Autor
Jéssica E. R. Gorri
Engenheira agrônoma, mestre em Produção Vegetal e doutoranda em Proteção de Plantas – UNESP/Botucatu
gorrijer@gmail.com
Vanessa Alves Gomes
Engenheira agrônoma, mestre em Fitopatologia e doutoranda em Proteção de Plantas – UNESP/Botucatu
vavvgomes@gmail.com
Ronaldo Machado Junior
Engenheiro agrônomo, mestre em Fitotecnia e doutorando em Genética e Melhoramento – Universidade Federal de Viçosa (UFV)
ronaldo.juniior@ufv.br
A mosca-branca (Bemisia tabaci Gennadius 1889) (Hemiptera: Aleyrodidae) é considerada um dos insetos de maior importância na agricultura. Na cultura do feijão (Phaseolus vulgaris L.), os danos causados pela praga podem ocorrer de forma direta e indireta.
Os danos diretos são aqueles decorrentes da sucção de seiva, ou seja, da alimentação do inseto. Neste caso, as folhas ficam com pontuações amareladas, e dependendo do índice de infestação, a área foliar pode ser comprometida.
Além disso, a secreção de substâncias açucaradas (honeydew) favorece o desenvolvimento do fungo Capnodium sp., sendo o sintoma popularmente denominado de fumagina, o que é considerado dano indireto. As folhas sintomáticas ficam escurecidas e reduzem a capacidade fotossintética, comprometendo a produtividade da cultura.
Apesar dos potenciais prejuízos decorrentes do desenvolvimento de fumagina, é a transmissão de virose o principal dano indireto associado à mosca-branca na cultura do feijoeiro. A planta infectada com o vírus, normalmente, torna-se menos produtiva que as plantas sadias em função de alterações morfológicas e fisiológicas, causando redução da produção e porte da planta.
Folhas encarquilhadas e amarelas entre as nervuras em forma de mosaico são exemplos da manifestação dos sintomas de uma planta infectada com o geminivírus. Esta praga é capaz de transmitir mais de 200 espécies de vírus, grande parte com significativo impacto econômico na produção de diversas culturas.
Com todos estes danos, a produção é afetada em larga escala e a planta pode sofrer alterações nas suas fases vegetativa e reprodutiva, reduzindo drasticamente o porte da planta, e, consequentemente, o número de vagens e grãos. As vagens e grãos são deformados, as sementes perdem a coloração e seu peso é reduzido.
Culturas prejudicadas
Este inseto possui um grande número de plantas hospedeiras, dentre as quais muitas são de interesse econômico. Ela afeta hortaliças como tomate, pimentão, repolho, melão e abóbora, culturas como feijão, algodão e soja, bem como plantas ornamentais, como a poinsétia.
Outro problema enfrentado é o fato da praga também ter como hospedeiro plantas daninhas. Isto faz com que os insetos permaneçam no campo na presença e ausência da cultura implantada e aumentem sua população rapidamente, pois não há uma interrupção do ciclo de vida da praga.
Identificação e sintomas
Um dos fatores que contribui para a complexidade de sua correta identificação e manejo é o fato de existir hoje um complexo de biótipos. O biótipo B é o mais agressivo, mas ainda é limitada a distinção dos biótipos com base apenas na sua morfologia.
Quando a população está elevada no campo é possível ver a revoada das moscas sobre as plantas. Em casos onde há a sucção da seiva da planta não é possível observar danos nas plantas do feijoeiro.
Sintomas são observados quando a mosca-branca atua como vetor e ocorre a transmissão do vírus. Folhas com a presença do vírus apresentam mosaico dourado, e os sintomas ficam nítidos quando a planta apresenta quatro folhas trifoliadas (cerca de 25-30 dias).
No feijoeiro as folhas ficam com coloração amarelo-intenso, sendo chamado de mosaico dourado-brilhante. Os sintomas iniciam-se nas folhas mais novas, com pequenas pontuações amarelas, que com o tempo atingem a planta toda. Pode-se observar, também, o enrolamento de folhas novas e uma rugosidade. Quando o vírus atinge plantas jovens (até 20 dias de idade), os danos são mais severos e prejudicam a produção
Condições para a praga
Este inseto-praga sofre alterações no seu ciclo de acordo com as condições climáticas. A temperatura é fundamental para todo o ciclo de vida da mosca-branca, sendo capaz de influenciar na longevidade do inseto e na oviposição.
Em temperaturas mais baixas, em torno de 16ºC, o ciclo se completa em 70 dias. Já com temperaturas mais elevadas, de aproximadamente 25ºC, ele diminui drasticamente e dura apenas 22 dias. O clima seco também favorece o aparecimento da praga, e em condições de baixa umidade a proliferação é favorecida, isto porque chuvas intensas e constantes dificultam o uso de agrotóxicos nas lavouras. Deste modo, é importante realizar as medidas de controle nos períodos de baixa pluviosidade.
Regiões mais afetadas
Moscas-brancas são insetos sugadores que se alimentam do floema das plantas, tanto na fase imatura (ninfas) como na fase adulta. Deste modo, as partes mais afetadas são as folhas, onde as colônias se estabelecem na face inferior, de preferência no baixeiro das plantas.
A fácil proliferação da mosca-branca é proporcionada por fatores simples que ocorrem naturalmente, sendo de extrema importância aprender a lidar com eles para reduzir o aumento populacional da praga. Uma das principais características que fazem a mosca-branca ter o título de uma praga de difícil controle é seu hábito de polifagia, ou seja, ela possui uma vasta gama de hospedeiros, entre eles diversas plantas daninhas, o que dificulta ainda mais o seu manejo por constituírem refúgio para a praga até que o feijão seja implantado.
Outro ponto importante é a época de semeadura pois, dependendo do tipo de safra, a cultura do feijoeiro pode enfrentar altas temperaturas e excessos ou falta de chuva, dois fatores que influenciam na proliferação da mosca-branca. O desenvolvimento da praga varia em função do clima, dessa maneira, quanto mais quente, menor será o ciclo da praga e como consequência há o aumento do número de gerações deste sugador na lavoura.
O clima seco também favorece a multiplicação da praga, tornando as regiões do centro-oeste, norte e nordeste áreas de alerta para os produtores. Porém, em épocas de muita chuva o produtor encontra dificuldade para aplicar defensivos nas lavouras, sendo que para um bom controle, quanto mais cedo for possível erradicar as primeiras infestações, mais bem-sucedido será o controle, o que não acontece em períodos de muita pluviosidade.
Formas de controle
Dentre os principais métodos de controle da mosca-branca, destacam-se: o cultural, químico, biológico e por meio do melhoramento genético.
9 Controle cultural: no feijoeiro, as principais medidas de controle cultural são práticas como erradicação de plantas daninhas hospedeiras e adoção do vazio sanitário proposto pelo MAPA (medida legislativa e cultural). Esse período geralmente ocorre em setembro/outubro em regiões com elevadas perdas na produção. Seu objetivo é a quebra do ciclo reprodutivo da mosca-branca, que tem pico populacional em época de altas temperaturas e baixa umidade.
9 Controle químico: para auxiliar no manejo da população de mosca branca, o controle com moléculas sintéticas divide-se em dois tratamentos – tratamento de semente e pulverização foliar. Atualmente, 70 produtos apresentam registro para controle da B. tabaci biótipo B na cultura do feijoeiro. Entre eles, destacam-se os grupos dos piretroides, organofosforados, neonicotinoides, reguladores de crescimento e diamidas. Além disso, também podem ser empregados inseticidas naturais à base de óleo de neem (AGROFIT, 2018).
Apesar do vasto número de produtos recomendados para seu controle, é importante que haja rotação de ingrediente ativo, bem como dos modos de ação, visando o manejo da resistência desse inseto-praga. Todo esse conhecimento é necessário, pois trata-se de uma praga com vários estágios imaturos, e pelo fato do seu adulto alojar-se na face inferior das folhas.
9 Controle biológico: no mercado de biológicos, o fungo Beauveria vem se destacando, sendo possível a utilização em aplicações sequenciais e intercaladas com aplicação de inseticidas químicos. Sua eficiência é variável, pois é necessário ter atenção especial para a qualidade da aplicação e qualidade de calda, buscando sempre horários frescos e alta densidade de gotas para atingir o baixeiro foliar.
Portanto, fica evidente que não existe uma maneira única e eficiente que apresente um controle absoluto das pragas e evite a transmissão do mosaico-dourado-do-feijoeiro. Dessa maneira, é necessário realizar alguns métodos e recomendações em conjunto, ou seja, um manejo integrado de pragas no feijoeiro (MIP), como descrito a seguir:
º Respeitar o vazio sanitário;
º Escolha da época de semeadura, respeitando as condições climáticas de cada região;
º Utilizar cultivares resistentes ao mosaico-dourado-do-feijoeiro;
º Tratamento de semente;
º Monitoramento frequente com equipe de profissionais capacitados;
º Rotacionar o ingrediente ativo dos inseticidas;
º Compreender as possíveis tecnologias de aplicação para aumentar o sucesso em atingir o alvo durante as aplicações;
º Introduzir novas técnicas de controle, por exemplo: controle biológico;
º Erradicação de plantas daninhas hospedeiras;
Técnicas para uma correta implantação de controle
Atualmente, medidas promissoras podem ser citadas, como a utilização de cultivares com alguma resistência, como por exemplo, as cultivares desenvolvidas pela Embrapa altamente resistentes ao vírus do mosaico-dourado-do-feijoeiro. Referente ao controle químico, não basta estar atento à escolha correta das novas formulações de defensivos e sua rotação de ingredientes ativos.
A tecnologia de aplicação no controle desta praga é de extrema importância devido ao hábito de ser hospedeira na parte abaxial das folhas, sendo necessário o acompanhamento de profissionais diante da escolha e condução das pulverizações.
BOX
Detalhes que fazem a diferença
Diante do que foi apresentado, fica evidente a necessidade de realizar um monitoramento do desenvolvimento e incidência da praga para que se possam tomar medidas que visam prevenir o inseto e, consequentemente, a virose, evitando assim que cause danos econômicos ao feijoeiro.
É economicamente mais viável fazer uso do monitoramento e adoção das técnicas de controle, focando em prevenção da praga, quando comparado com o controle de alta taxa populacional e elevada infestação da doença.