Paulo Roberto Pala Martinelli
Engenheiro agrônomo, doutor e professor do CTA UNESP Jaboticabal
Â
As perdas agrícolas, devido aos nematoides, podem variar muito, dependendo da espécie desses vermes e da cultura hospedeira envolvida na associação, das condições de solo e clima do País ou da região geográfica onde se localiza a área infestada, do tipo de manejo adotado pelo produtor rural, do valor comercial do produto agrícola na época e de outros fatores.
Mas, há estimativas de perdas apresentadas por especialistas para certos casos, como o do nematoide das plantas cÃtricas (laranjeiras e limoeiros), Tylenchulussemipenetrans, que se supõe causar ao redor de 12% de redução da produção mundiala cada ano.
No Brasil, as perdas variam, também segundo estimativas, de 05 a 35%, em média, para os diferentes tipos de culturas (anuais, semi-perenes e perenes), sendo impossível cultivar economicamente certas plantas em áreas infestadas sem que rigorosas e sistemáticas medidas de controle venham a ser implementadas. É o caso da cenoura em área infestada por espécies do gênero Meloidogyne, de algodão em glebas infestadas por Rotylenchulusreniformis e de tantos outros.
Essas perdas acarretam prejuízos ao produtor e aumento de preços ao consumidor. Com o advento da população em busca de alimentos sem contaminação por agrotóxicos, os chamados alimentos ecologicamente corretos, o controle biológico se insere como alternativa viável no manejo desses patógenos.
Â
         Â
Condições para a doença
Os nematoides são organismos aquáticos; assim, sua ocorrência, em geral, é favorecida em solos com maior retenção de água. Além deste fator, os solos com baixa diversidade biológica e/ou degradados têm maior probabilidade de ocorrência do problema.
Solos com baixos teores de matéria orgânica apresentam maior possibilidade de os nematoides colonizarem o ambiente. A falta de rotação de culturas e a conservação de solos favorecem, também, a ocorrência desses microrganismos.
Controle biológico
Segundo Maloney (1995), o controle biológico envolve o estímulo ou aumento da atividade biológica para reduzir a quantidade de inóculo ou atividade do patógeno. Já Stirling (1991) define controle biológico da seguinte forma: “é a redução de populações de nematoides por meio da ação de organismos vivos, que não são plantas resistentes a nematoides, e ocorre pela manipulação do ambiente ou pela introdução de antagonistas“.
Um bom candidatoa agente de biocontrole deve apresentar as seguintes características: a) o parasitismo deve ser sempre letal; b) ser de fácil manipulação em laboratório; c) ser facilmente produzido em massa; d) de fácil aplicação com equipamentos convencionais; e) alto potencial de estabelecimento no solo; f) persistência no solo por longos períodos, mesmo em condições adversas; g) inocuidade ao homem e ao ambiente; h) não ter necessidade de aplicações constantes e, i) fácil identificação e com modo de ação conhecido.
O controle biológico também tem enorme potencial de uso nos cultivos protegidos, hortas, agricultura orgânica, e recentemente no manejo de nematoides em citros.
Inimigos naturais
Mais de 200 diferentes organismos são considerados inimigos naturais dos fitonematoides, dentre os quais são encontrados fungos, bactérias, nematoides predadores, ácaros, entre outros. Destes, cerca de 75% são fungos nematófagosencontrados normalmente no solo são inofensivos às culturas e ao homem e parasitam ovos ou cistos, predam juvenis e adultos ou, ainda, produzem substâncias tóxicas aos nematoides.
Atualmente, dos organismos promissores no controle biológico de nematoides destacam-se os fungos nematófagos, a bactéria hiperparasita Pasteuriapenetrans e as rizobactérias, atualmente classificadas de (PGPRs) PlantGrowthPromotingRhizobacteria.
Manejo do Bacillusamyloliquefaciens
Bacillusamyloliquefaciens é uma bactéria cosmopolita habitante natural de solos e comumente associada ao ambiente rizosférico e endofÃtico de plantas. Esta espécie possui uma grande afinidade filogenética com Bacillussubtilis, tendo por muito tempo recebido o status de subespécie, como B. subtilissubsp. amyloliquefaciens, ou incluÃda na espécie B. subtilis como uma variante que produz grande quantidade de enzimas extracelulares.
- amyloliquefaciens vem sendo associadaà proteção de plantas, mostrando resultados positivos na promoção de crescimento, assim como na redução do impacto causado por fungos e nematoidesfitopatogênicos.
A promoção de crescimento vegetal elicitada por bactérias decorre principalmente da capacidade das mesmas produzirem hormônios vegetais e de facilitarem a absorção de nutrientes pelas plantas, via fixação de nitrogênio atmosférico, solubilização de fósforo e síntese de sideróforos, o que permite o sequestro do ferro e disponibilização deste nutriente para a planta.