Maria Elita B. Castro
Doutora e pesquisadora da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (CENARGEN)
A Helicoverpa armigera (Hübner) (Lepidoptera: Noctuidae) é uma lagarta recentemente identificada no Brasil, tendo sido considerada, até 2013, uma praga quarentenária. Inicialmente foi relatada sua ocorrência em lavouras de soja e algodão, nos estados de Goiás, Bahia e Mato Grosso, e no momento, surpreendendo os agricultores e pesquisadores, esta praga está disseminada em vários estados e regiões do Brasil e em várias outras culturas de interesse econômico, como feijão e outras leguminosas, sorgo, milho, tomate, plantas ornamentais e frutÃferas.
O alto grau de polifagia (poder de destruição) dessa praga tem causado severos danos, tanto na fase vegetativa como reprodutiva da planta, o que vem trazendo grandes prejuízos e preocupação aos produtores agrícolas brasileiros.
Condições para o ataque
Helicoverpa armigera é uma praga cosmopolita, que apresenta grande mobilidade e adaptação a diferentes culturas e ambientes, além da alta capacidade reprodutiva e de resistência aos principais inseticidas conhecidos.
Essas características biológicas, favorecidas pelo desequilíbrio dos ecossistemas, ambientes climáticos adequados e falta de práticas de manejo para minimizar o ataque da praga, são fatores altamente propÃcios para a disseminação generalizada da Helicoverpa.
Esses fatores têm facilitado a frequente ocorrência de severos ataques da praga, causando grande destruição das plantações agrícolas no país.
Eficiência dos produtos biológicos
Os bioinseticidas produzidos a partir de baculovírus têm sido bastante eficientes no controle de pragas agrícolas, sendo capazes de causar a morte dos insetos entre quatro a sete dias após a infecção, surgindo assim um crescente interesse de uso destes produtos em programas de manejo integrado de pragas (MIP).
Em 1970, um primeiro bioinseticida à base do baculovirus HzSNPV foi registrado comercialmente (Virion-H, Biocontrol-VHZ, Elcar) e amplamente usado para controle da praga do algodão nos EUA.
HaSNPV, isolado em 1975, também foi usado com sucesso por mais de 20 anos no controle da H. armigera em algodão e outras culturas na China. Outros produtos, principalmente a partir de bactérias entomopatogênicas, têm sido registrados como bioinseticidas e usados no controle da praga.
Porém, o surgimento de resistência dos insetos a diversos inseticidas vem mostrando, cada vez mais, a necessidade do uso de táticas combinadas no sentido de reduzir a chance de sobrevida desses insetos.
A tecnologia Ha/HzNPV
A produção de baculovirus em larga escala tem sido feita em sistemas in vivo utilizando insetos, pelo fato de serem patógenos obrigatórios que requerem, para sua multiplicação, a presença do hospedeiro original.
Embora o primeiro formulado de baculovírus, registrado em 1975 nos Estados Unidos, tivesse como alvo o controle biológico de pragas do gênero Helicoverpa e Heliothis, no Brasil, até a ocorrência desastrosa da praga H. armigera nas diversas plantações, não se conhece qualquer registro de produto biológico para uso no combate dessa praga.
Diante dessa situação, instituições e empresas públicas e privadas, incluindo fortemente a Embrapa, vêm promovendo ações emergenciais envolvendo pesquisadores e especialistas no assunto, com vistas ao desenvolvimento tecnológico de bioinseticidas eficazes para o combate da praga.
De forma resumida e simples, a tecnologia para produção de baculovírus em uma biofábrica, consiste basicamente da criação massal do inseto hospedeiro, seguida da infecção e multiplicação viral. Essas etapas devem ser cuidadosamente controladas e monitoradas para manutenção das condições adequadas de criação dos insetos (temperatura, umidade e luminosidade) e para evitar a contaminação com microrganismos indesejáveis.
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