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domingo, novembro 24, 2024
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Cultivo de gengibre depende de cuidados no campo

Autor

Givago Coutinho
Doutor em Fruticultura e professor efetivo do Centro Universitário de Goiatuba (UniCerrado)
givago_agro@hotmail.com

O Espírito Santo é o maior Estado produtor de gengibre do País e a produtividade gira em torno de a 15 toneladas do produto fresco ou in natura e até três toneladas do produto já seco. O seu cultivo tem a finalidade medicinal, condimentar e aromática.

O gengibre (Zingiber officinale Roscoe), também conhecido por mangarataia, mangaratiá, gengivre, pertence à família Zingiberaceae e é nativo do Sudeste da Ásia e muito utilizado na cozinha oriental como tempero. No Brasil, tem seu cultivo incluso dentre as plantas com finalidade medicinal, condimentar e aromática.

Botanicamente, constitui uma espécie herbácea, perene, podendo atingir mais de um metro de altura. Além disso, seu rizoma (caule modificado, geralmente subterrâneo, que se diferencia das raízes pelo fato de apresentarem gemas laterais) é articulado, rastejante, anguloso, muito ramoso, achatado, carnoso e revestido de epiderme rugosa e pardacenta. O rizoma é a parte de interesse comercial da planta.

No campo, a produção de gengibre é bastante curiosa. O rizoma começa a produzir com sete meses, podendo permanecer no campo por até dois anos sem perder a qualidade. Contudo, é preciso ter alguns cuidados no campo. Teoricamente, o produtor poderia controlar a oferta e o preço. Só nesta época, quando aumenta muito o consumo, é que não é possível fazer esse controle.

Diante disso, o conhecimento técnico acerca dos fatores que envolvem o correto processo de produção constitui o passo inicial para o sucesso na produção do gengibre.

Importância econômica

Segundo a Embrapa, no Brasil a produtividade do gengibre alcançada por hectare pode chegar a 15 toneladas do produto fresco ou in natura e até três toneladas do produto já seco. Segundo Matias (2015), o Espírito Santo é o maior Estado produtor de gengibre do País. Neste Estado, a cultura ocupa um espaço importante na diversificação de culturas da região serrana do Estado.

Além do Estado do Espírito Santo, São Paulo e Paraná compõem o grupo dos principais produtores. Mas, para não apostar somente nele os produtores estão sempre buscando alternativas.

No mundo, a produção está principalmente entre Índia, China, Havaí, África do Sul, Nigéria, Jamaica, Sri Lanka e o Brasil, sendo estes os principais países produtores.

De acordo com o último censo feito pelo IBGE em 2006, o número de estabelecimentos que cultivaram o gengibre em 2006 no Brasil ficou em torno de 1.371 unidades, sendo o Espírito Santo o Estado com o maior número de unidades produtoras sendo 430.

Contudo, esses dados são antigos e a produção cresceu devido à grande procura por parte dos restaurantes japoneses, como ressalta Faria (2016), ao afirmar que o consumo do gengibre sofria forte sazonalidade há 10 anos e ficado concentrado principalmente no período de festas juninas.

Mercado interno x externo

No Espírito Santo, maior Estado produtor, Matias (2015) ressalta que apenas 20% do que foi produzido na principal região produtora do Eestado são comercializados no mercado interno e o restante é exportado para outros países, principalmente a Europa e os Estados Unidos.

Rentabilidade

Em relação ao rendimento por área, a média que tem sido obtida pelos produtores fica em torno de 20-25 t.ha-1, em caso de lavouras bem conduzidas. Contudo, há relatos de produtividades de até 90 t.ha-1, quando se intensifica adubação, sobretudo a orgânica.

O cultivo do gengibre tem duração média de seis a 10 meses, quando se inicia o período de colheita. Esse período tem início quando as plantas estão em estádio de senescência (amarelamento). De maneira geral, a colheita se inicia cerca de sete meses após o plantio.

Plantio

O plantio deverá ser feito nos meses de outubro a dezembro, em sulcos com profundidade de 15 cm, conforme o tamanho dos rizomas-sementes. Os espaçamentos recomendados são: 1,0 m entrelinhas x 0,20 m entre plantas.

Recomenda-se distribuir os rizomas ao longo dos sulcos, com espaçamento entre si de 20 cm e posicionados transversalmente, para que as novas brotações cresçam perpendicularmente ao sulco. Em seguida, cobrir os rizomas com uma camada fina de solo (Pereira et al., 2012)

Cuidados

Uma das principais práticas a serem efetuadas no cultivo é a amontoa, que consiste em sobrepor o solo junto à base da planta, de modo a recobrir os rizomas, evitando que os mesmos fiquem à mostra, ou seja, descobertos no solo. Pereira (2012) recomenda iniciar as amontoas quando as plantas de gengibre atingirem cerca de 30 cm de altura.

Uma das principais etapas do cultivo do gengibre é o preparo do solo, etapa essencial na qualidade e produtividade da cultura. O mesmo deve ser preparado, e após o preparo deve estar isento de torrões que podem prejudicar o desenvolvimento dos rizomas.

Nutrição

Relata-se que o desenvolvimento do gengibre é mais bem favorecido em altitudes menores que 600 metros, onde as temperaturas estejam entre 25 e 30ºC. Além disso, as precipitações devem ser superiores a 2.000 mm sendo bem distribuídas ao longo do ano.

Com relação ao solo, o ideal é que o mesmo seja fértil, bem drenado, evitando o acúmulo de água na superfície, com declividade não acentuada (relativamente plano), favorecendo a mecanização, e que seu pH esteja em torno da faixa entre 5,0 a 6,0.


BOX

Erros e acertos

A Embrapa ressalta que, como passo inicial no cultivo, o produtor deve optar por material propagativo de boa qualidade e de procedência conhecida, atentando-se à identidade botânica e evitando problemas fitossanitários.


Controle de pragas e doenças

A principal praga relacionada ao início do ciclo da cultura de gengibre relatada por Elpo et al., (2008) no Norte do Paraná, é a lagarta rosca (Agrotis sp.), sendo os demais insetos que ocorrem na cultura: a lagarta elasmo (Elasmopalpus lignosellus – Lepidoptera: Pyralidae), a vaquinha (Diabrotica speciosa – Coleoptera: Chrysomelidae) e o curuquerê (Mocis latipes – Lepidoptera: Noctuidae)

Segundo Kimati et al., (2005), até 1988 o que se conhecia sobre os problemas fitossanitários da cultura do gengibre em condições brasileiras era muito pouco, essa situação só se reverteu a partir de 1989 quando teve início a ocorrência de uma doença foliar muito destrutiva no Paraná, decorrente da infestação do fungo Phyllosticta sp.

Elpo et al. (2008) avalia que essa mancha foliar, também conhecida como amarelão, afeta a parte aérea. Em relação aos nematoides, o mesmo autor relata a ocorrência de nematoides-das-galhas (Meloidogyne incognita e M. javanica), sendo mencionados pelo autor como de grande poder destrutivo.

Comercialização

As principais formas de comercialização do gengibre são in natura (rizomas frescos), em conserva ou cristalizado e seco (desidratação do rizoma, com ou sem casca) com umidade em torno de 12%. Além disso, o gengibre comercialmente, além de ser usado para remédio, é usado como condimento no preparo de bebidas (quentão de festas juninas) e perfumaria.

Tendências

O cultivo orgânico das culturas tem ganhado espaço no cenário agrícola brasileiro e constitui uma alternativa interessante no cultivo do gengibre. A busca por produtos livres de agrotóxicos, cultivados com adubação orgânica e com controle natural de pragas e doenças tem sido alvo de muitos consumidores, além de ser uma forma rentável de agregar valor ao produto final.


RETRANCA

Aposta orgânica que deu certo

José Erenita Fernandes é pequeno produtor de gengibre na fazenda Sacóbio, localizada na cidade de Caeté (MG), onde tem uma área de 1.000 ha e produz, em média, cinco caixas por semana.

“O melhor período para o plantio do gengibre é em novembro e dezembro, tendo a colheita em março e abril. Pode-se observar o período certo de colheita pelas folhas – assim que elas ficam amarelas e caem é a hora certa de colher”, ensina o produtor.

José Fernandes trabalha em prol da qualidade do produto, não usa nenhum defensivo agrícola, e considera seus produtos como orgânicos, ainda que não tenha, ainda, a certificação para este fim. “Hoje, no Brasil, para conseguir o selo de orgânico é um processo caro e burocrático, exigindo assistência técnica durante o todo processo de cultivo, o que fica inviável para o pequeno produtor”, diz.

Sua produção é primitiva, com nutrição originada de materiais orgânicos, produzida em sua própria fazenda, o conhecido bokashi, entre outros. Segundo o produtor, esse adubo aumenta a produtividade, o teor de nitrogênio na terra e os microrganismos que fazem o trabalho de perfuração do solo e deixa a planta perfeita.

Para combater as pragas como pulgão e ácaro, ele mistura cinza de madeira queimada com água em 50/50, adiciona um pouco de detergente neutro, pimenta e alho, que não são tóxicos ao meio ambiente. Como dicas de manejo, José Fernandes ensina que o gengibre deve ser plantado mais profundo, em uma média de 20 a 25 cm de profundidade, com espaçamento de 40 cm de um pé ao outro a 50 cm de largura.

Desafios

O grande desafio enfrentado pelos produtores de gengibre é o preço, e no caso de José Fernandes ele se sente acuado, sem opções de competir com outros produtos, pois não possui o certificado de orgânico, o que o obriga a vender seu produto no valor de varejo, mesmo sendo totalmente livre de químicos.

Mas, quanto ao sabor, ele garante que seus clientes sentem a diferença. “Esse é diferencial, o sabor de qualquer produto cultivado de forma primitiva, sem agrotóxicos tem o sabor mais adocicado e saboroso”, define.

As dificuldades que ele enfrenta são as chuvas de granizo, mas o gengibre é uma planta que renasce, “então, acaba dando tudo certo no final”, brinca. A temperatura ideal para o gengibre varia de 16 a 22°C.

Custo

O custo de produção do gengibre está em média em R$ 15 mil/ha, e a rentabilidade é de 100%, segundo José Fernandes, que comercializa para casas de produtos naturais e uma pequena parcela para a Ceasa.

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