Autores
Regina Maria Quintão Lana
Professora de Fertilidade e Nutrição de Plantas – Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
Mara Lúcia Martins Magela
Doutoranda em Agronomia – UFU
maralumm@hotmail.com
Raphael Passaglia Azevedo
Doutorando em Ciência do Solo – PPGCS/UFLA
A cultura da cenoura destaca-se no cenário da produção agrícola brasileira como uma das principais hortaliças cultivadas. Trata-se de uma olerícola de grande aceitabilidade no mercado, sendo apreciada pelas suas características nutricionais, principalmente em relação ao alto teor de vitamina A e também devido a sua textura e palatabilidade. No Brasil, as principais regiões produtoras estão concentradas no Sudeste, Nordeste e Sul do País.
Desafios
Dentre os vários desafios de condução da cultura nessas regiões, o manejo da fertilidade do solo e o suprimento adequado dos nutrientes, destacam-se como algumas das práticas fundamentais para obtenção de altas produtividades.
Neste contexto, existem diversas fontes de fertilizantes disponíveis no mercado para atender essas demandas nutricionais. Dentre as opções de fertilização das culturas encontram-se os fertilizantes minerais, que são fontes inorgânicas de nutrientes originados de produtos do petróleo e de rochas.
Esse tipo de fertilizante proporciona rápida absorção dos nutrientes essenciais, mas ao mesmo tempo são facilmente perdidos pelos processos de lixiviação do nitrogênio e potássio, volatilização da ureia e adsorção do fósforo, causando contaminação dos corpos d’água e do solo. A liberação rápida e imediata dos nutrientes desses fertilizantes minerais acarreta em sua baixa eficiência de utilização, podendo ainda causar salinização e perdas na produtividade.
Em contrapartida, sabe-se que a cenoura requer um solo de textura média, de boa estrutura e permeabilidade, além de níveis adequados de nutrientes e pH em torno de 6,0. Todas essas características são obtidas e potencializadas através do uso de matéria orgânica.
Organominerais
Nesse sentido, os fertilizantes organominerais têm demonstrado excelentes resultados para a condução de um manejo da fertilidade mais racional e sustentável nas hortaliças. Esses fertilizantes são resultado da combinação de fontes minerais e fontes orgânicas que podem ter origem animal ou vegetal.
Trata-se de uma tecnologia capaz de fornecer nutrientes às culturas de forma mais eficiente devido a sua particularidade de proporcionar um processo de liberação lenta e/ou gradativa desses nutrientes (slow release). Isso ocorre devido à proteção que a matriz orgânica confere à fonte mineral do fertilizante.
Essa maior eficiência na disponibilização dos nutrientes pelos fertilizantes organominerais em relação às fontes exclusivamente minerais pode possibilitar, ainda, a redução de doses. Além disso, essa composição orgânica dos organominerais traz benefícios para as propriedades físicas, químicas e microbiológicas do solo e, consequentemente, contribui para a construção de solos agricultáveis mais férteis e equilibrados.
Pesquisas
Os fertilizantes organominerais têm sido pesquisados pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) em parceria com a empresa de fertilizantes organominerais VigorFert em diversas culturas, como hortaliças e cereais.
Dentre as pesquisas desenvolvidas, avaliou-se a produtividade em cenoura de inverno (Nancy) e a marcha de absorção de N, P, K, Ca e Mg, utilizando-se duas doses do fertilizante organomineral 04-20-05, sendo 3.500 kg ha-1 da formulação e 1.400 kg ha-1, que correspondeu a 40% da recomendação. Utilizou-se como controle o fertilizante mineral na dosagem 2.500 kg ha-1 da formulação 02-28-06.
Foi demonstrado que com a redução para 40% da dose de P com organomineral obteve-se produção total e comercial de cenoura semelhante à dose total com adubação exclusivamente mineral .
Ainda neste trabalho, Lana e Azevedo (2016), analisando a marcha de absorção do N nas folhas e nas raízes das plantas fertilizadas com organomineral, observaram que o N nas folhas foi maior na dose mais elevada com organomineral.
Aproximadamente após 80 dias da semeadura (DAS), o fertilizante organomineral resultou em um maior teor de nitrogênio e fósforo nas folhas e nas raízes em comparação ao mineral (Figuras 2 e 3). Para o nitrogênio, isso se deve ao efeito slow release do fertilizante organomineral e para o fósforo a proteção da matriz orgânica reduz a fixação do P. A matéria orgânica potencializa o poder tampão, resultando no aumento e no equilíbrio dos nutrientes.
O nitrogênio tem função estrutural constituindo aminoácidos, proteínas, enzimas, clorofila, ADP e ATP, além de participar de processos de absorção iônica, fotossíntese e respiração.
Poder do fósforo
O fósforo participa no controle hormonal para o crescimento das plantas, auxiliando na síntese de ácidos nucléicos, na ativação e desativação de enzimas. Também tem papel importante na fixação de nitrogênio, na composição de amido, proteína solúvel, sacarose e glicose e interfere na produção de raízes e sementes.
A concentração de K nas raízes foi maior na dose de 3.500 kg ha-1 (04-20-05) do fertilizante organomineral em relação ao mineral (02-28-06) (Figura 4). O K atua na regulação osmótica, no balanço de cátions/ânions, na fotossíntese, na abertura e fechamento dos estômatos e nas relações hídricas na planta. Além de influenciar no aproveitamento do nitrogênio, o K também melhora a qualidade do produto final.
A nutrição adequada com NPK reduz os estresses bióticos e abióticos da planta, canalizando, com isso, maior energia para a produção.
Resultados
O fertilizante organomineral proporcionou maior concentração de Ca nas folhas e nas raízes, destacando-se que a dose reduzida do fertilizante organomineral (1400 kg ha-1 de 04-20-05) proporcionou valores maiores deste nutriente nas raízes, comparado com a fonte mineral (Figura 5).
O Ca tem função importante na formação da parede celular, aumentando a resistência mecânica dos tecidos. Também é requisitado nos processos de elongação e divisão mitótica celular, afetando diretamente o crescimento radicular da cenoura e, consequentemente, a produtividade.
O fertilizante organomineral (3500 kg ha-1 de 04-20-05) proporcionou concentrações de Mg nas folhas e nas raízes maiores que o fertilizante mineral, a partir de 80 dias após a semeadura, indicando que a proteção dos nutrientes dada pela matéria orgânica promoveu a liberação gradual do Mg. A aplicação de 40% do fertilizante organomineral (1.400 kg ha-1 de 04-20-05) acarretou em uma absorção de Mg pelas raízes, equivalente ao do fertilizante mineral (Tabela 5B).
O Mg tem interação positiva com o P; desempenha papel importante na formação de raízes e no aumento do sistema radicular. É essencial para a formação de clorofila e fotossíntese; para o balanço de cátions na planta, participando de processos de sínteses orgânicas, balanço eletrolítico e estabilidade dos ribossomos. Permite uma melhor resistência às condições adversas externas reduzindo estresses da planta.
O fertilizante organomineral proporcionou produtividade e absorção dos nutrientes adequados para a cultura da cenoura, sinalizando a possibilidade de uso de doses mais baixas do fertilizante organomineral, sem afetar a produtividade e qualidade do produto final. Isso se deve aos efeitos benéficos da matriz orgânica nas propriedades físicas, químicas e microbiológicas do solo, bem como na fisiologia e metabolismo da planta.