Evandro Antonio Minato
Doutorando em Solos e Nutrição de Plantas pela Universidade Estadual de Maringá (UEM)
Tadeu Takeyoshi Inoue
Marcelo Augusto Batista
Doutores em Solos e Nutrição de Plantas e professores ““ UEM
Michel Esper Neto
Marcos Renan Besen
Rodrigo Sakurada Lima
Doutorandos em Solos e Nutrição de Plantas ““ UEM
Eder Júnior de Oliveira Zampar
Bruno Maia Abdo Rahmen Cassim
Graduando em Agronomia ““ UEM
O uso de calcário e gesso agrícola na agricultura é uma prática comum e antiga. A técnica pode ser feita separadamente, aplicando-se primeiramente calcário e em seguida (após 06 a 12 meses) realizada a aplicação de gesso agrícola.
Outra possibilidade é o uso de ambos concomitantemente, podendo ser aplicado separadamente ou, mais recentemente, em misturas pré-realizadas entre calcário e gesso agrícola. Estas escolhas dependem muito do objetivo e da estratégia de manejo.
Especificamente o uso do gesso agrícola pode se dar de duas formas, como fonte de enxofre, condição em que as doses aplicadas são baixas (300 a 800 kg ha-1), e como condicionador do solo visando melhorias em camadas mais profundas (20 a 60 cm de profundidade) aplicando-se doses maiores de gesso (1.000 a 4.000 kg ha-1). Neste texto a utilização de gesso agrícola será abordada com condicionador do solo.
Entenda melhor
A aplicação simultânea de calcário e gesso pode beneficiar as raízes devido ao efeito complementar de ambos na melhoria do ambiente para o desenvolvimento radicular em profundidade. Enquanto o calcário a curto e médio prazo atua nas camadas superficiais do solo, aumentando o pH (Figura 1), fornecendo nutrientes essenciais como cálcio (Ca) e magnésio (Mg) e neutralizando elementos tóxicos como o alumÃnio (Al3+), o gesso atua como um produto complementar ao calcário diminuindo os níveis tóxicos de alumÃnio (Al3+) e fornecendo nutrientes como Ca (Figura 2) e enxofre (S) na forma de sulfato (SO42-) em subsuperfície (Figura 3) após curto período de tempo.
A atuação nas diferentes profundidades do solo é resultante da diferença entre a solubilidade destes dois produtos, no qual o carbonato de cálcio (CaCO3), principal constituinte do calcário, possui solubilidade de 0,014 g L-1 a 25°C, enquanto que o sulfato de cálcio (CaSO4.2H2O), principal constituinte do gesso, possui solubilidade de 2,5 g L-1 a 25°C.
Figura 1 ““ Valor de pH (CaCl2) ao longo do perfil do solo após 12 meses da aplicação superficial de diferentes doses de calcário
Figura 2 ““ Cálcio trocável (Ca2+) ao longo do perfil do solo após seis meses da aplicação superficial de diferentes doses de gesso
Figura 3 ““ Enxofre (S-SO42-) ao longo do perfil do solo após 12 meses da aplicação superficial de diferentes doses de gesso.
Culturas beneficiadas
A sensibilidade das culturas à acidez do solo e todas as suas implicações varia com as espécies cultivadas, tendo algumas mais sensÃveis e outras mais tolerantes à acidez. As grandes culturas (soja, milho, trigo, feijão, algodão, etc.) apresentam sensibilidade à acidez do solo. Porém, podem existir cultivares dentro de uma mesma espécie que são mais tolerantes à acidez.
De maneira geral, estas culturas, quando estiverem implantadas em solos com baixo valor de pH, baixos teores de Ca e elevados teores de Al3+ têm potencial de resposta para a técnica, porém, os resultados mais expressivos têm sido observados em gramÃneas e, principalmente, em anos sob deficiência hÃdrica, em que a melhoria no desenvolvimento profundo do sistema radicular permite maior aproveitamento no uso da água e ininterrupção dos processos fisiológicos.
Como implantar a técnica
 A técnica deve ser implantada sempre respeitando os critérios técnicos desenvolvidos pelos órgãos de pesquisa oficiais, e com o auxÃlio de um profissional capacitado que irá ajustar de acordo com as características de cada propriedade, levando em consideração o sistema de manejo, histórico produtivo, perspectiva de produção, disponibilidade financeira e potencial de uso da terra.
Na dose certa
A dosagem recomendada de calcário é variável de acordo com as características químicas do solo, das características do corretivo e a espécie em cultivo. O critério para a determinação da necessidade de calcário a ser utilizado deve seguir as recomendações de cada Estado ou região.
As principais formas de recomendação no Brasil são aquelas relacionadas ao pHSMP, a saturação por bases esperada e com base nos teores de Al e Ca + Mg. No Paraná, por exemplo, utiliza-se o método na elevação da saturação por bases, no qual culturas como soja, milho e trigo são classificadas como de baixa tolerância à acidez, preconizando-se a elevação da saturação por bases entre 60 a 70% na camada de 0 a 20 cm de profundidade para um adequado desenvolvimento das plantas.
Em relação ao gesso, existem vários métodos de recomendação, porém, o mais difundido leva em consideração, para tomada de decisão, quando as características químicas do solo na camada de 20 a 40 cm indicarem saturação por alumÃnio (m%) superior a 20% e/ou quando o nível o nível de cálcio é inferior a 0,5 cmolc dm-3. Nestes casos, a dose de gesso sugerida (kg ha-1) é o equivalente a 50 vezeso teor de argila (%).
Investimento
O custo do calcário e do gesso é variável, principalmente de acordo com o estado ou região, já que as jazidas de calcário e gesso e as fábricas de fertilizantes fosfatados de onde principalmente se obtém o gesso estão localizadas em regiões específicas, sendo o frete a variável que mais onera o valor final do produto na propriedade.
Além disso, as características do corretivo, como teor de cálcio, magnésio e PRNT também influenciam o valor final.
Por que aplicar
Quando falamos em custo-benefÃcio da utilização da técnica, temos que ter em mente a visão do sistema de produção como um todo e, principalmente, ao longo do tempo. Tanto o calcário como o gesso possuem um efeito residual que, dependendo da dose, pode perdurar por dois a cinco anos, garantindo retorno econômico principalmente a longo prazo.
Â