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Hora de escolher o clone de eucalipto mais adequado

Autores

João Flávio da Silva
Engenheiro florestal, mestre e doutor, melhorista florestal da Eldorado Brasil
joao.silva@eldoradobrasil.com.br
José Geraldo Mageste Silva
Engenheiro florestal e professor da Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
jgmageste@ufu.br

A escolha do clone é de suma importância para o sucesso de um projeto de produção de madeira de eucalipto. Esta escolha deve acontecer muito antes de se iniciar a instalação do povoamento.

As organizações florestais brasileiras contam com orientações técnicas de nível elevado, muitas vezes com melhoristas florestais em seus quadros que trabalham e indicam materiais genéticos apropriados para as várias condições edafoclimáticas da empresa.

No entanto, os “fazendeiros florestais” precisam correr atrás de segurança para esta valiosa tomada de decisão. Não podem somente acreditar nos viveiristas, que em muitos casos estão ansiosos para vender as mudas que possuem, sem se preocupar com as variações genéticas, que são de suma importância para a produtividade final do projeto. 

Muitos estão plantando clones ou até mesmo espécies que não são próprias para aquela região, podendo, em determinada idade, ter grande mortalidade ou até acontecer a perda total da produção. Esquecem-se que a madeira produzida, muitas vezes, pode não atender ao fim desejado que naquele momento está demandando o mercado.

Daí, já é claro que a definição do clone ou do material genético a ser usado no povoamento deve acontecer de acordo com a finalidade da madeira a ser produzida, e as características de solo e clima do local de estabelecimento do projeto.

Madeira para fins energéticos (cavacos, principalmente) deve vir de clones de maior densidade de base (maior concentração de lignina). Madeira para produção de celulose e papel deve vir de clones de menor densidade. Madeira para postes (estacas) deve vir de espécies (plantio de mudas vindas de sementes) como Corymbia citriodora ou E. cloeziana.

Para minimizar ao máximo esses riscos, é necessário usar material genético adequado e apropriado para as mais diversas classes de solos, índices pluviométricos e uso da madeira.

Sobre os clones de eucalipto

É preciso entender que clones não são espécies florestais. Aliás, os clones podem vir de uma espécie ou de cruzamentos destas (híbridos), mas são materiais genéticos homogêneos ou idênticos.

Um clone “nasce” da observação do melhorista sobre determinado material genético (indivíduos adultos) que se destaca pela produtividade, pela resistência a determinada doença ou outra característica desejável de interesse dele (Gomes, 2002).

Diante deste material genético, o melhorista procura fazer a multiplicação assexuada (produção de mudas por estaquia ou por brotação), produzindo milhares de mudas geneticamente idênticas (Gomes & Paiva, 2004).  Ele “batiza” este material com um nome que lhe convier. Por exemplo: GG 100 – clone criado na Gerdau na década de 90. Depois ele desenvolve vários estudos com este clone, testando o comportamento em diferentes ambientes edafoclimáticas, conhecendo suas limitações e exigências.

Por último, ele registra sua “criatura” no Registro Nacional de Proteção Cultivares (RNPC), que fica subordinado ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Meio Ambiente (MAPA). Então, diz-se que o clone está protegido (por até 18 anos). Quem quiser multiplicar este material genético deve pagar royalties ao criador (isto é feito, inclusive, por viveiristas).

Não se engane

Erroneamente tem sido citado no meio agropecuário brasileiro o uso de uma espécie chamada “urograndis”. Esta citação é errada, porque não existe esta espécie. Existe um híbrido resultado do cruzamento controlado entre as espécies E. urophyla com E. grandis, que compõe determinado clone. 

Aliás, existe até mais de um híbrido, com boas produtividade e boa elasticidade (tolera pequenas variações climáticas com igual produtividade). São exemplos de nomes de clones de eucalipto: 2864 (E. saligna), 4039 (E. saligna), 4622 (E. urophylla), 6872 (E. globulus), 7423 (híbrido E. urophylla x E. globulus) e 18 (E. dunnii). Todos estes são indicados e já foram testados na região sul do Brasil para produção de celulose e papel.

Vantagens dos clones

Os clones proporcionam a formação de um povoamento totalmente uniforme, tanto em altura quando em diâmetro das árvores. Comparativamente ao uso de um plantio de mudas oriundas de sementes, onde existe variação genética entre os indivíduos, a produtividade pode ser maior. 

Além do mais, não existirão árvores dominantes, prejudicando a produtividade das demais. Geralmente clones são bons de crescimento inicial (podem atingir até 2,5 m de altura no primeiro ano) e chegam ao máximo índice local (site index) em pequena idade.

O mais interessante é que no clone está manifestada a característica desejada pelo melhorista. Por exemplo, se houve o cultivo de um híbrido para produção de óleo essencial, todos os indivíduos clonados terão esta produtividade maximizada. Se houve uma seleção clonal para resistência à seca (veranicos), esta característica se sobreporá em relação aos demais material genéticos.

Como saber qual melhor clone a se plantar?

Além da definição antecipada para a finalidade que se deseja instalar o povoamento florestal (postes, dormentes, construção civil, moirões, óleo essencial (citronela), lenha, carvão, celulose, chapas de fibras, etc.), o silvicultor deve conhecer adequadamente as condições edafoclimáticas do local de instalação.

Uma das características mais importantes é o regime pluviométrico e as condições do solo (arenoso, argiloso, fertilidade boa, média, etc). Clones são desenvolvidos principalmente para atender estas variações.

É muito comum um produtor afirmar: “eu quero plantar um clone que serve para tudo isto”. Se alguém lhe atender com esta pressuposição, pode estar certo de que foi enganado. Não existem clones que servem para tudo e para qualquer condição climática. Uma consulta ao RNPC pode lhe ajudar na escolha do clone a ser usado. Atente-se ainda para adquirir mudas de viveiristas idôneos.

Procure encomendar suas mudas com boa antecedência (uma boa muda clonada pode ser produzida em até 120 dias).

Foco

Como dito anteriormente, qualquer espécie de eucalipto poderá produzir um clone. Mas, o mais comum, é o melhorista fazer cruzamentos direcionados para produzir híbridos de seu interesse, privilegiando características como densidade, teor de lignina, resistência à seca, forma do tronco, etc., mesmo porque nem todas as espécies de eucalipto são capazes de cruzar entre si. Elas devem pertencer ao mesmo grupo de classificação genética. Por exemplo, E. urophylla cruza com E. grandis, mas não cruza com C. torelliana.

Para um fim específico

O termo “fins comerciais” precisa ser melhor exercitado na prática. Teoricamente, toda madeira pode ser queimada ou transformada em carvão, por exemplo. Só que umas produzirão mais calor que outras; como também poderão produzirão carvão de diferentes densidades.

Um metro cúbico de carvão (mdc) de E. grandis não chega a 180 kg, enquanto igual volume de E. cloeziana pesa em torno de 280 kg. E o carvão é comercializado por peso e não por volume. Logo, povoamentos de E. cloeziana (que é muito suscetível ao ataque de lagartas) devem ser preferidos para carvoejamento.

Existem clones muitos plásticos, como o I 144, que pode ser plantado em toda Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Goiás. Nestes locais existirá a expressão máxima de vigor gênico deste clone. Ele é indicado para produção de carvão de média a baixa densidade. No entanto, se ele for plantado em outras regiões, como Espírito Santo e Sul da Bahia, poderá ser dizimado pela doença de nome ferrugem das mirtáceas (família do eucalipto).

Existe um clone que não está mais protegido (RNPC), de nome GG 100, que é muito plástico (adapta-se bem em várias condições). No entanto, ele não deve ser preferido para produção de celulose.

O melhor é uma consulta detalhada ao RNPC ou às empresas regionais que já possuem experiências com implantação de povoamentos de eucalipto. Consulte um engenheiro florestal especialista em melhoramento de eucalipto. Esta será sempre a informação mais segura na hora de escolher o clone para plantio.

E atenção, nunca pense em fazer um povoamento com vários clones. Eles possuem diferenças de velocidade de crescimento, exigências nutricionais, espaçamentos, etc. Essa mistura nunca dará bom resultado.

Custo x benefícios

Mudas são muito baratas em relação ao custo total do investimento. Em muitos casos, não chega a 3% do custo final de implantação. Então, não há porque economizar na aquisição de mudas de boa qualidade, de material genético mais indicado para o fim desejado. 

Não temos tradições silviculturais, e isto implica em ter que correr atrás de informações ou até pagar por elas. Silvicultura não é como agricultura, tem seus riscos e suas nuances. Um exemplo pouco explorado é a utilização múltipla da madeira de uma árvore, destinando partes mais grossas para determinado uso e partes mais finas para outros (Mageste et al, 2018).

Por outro lado, ninguém gosta de correr riscos de investimentos no Brasil. Pode ser que tenha havido um investimento em madeira para carvão e na época de colheita o carvão esteja ruim de preço. Mas, foi o risco do investimento. Não se pode generalizar dizendo que produzir madeira é sempre bom ou sempre ruim.

“Os clones proporcionam a formação de um povoamento totalmente uniforme, tanto em altura quando em diâmetro das árvores”

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