17.5 C
Nova Iorque
domingo, novembro 24, 2024
Início Revistas Grãos Como alcançar eficiência no controle da lagarta-do-cartucho

Como alcançar eficiência no controle da lagarta-do-cartucho

Autores

Luciano Bastos Moreira
Mestrando do Programa de Pós-graduação em Entomologia – Universidade Federal de Lavras (UFLA)
lucianoauburn@gmail.com
Geraldo Andrade Carvalho
Bruno Henrique Sardinha de Souza
Professores do Departamento de Entomologia – UFLA

A cultura do milho é atacada por diversas pragas ao longo de seu desenvolvimento, e geralmente causam danos significativos à lavoura, levando a perdas em produtividade e, consequentemente, redução na produção. Entre as principais pragas que atacam a cultura do milho, destaca-se a Spodoptera frugiperda, conhecida popularmente como lagarta-do-cartucho ou lagarta-militar.

Incidência

A proliferação da lagarta-do-cartucho em campo é favorecida por vários fatores, como o sistema e época de semeadura, bem como pelo sistema de irrigação. O sistema de plantio direto propicia uma barreira física que serve de proteção para a pupa dessa praga.

Salienta-se que em lavoura irrigada ocorre maior mortalidade das lagartas por afogamento. Geralmente, menores populações da praga ocorrem em plantios de milho na primeira safra, sendo que as infestações são maiores no milho safrinha, devido ao menor regime de chuvas e presença de lagartas remanescentes da primeira safra, no caso de plantio sucessivo de milho.

Culturas atacadas

Altas temperaturas combinadas com alta umidade relativa do ar também favorecem o desenvolvimento dessa praga. A lagarta-do-cartucho tem como hospedeiro preferencial o milho, entretanto, vem atacando um grande número de culturas, como soja, algodão, arroz, cana-de-açúcar e hortaliças.

O ciclo completo de ovo a adulto dura cerca de 30 dias, sendo que uma única fêmea pode colocar em média mil ovos em seu curto período de vida, que dura cerca de duas semanas, de modo que a postura ocorre à noite, quando os adultos são mais ativos.

O adulto dessa praga é uma mariposa que não causa danos diretos à planta de milho, fazendo postura em folhas de plantas em fase inicial de desenvolvimento.

A postura é feita na base das plantas ou na parte superior da folha, e quando recém-eclodidas, as lagartas começam a raspar as folhas. Nesse período, as lagartas não conseguem romper todo o tecido foliar, deixando intacta a epiderme da face oposta de onde se alimentam.

Sintomas

O sintoma inicial de ataque da praga é bastante característico, sendo de fácil identificação no campo. Esse é o momento mais adequado para a pulverização de inseticidas visando ao seu controle, uma vez que essas lagartas são mais facilmente atingidas pelos produtos em função da maior exposição nas folhas, além de serem mais suscetíveis aos produtos.

À medida que as lagartas crescem, perfuram o cartucho do milho e iniciam sua alimentação nesse local. Quando estão no interior do cartucho, o controle químico tem sua eficiência reduzida, pois há grande dificuldade de os inseticidas atingirem as lagartas.

A lagarta-do-cartucho normalmente ataca somente as folhas e o cartucho da planta. Entretanto, em altas infestações podem atacar outras partes da planta, como as espigas (como a lagarta-da-espiga), e até mesmo cortar a planta na região do colo, de forma semelhante ao ataque da lagarta-rosca (Agrotis ipsilon).

A lagarta-do-cartucho é caracterizada por apresentar na região frontal da cabeça uma estrutura em forma de “Y” invertido. Essa característica é importante para diferenciá-la principalmente da lagarta-rosca, contribuindo por direcionar os produtos corretos e estratégias de manejo.

Controle

Atualmente, o método químico é o mais utilizado em lavouras de milho para controlar as diversas pragas que atacam a cultura. Porém, o mais indicado é o desenvolvimento de programas de Manejo Integrado de Pragas (MIP), buscando utilizar os vários métodos de controle de forma conjunta e compatível, objetivando melhor controle da praga com menor custo e impacto ambiental.

Nem todos os danos causados por insetos na lavoura de milho levam a prejuízos econômicos, visto que a planta pode se recuperar e produzir normalmente. Dessa forma, o monitoramento da lagarta-do-cartucho é essencial para prevenir eventuais surtos populacionais e para determinar o momento mais adequado para se empregar medidas de controle.

O monitoramento dos adultos pode ser feito instalando-se uma armadilha do tipo Delta contendo feromônio sexual para cada cinco hectares de lavoura. A instalação das armadilhas deve ser feita durante a emergência das plantas ou 15 dias após sua emergência, em caso do uso de sementes tratadas. Isso porque o tratamento de sementes com inseticidas sistêmicos protege a planta durante esse período.

O nível de controle baseado na captura de adultos (mariposas) é em média três adultos por armadilha. A amostragem de lagartas para determinação do nível de controle pode ser feita por meio da avaliação de sintomas de ataque nas folhas das plantas. As aplicações de produtos devem iniciar quando 20% de plantas apresentarem folhas com pequenas lesões circulares e lesões alongadas de raspagem de até 1,5 cm.

Genética como forma de controle

Outra tática para o controle da lagarta-do-cartucho é o uso de plantas transgênicas expressando proteínas Bt. Essa tecnologia foi desenvolvida a partir da extração de parte do DNA da bactéria de solo Bacillus thuringiensis (Bt), que contém cristais proteicos que são tóxicos às lagartas.

Ao se alimentarem de qualquer parte da planta de milho Bt, as lagartas ingerem as proteínas que, ao entrar em contato com o intestino médio do inseto, são solubilizadas e ligam-se a receptores específicos das membranas do epitélio, causando a ruptura do intestino e, consequentemente, morte das lagartas.

Muitos híbridos de milho Bt foram desenvolvidos, no entanto, o mau uso dessa tecnologia permitiu a seleção de populações resistentes de S. frugiperda. A falta de manutenção de áreas de refúgio e o uso de eventos contendo apenas uma proteína Bt e em baixa dose contribuíram para rápida seleção de populações resistentes.

Naturalmente, em qualquer agroecossistema existem indivíduos que são resistentes aos mais variados princípios ativos de inseticidas e proteínas Bt. Aqueles que possuem genes que conferem resistência a proteínas Bt, por exemplo, naturalmente passam esse gene para seus descendentes, visto que a proteína é absorvida no intestino mediano, transportada por meio da hemolinfa e, por fim, depositada no corpo gorduroso, mais precisamente em células denominadas trofócitos.

Desta forma, como o inseto apresenta genes que conferem resistência às proteínas, não vai sofrer nenhum tipo de injúria ao ser exposto a elas. Quando atingem a fase adulta, transferem essa proteína que foi armazenada no corpo gorduroso para os ovos, uma vez que os trofócitos participam da formação do vitelo do ovo (estrutura que nutre o embrião).

Dessa forma, esses insetos estarão expostos às proteínas Bt desde a fase de ovo, o que intensifica a pressão de seleção de insetos resistentes. Assim, plantas transgênicas Bt devem ser monitoradas quanto à susceptibilidade às lagartas e, se for o caso, pulverizadas com inseticidas.

Uma solução para contornar casos de resistência tem sido por meio de eventos transgênicos piramidados (estratégia da piramidação de genes), que nada mais é que a combinação de diferentes genes (proteínas) com diferentes modos de ação em um único híbrido. A integração dessas estratégias de manejo da resistência é essencial para a manutenção da durabilidade dos eventos transgênicos.

Biológicos

Quanto a outros métodos de controle da lagarta-do-cartucho, o controle biológico vem crescendo, sendo que o predador Doru luteipes, conhecido popularmente por tesourinha do milho apresenta grande potencial na regulação populacional da praga.

Uma única tesourinha chega a se alimentar de cerca de mais de 8 mil ovos dessa praga durante todo o seu ciclo de desenvolvimento. Alguns trabalhos mostram que a presença desse predador em 70% das plantas de milho já é suficiente para manter a lagarta-do-cartucho abaixo do nível de dano.

Outro inimigo natural importante para a cultura do milho pertence ao gênero Trichogramma e vem sendo comercializado e recomendado para duas a três liberações em lavouras de milho na proporção de 120.000 fêmeas/ha.

Além do controle biológico com predadores e parasitoides, outra forma biológica de controle da lagarta-do-cartucho pode ser por meio da pulverização de bioinseticidas à base de baculovírus e Bacillus thuringiensis. Ambos bioinseticidas são de contato e ingestão, e são geralmente seletivos aos inimigos naturais presentes na cultura do milho.

A aplicação de biopesticidas deve ser feita sempre que a praga alcançar o nível de controle, ou mesmo de forma preventiva. Como em muitas regiões o ataque de lagartas se inicia pouco tempo após a emergência das plantas, os primeiros sinais do ataque devem ser rapidamente identificados para que as aplicações desses microrganismos sejam feitas, uma vez que levam alguns dias a mais para causarem morte das lagartas em comparação com inseticidas químicos.

Controle químico

No que diz respeito ao método químico, há grande número de inseticidas registrados para o controle da lagarta-do-cartucho, os quais podem ser aplicados via pulverização, insetigação (água de irrigação) ou em drench (esguicho na base da planta).

Os compostos devem ser aplicados por meio de pulverizadores providos de bicos tipo leque e o jato deve ser dirigido para a região do cartucho da planta, de preferência utilizando maior pressão ou pontas que produzem gotas maiores para que não evaporem e atinjam o alvo correto que é o cartucho do milho.

As aplicações devem ser feitas sempre no início da manhã ou ao final da tarde, respeitando as condições de umidade e velocidade de vento para manutenção da eficiência de controle. Os principais grupos químicos de inseticidas usados na cultura do milho para o controle da lagarta-do-cartucho são os carbamatos, benzoifenilureias, espinosinas, organofosforados, piretroides e diamidas.

Salienta-se que todos os inseticidas devem ser utilizados de preferência de forma integrada ao controle biológico. Para isso, é recomendada a utilização de inseticidas seletivos, isto é, que não causam efeitos negativos aos organismos benéficos na lavoura.

É importante ressaltar que a tecnologia de aplicação de produtos é um fator muito importante para o sucesso de controle, sendo que a escolha e manutenção de bicos de pulverização, bem como de bombas, além do uso da pressão correta para cada tipo de ponta de pulverização é de suma importância para o sucesso no controle da lagarta-do-cartucho.

- Advertisment -

Artigos Populares

Chegam ao mercado sementes da alface Litorânea

Já estão disponíveis no mercado as sementes da alface SCS374 Litorânea, desenvolvida pela Estação Experimental da Epagri em...

Alerta: Patógenos de solo na batateira

Autores Maria Idaline Pessoa Cavalcanti Engenheira agrônoma e Doutoranda em Ciência do Solo – Universidade Federal da Paraíba (UFPB) idalinepessoa@hotmail.com José...

Maçãs: O que você ainda não sabe sobre a atividade

AutoresAike Anneliese Kretzschmar aike.kretzschmar@udesc.br Leo Rufato Engenheiros agrônomos, doutores e professores de Fruticultura - CAV/UDESC

Produção de pellets de última geração

AutorDiretoria Executiva da Brasil Biomassa Pellets Brasil Crédito Luize Hess

Comentários recentes