Autores
Rita de Cássia Souza Dias
Pesquisadora de Recursos Genéticos e Melhoramento Vegetal da Embrapa Semiárido
rita.dias@embrapa.br
Joice Simone dos Santos
Bolsista FACEPE/CNPq/Embrapa Semiárido
joicessm@gmail.com
A produção brasileira de melancia corresponde a 105.064 hectares de área colhida e a 2.314.700 toneladas. O Nordeste lidera em termos de área plantada e de produção, com 36.864 ha e uma produção de 663.458 toneladas, seguido pelas regiões sul, norte, centro-oeste e sudeste do País. Dentre os Estados, o Rio Grande do Sul é o maior produtor nacional (18.551 ha).
A produtividade média brasileira de melancia é 22 t.ha-1, mas a região centro-oeste apresenta a maior produtividade média (33,26 t.ha-1), destacando-se Goiás como o maior produtor entre os demais dessa região (32,0 t.ha-1). No entanto, o Ceará apresenta nos cultivos irrigados a maior produtividade média nacional (34,0 t.ha-1).
Características atrativas ao mercado consumidor
No que se refere à aparência dos frutos, as melancias devem apresentar as seguintes características mínimas de qualidade: a) inteiras; b) isentas de podridões ou alterações que as tornem impróprias para consumo; c)limpas, praticamente isentas de matérias estranhas visíveis; d) praticamente isentas de parasitas ou de sua ação; e) firmes e suficientemente maduras, de forma que a cor e o sabor da polpa devem corresponder a um estado de maturação suficiente; g) não rachadas; h) isentas de umidade externa anormal; i) isentas de odores e/ou sabores estranhos.
Mas, ao abrir os frutos, os consumidores desejam encontrar uma polpa de cor vermelho intenso e doce (sólidos solúveis de 11 a 12ºBrix).
Tecnologias
As empresas situadas nos polos de irrigação do RN e CE operam com alto nível tecnológico e alto custo administrativo – fertirrigação, híbridos, uso de mulching, manta agrotêxtil, manejo fitossanitário adequado (inclusive muitas têm aumentado o controle biológico em suas lavouras), instalação de colmeias de abelhas para a polinização, cuidados pós-colheita e assistência técnica.
No entanto, as condições climáticas, solo e manejo de Uruana (GO) são muito boas para a produção de melancia. Ela é considerada a “Capital Brasileira da Melancia” e, em 2015, apresentou rendimento médio de 50 toneladas por hectare.
Os produtores da região, associados à Emater/GO, estão se organizando para requisitar e implantar a indicação geográfica (IG) para a melancia produzida em Uruana e municípios vizinhos.
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Cultivares mais plantadas
As cultivares de melancia do grupo globular predominam no cenário nacional, das quais as do tipo “Crimson Sweet” são as mais representativas. As principais são: Crimson Sweet, Manchester (F1), Talisman (F1), TopGun (F1), Red Heaven (F1), Ranger (F1), Explorer (F1). Outros tipos de melancia são: Magnum (F1), Charleston Gray, Congo, Esmeralda, Fairfax, Jetstream, Pérola e cultivares de menor massa de fruto, onde se incluem, principalmente, as cultivares triploides (‘sem sementes’).
Manejo da cultura
O manejo da cultura começa pela escolha de cultivares adaptadas às condições de clima e solo. Entre elas, há melancias com formas, tamanhos e cores diferentes, de polpa vermelho intenso ao amarelo, com ou sem sementes, mais precoces, produtivas e uniformes (normalmente, cultivares híbridas), com frutos maiores.
O plantio deve ser realizado em solos de textura média, arenosos, profundos, bem drenados e com boa disponibilidade de nutrientes. Deve-se evitar terrenos pesados, de má drenagem e sujeitos a encharcamentos.
A melancia se adapta bem a solos de acidez média, com pH de 5,5 a 6,8 e saturação por bases de 70%. No local definitivo, coloca-se em cada cova duas sementes (se for híbrido, pela qualidade da semente e o preço, coloca-se apenas uma), a uma profundidade de 02 ou 03 cm, cobrindo-as sem compactar o local que foi depositada a semente. O desbaste das plantas ocorrerá quando as mesmas apresentarem de três a quatro folhas, deixando-se apenas uma planta/cova (a mais vigorosa).
Adubação
_ Na fundação (antes do plantio): com distribuição de fertilizantes em sulcos, recomenda-se a aplicação de 10 a 20 m3/ha de esterco de curral curtido – de bovino, ovino ou caprino (em torno de 01 litro por cova) ou de aves (de 01 a 02 quilos por cova); ou quantidade equivalente de outros resíduos vegetais disponíveis na propriedade. Para uso da adubação química (ou mineral) de nitrogênio, fósforo e potássio, deve-se fazer de acordo com a recomendação da análise de solo.
_ Adubação de cobertura: no plantio convencional, a adubação de cobertura deve ser feita aos 25 e aos 45 dias após a semeadura, utilizando-se nitrogênio (N) e potássio (K), conforme recomendação do laboratório, quando da análise de solo. Quando se adota o sistema de fertirrigação, a aplicação do N deve ser iniciada após a germinação das plântulas, até 45 dias, e o K, até 55 dias após a germinação. Todos os fertilizantes devem ser distribuídos onde há umidade no solo para facilitar sua solubilização e absorção pelo sistema radicular.
Calagem
É essencial para neutralizar o alumínio em solos ácidos. Por isso, um mês antes do plantio, aplique a lanço e incorporado ao solo por meio de gradagem calcário dolomítico, que possui teores elevados de magnésio, além do próprio cálcio.
É importante lembrar que a calagem melhora os teores de cálcio e magnésio, nutrientes muito importantes para a melancia e para evitar o distúrbio fisiológico, denominado podridão apical dos frutos ou fundo preto.
Irrigação
A cultura da melancia é bastante exigente no manejo da aplicação de água, pois a escassez por um período curto de tempo, principalmente na floração/frutificação, pode afetar muito a qualidade dos frutos e a produtividade.
A demanda hídrica da melancia varia de acordo com a cultivar usada e a condição edafoclimática da região, podendo consumir de 300 a 550 mm por ciclo. A demanda hídrica diária varia por fase de desenvolvimento da cultura.
Espaçamento
Utiliza-se 3,0 m x 0,6 m; ou 3,0 m x 0,8 m (para cultivos menos tecnificados) ou 2,0 m x 0,4 m (cultivares de frutos pequenos).
Cuidados fitossanitários
Normalmente, as cultivares comerciais são suscetíveis a doenças e pragas. A umidade elevada nas lavouras aumenta a incidência de doenças virais e de doenças fúngicas.
O desejável é o manejo integrado de pragas (MIP) e doenças. Contudo, como não há ou são escassas as informações para o cultivo da melancia, recomenda-se seguir os indicadores do MIP do melão, já que ambas são da mesma família botânica.
Na seleção do agrotóxico a ser utilizado, devem-se considerar alguns parâmetros, como: a) selecionar produtos com eficiência conhecida para o alvo que se deseja controlar; b) conhecer a seletividade, poder residual e grau de toxicidade do princípio ativo; c) conhecer os mecanismos de ação dos produtos, não os associando quando estes forem iguais; d) conhecer a fenologia da cultura, o hábito e o ciclo de desenvolvimento do inseto ou forma afim, pois estes são fatores determinantes para utilização de alguns produtos específicos; e) utilizar produto registrado pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA); f) respeitar a carência do produto.
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Abelhas
Para assegurar uma boa produção de frutos é preciso contar com abelhas próximas ao plantio, pois estas são os principais agentes de polinização. Em grandes áreas de cultivo, principalmente, é recomendável a instalação de duas a três colmeias por hectare perto da cultura, que contribuirá para o aumento da produção.
Colheita
A melancia atinge o ponto de colheita entre 28 a 45 dias após a fecundação das flores femininas ou hermafroditas, dependendo da cultivar e das condições climáticas. No Nordeste brasileiro, esse período corresponde a 60-80 dias após o plantio. Porém, há uma grande influência de diversos fatores climáticos sobre o ciclo da cultura.
São indicativos do ponto da colheita: quando a gavinha próxima ao fruto estiver seca (que é um talinho localizado no mesmo nó do fruto), próximo ao pedúnculo e o som do fruto estiver “oco”, ao bater com a mão fechada no fruto. A melancia ainda estará verde se o som for metálico. Com um canivete, faca ou tesoura, corte o pedúnculo, cerca de cinco centímetros do fruto.
Erros que devem ser evitados
Para cada região, a época de plantio ocorre em distintos períodos do ano, uma vez que a época mais adequada é aquela em que durante todo o ciclo da cultura ocorrem as condições climáticas favoráveis, dependendo da localização e altitude.
A época de plantio mais favorável para a cultura da melancia é que apresenta temperaturas variando de 18°C a 25°C. Nesse contexto, nas regiões de clima frio, evitar as temperaturas abaixo do mínimo suportado pela cultura, e nas regiões de clima quente, o ano todo, com uso da irrigação. Deve-se evitar, porém, as épocas de chuvas intensas.
No Centro-Sul, o plantio durante a primavera-verão, com temperaturas adequadas, porém com pluviosidade excessiva, não produz frutos de boa qualidade. Já a semeadura durante o outono, desde que a temperatura não se torne fator limitante, oferece condições para se obter alta produtividade e boa qualidade de frutos.
É importante planejar o plantio de maneira que a direção dos ventos facilite o posicionamento das ramas de melancia, evitando-se, assim, o desgaste das plantas por sucessivas operações de penteamento ou movimentação pelos ventos.
Durante a colheita e o transporte, os frutos devem ser manuseados com cuidado a fim de evitar qualquer tipo de ferimento, que pode comprometer a aparência, a firmeza, o sabor e a vida útil da melancia.
Novidades
Os híbridos apresentam vantagens sobre os cultivares tradicionais, como plantas mais vigorosas e ciclo precoce para a colheita, quantidade elevada de flores femininas e produção de grande número de frutos por área e com melhor qualidade.
O cultivo de melancia temporariamente protegido, associado às coberturas do solo (mulching): normalmente se usa o plástico de dupla face (branco/preto ou prateado/preto), mas é possível o uso da cobertura do solo com materiais de origem vegetal (uma boa alternativa para a produção familiar).
Este sistema de cultivo, quando engloba os princípios da produção integrada, tem boa eficiência no controle das principais pragas e retarda o surgimento de algumas viroses, como também diminui a aplicação de agroquímicos para controle dos insetos-pragas, além de reduzir o uso de água e de capinas.
Para a cobertura temporária da parte aérea das plantas com agrotêxtil (manta de TNT, gramatura de 15 g/m2, cor branca), faz-se necessário cobrir o solo com mulching (cobertura morta) para evitar o desenvolvimento de plantas espontâneas e reduzir as perdas de água em torno de 20%.
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Melancia sem sementes
Tecnicamente denominada de ‘melancia triploide’, normalmente são cultivares com frutos menores (1,5 kg a 3 kg). É exigido no mercado de exportação, muito apreciado no mercado interno pelos consumidores de maior poder aquisitivo ou em famílias com número reduzido de pessoas.
Enxertia em melancia
Atualmente, a enxertia em melancia é praticada em várias partes do mundo, para solucionar os problemas ocasionados por esses patógenos. Na Europa, sua utilização é cada vez mais frequente, destacando-se, a Espanha, como o país em que praticamente todo o cultivo de melancia ocorre com mudas enxertadas em híbrido de Cucurbita spp.
A Embrapa Semiárido tem trabalhado no melhoramento genético, visando ao desenvolvimento de porta-enxertos de abóbora e de Citrullus spp., compatível com as principais cultivares de melancia utilizadas nas áreas de produção, com resistência a doenças e adaptados às condições semiáridas.
Inicialmente, a principal finalidade da enxertia em melancia era a tolerância aos patógenos do solo, entretanto, outros benefícios podem ser obtidos, como maior absorção de nutrientes, melhor eficiência no uso da água, aumento da tolerância a temperaturas extremas, a salinidade, ao encharcamento, proporcionando assim melhor rendimento e qualidade dos frutos.
Como, normalmente, o cultivo da melancia é feito com o plantio de sementes, os produtores nacionais ainda apresentam restrição devido ao custo das mudas enxertadas e a incompatibilidade entre enxerto e porta-enxerto, que necessita de mais trabalhos de pesquisas.
Os ganhos com a qualidade dos frutos, a melhoria da absorção de água e no conteúdo mineral na parte aérea é atribuída às características físicas do sistema radicular, tais como desenvolvimento vertical e lateral, que resulta em uma maior captação de água e sais minerais, sendo este um dos principais motivos para o uso generalizado de plantas enxertadas.
Além da diminuição do uso agrotóxicos, principalmente para as doenças do sistema radicular, as plantas enxertadas podem resistir a condições ambientais mais estressantes, como déficit hídrico.
Nichos de mercado
Os compradores internacionais da melancia são, em especial, os Países Baixos, Reino Unido, Argentina e Espanha. Os envios de melancia são intensificados a partir do mês de setembro.
As cotações médias (de abril a outubro) estiveram em R$ 0,66/kg para a melancia graúda (>12 kg). Com isso, a rentabilidade/kg de fruto registrada na safra 2018 foi superior à de 2017, com cotações 66,3% acima dos custos médios.
Considerando diversos mercados nacionais, no início de dezembro/2018 os preços do quilo da melancia atingiram as seguintes cotações: R$ 0,40 (Juazeiro-BA), R$ 0,56 (São Paulo-SP), R$ 0,80 (Uruana-GO) e R$ 0,90 (municípios de Tocantins; Salvador-BA).
Custo
Como o Brasil é um país de dimensões continentais e com grande diversidade climática e de solo, há muitos sistemas de produção adotados para o cultivo da melancia, com uso de cultivares de polinização aberta e de híbridos, incluindo cultivos irrigados e de sequeiro, produção familiar e cultivos altamente tecnificados.
É importante ressaltar que, também, os estresses bióticos que afetam a cultura são muito variados, o que explica as grandes diferenças na produtividade e nos custos nos diferentes sistemas de cultivos encontrados nas diferentes regiões do País.
Mas, podemos considerar o custo médio da produção irrigada de melancia no Submédio do Vale do São Francisco de R$ 13.000/ha (considerando semente de cultivar híbrida e taxa de administração).
Rentabilidade
Os produtores de melancia têm que pensar em aumentar a produtividade para ter maior rentabilidade comercial. Os custos de produção para os produtores de melancia no Submédio do Vale do São Francisco, que utilizam a irrigação localizada e se especializaram nesta olerácea, são de R$ 12.556/ha.
Deste total, 94% correspondem às despesas de produção e cerca de 6% são com outros custos inerentes ao empreendimento agrícola irrigado — impostos, custo da terra, depreciação do sistema de irrigação e administração.
No entanto, é muito comum que o próprio produtor seja também o administrador, e não gaste com assistência técnica. Considerando uma produtividade média de 35 t/ha, que foi comercializada por um preço médio de R$ 0,40/kg, a rentabilidade foi em torno de 10,3%. Mas em outras áreas produtoras do nordeste brasileiro, estima-se que a rentabilidade média seja de 35%, enquanto no Centro-Oeste superam esses valores.
A depender das condições climáticas e da cultivar, o ciclo pode variar de 65 a 100 dias após plantio. Em média, está em 75-85 dias. Lembrando que no verão é quando ocorre a maior demanda.