Ni) e zinco (Zn).
No entanto, outros elementos, vistos como aprimoramento, complementação, ou ainda aditivos que auxiliam na expressão do potencial genético das plantas, por promoverem alterações no metabolismo e fisiologia vegetal com consequente alteração no desenvolvimento e crescimento, vêm sendo implementados, com respostas expressivas em diversas culturas.
Estes são classificados como nutrientes benéficos: sódio (Na), silício (Si), cobalto (Co), selênio (Se), titânio (Ti) e alumÃnio (Al) além dos bioestimulantes: aminoácidos, biofertilizantes, indutores de resistência, com ou sem associação a microrganismos benéficos, algas e vários outros subprodutos.
É válido relembrar que estas últimas categorias têm sido foco recente de pesquisas científicas, e devido à complexa rede de interações entre os fatores ambientais, genéticos e nutrição de base (macro e micronutrientes), ainda é raso o conhecimento que determine a essencialidade.
Apesar disso, não se pode descartar os efeitos positivos da aplicação destes produtos, cabendo ao produtor observar atentamente as relações que ocorrem na realidade de sua lavoura frente à aplicação.
A lavoura de café
O café é uma cultura exigente em todos os nutrientes essenciais, sendo que para produzir 1.000 kg de café em coco a demanda de nutrientes é: N 22,2 kg; P 3,2 kg; K 28,8 kg; Ca 3,5 kg; Mg 3,3 kg; S 1,2 kg; Zn 5,7 g; B 13,5 g e Cu 16,8 g.
Manejar adequadamente a adubação consiste em efetuar um conjunto de decisões que envolvem a definição das doses e das fontes de nutrientes a serem utilizadas, bem como as épocas e formas de aplicação de corretivos e adubos ao solo e à planta visando à máxima eficiência técnica e econômica em relação às condições de solo e de cultivo.
A aplicação de macro e micronutrientes com o objetivo de prevenção ou correção das deficiências nutricionais dos cafezais pode ser feita de três modos: diretamente no solo, por meio da adubação convencional, via fertirrigação, com a água de irrigação, ou em aplicação foliar.
Via foliar
A adubação foliar é um processo em que a nutrição das plantas é feita pelas partes aéreas, principalmente das folhas. Contudo, não deve ser encarada como substitutiva à adubação radicular, principalmente para os macronutrientes, o que exigiria um grande número de aplicações para atender às exigências das plantas.
Como as quantidades de micronutrientes requeridas pelas plantas são bastante reduzidas, sua aplicação via foliar constitui a forma mais prática, eficiente e econômica de suprir as necessidades das plantas.
A eficiência da absorção foliar varia em função da planta (tipo de cutÃcula, idade da folha, número de estômatos, presença de tricomas, turgor, umidade superficial, estádio nutricional e fase fenológica), do meio ambiente (temperatura, luz, fotoperíodo, intensidade do vento, umidade relativa, horário, estresse nutricional) e da solução aplicada (concentração, dose, aplicação, forma quÃmica, adjuvantes, pH, polaridade, higroscopicidade e interações entre nutrientes).
A velocidade de absorção dos nutrientes aplicados via foliar varia em função do nutriente aplicado e do tipo da planta, podendo demorar, em alguns casos, até 20 dias para que 50% do nutriente aplicado seja absorvido.
O aumento no aproveitamento de nutrientes via foliar nas lavouras pode ocorrer devido à complexação dos elementos catiônicos K+, Ca++, Mg++, Fe++, Mn++, Zn++ e Cu++ com os aminoácidos, formando, assim, um quelato orgânico que possui alta capacidade de atravessar a cutÃcula das folhas, que é a primeira barreira para absorção foliar por apresentar propriedades de atração e repulsão, em que os nutrientes aplicados na forma de cátions livres levariam maior tempo para serem absorvidos.
Por outro lado, os aminoácidos também podem ser aplicados via foliar. Estes são compostos importantes no metabolismo de nitrogênio e unidades formadoras dos peptÃdeos, proteínas e precursores de outras moléculas, como hormônios, coenzimas, nucleotÃdeos e polímeros de paredes celulares. São fundamentais para todos os seres vivos, e nas plantas estão envolvidos em uma série de reações fisiológicas ligadas intimamente ao crescimento e desenvolvimento.
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